Daniel Candeias (A BOLA)
Daniel Candeias (A BOLA)

A BOLA FORA «Tinha um colega fanático de F1 e foi ao Grande Prémio em véspera de jogo, isto nem na 2.ª divisão»

A BOLA TV07.10.202414:41

Daniel Candeias foi formado no FC Porto, estreou-se pela equipa principal e anos mais tarde assinou pelo clube da Luz. Ainda assim, em Portugal, fez sobretudo carreira no Nacional e depois passou por vários países da Europa.

Quando gravámos a primeira A Bola Fora, em 2016, o teu filho tinha acabado de nascer e dizias-me: “Eu não tenho clube, eu sou de quem me paga.” Um dia, quando pendurares as botas, estás a imaginar-te a ser novamente adepto de futebol? Por que clube é que vais torcer?
Acho que o jogador pode simpatizar mais com o clube, mas acho que quando jogas, essa febre de seres adepto de algum clube passa-te um bocado, mas, sinceramente, eu, em Portugal não, mas eu fiquei com uma paixão enorme pelo Rangers, eu adoro ver os jogos deles, tenho lá ainda colegas de equipa, e eu, aqui em Portugal, eu simpatizo com o Porto porque foi onde eu cresci, mas já não é aquela febre. Gosto de ver um bom jogo de futebol, isso sim, mas não tenho uma febre por um clube.

 Quando estás em casa não estás constantemente a ver futebol, ou estás?
Gosto de ver futebol, e quando posso vejo futebol, mas não vejo só porque está a jogar o FC  Porto, ou só porque está a jogar o Benfica, ou o Sporting, gosto de ver um jogo de futebol, um bom jogo de futebol, e é isso que me prende à televisão.

 Aos 36 anos quais são os teus objetivos, coletivos e individuais, agora na Oliverense?
Ajudar o clube a manter-se, porque é esse o objetivo da Oliveirense. Com 36 anos quero passar a minha experiência para todos os jovens, e sinto que eles olham para mim de uma forma de aprender, aquilo que vou fazendo durante o dia-a-dia, e sinto-me muito bem. Quero jogar o máximo possível, e as coisas estão aí no caminho certo.

Lembras-te de alguma história engraçada pela diferença cultural, pela diferença social?
Tenho uma história de um jogador turco que agora até estava o ano passado no Besiktas, que era o Tayfur [Bingol] e ele é louco por Fórmula 1 e pelo Hamilton. Pediu ao treinador se o dispensava do treino para poder ir à Fórmula 1 e o treinador disse-lhe que sim. Tínhamos jogo passado um dia, faltou ao treino, foi ver a Fórmula 1 e noutro dia estava no jogo como se nada fosse. Era impensável, impensável. Até numa segunda liga. Em França tinha o meu filho a nascer e o treinador não me queria deixar ir ao nascimento do meu filho e ali deixa-te ir ver a Fórmula 1.

 Um treinador ganha pontos por dar essa benesse e saber que se calhar numa próxima vai ter o jogador mais comprometido?
Se calhar. O Gerrard, por exemplo, no Rangers se jogavas muitos jogos seguidos e tinhas aquela paragem da seleção, chegava perto e dizia-te, “olha, não te quero ver esta semana aqui, vai de férias”. Tu vais pensar, se ele me tivesse dado, por este treinador, eu daria tudo.

Tinhas mais alguma diferença cultural?
Nós aqui temos aquela coisa de ficar no balneário todos juntos, lá não é assim. Não podes tomar banho todos juntos, tens chuveiros individuais ou então tens os quartos no clube que a maior parte pega na roupa no balneário e veste-se no quarto. Se vais tomar banho tens de ir de boxers, não podes estar sem nada dentro do balneário, mas isso na parte muçulmana acho que é tudo assim.

 E há quem brinque com isso ou não há espaço para brincadeiras?
Agora já há mais espaço para brincadeiras, há uns que brincam, mas eles começam a virar a cara e tal. Em França também era muito assim, porque tens muitas pessoas também da parte muçulmana, mas praticamente é só isso. Tem a parte das rezas, mas já acho que já não cumprem tanto, se calhar como em países mais fechados, ali já é um país um pouco mais aberto nesse aspeto.

O facto de a Liliana te ter acompanhado sempre durante estes anos todos e o facto de vocês terem vivido sempre os quatro, porque muitos colegas teus têm as mulheres cá em Portugal e os filhos estão cá, até por motivos também de escola, ajudou-te sempre a manter-te fora do país e se calhar a ter uma carreira se calhar financeiramente mais estável e mais proveitosa?
Sim, a Liliana foi um suporte importante para a minha carreira, porque eu sabia que sozinho ia ser mais difícil. Eu era muito ligado à minha família e depois de começar com a Liliana as coisas foram saindo naturalmente, sentia-me mais confortável porque tinha uma pessoa sempre comigo. Depois vieram os filhos e isso ajudou-me ainda mais a crescer principalmente como homem e mais responsabilidade. Sabia que tinha de sustentar a família e isso abriu-me outras coisas para ver melhor a vida e isso sem dúvida foi importante para a carreira que tive e que tenho.

Ela acompanhou-te sempre e agora vais tu para a terra dela, que é a Maia.
Sim, é natural da Maia e desde que vim para o Porto, eu depois do futebol sempre quis viver aqui, no Grande Porto, mas depois de ter a Liliana como minha mulher, isso ainda foi mais apetecível. Eu queria morar aqui e vamos morar perto da família dela também, já que ela saiu da família por minha causa. Também merece estar no conforto dela e foi também por ela e pelas crianças que nós voltámos a Portugal.

 Quando se tem filhos dá jeito ficar a viver perto dos avós, concordas?
Sim, concordo. Estando fora não era fácil, não tínhamos ninguém para deixar as crianças. Espero que aqui seja mais fácil e acho que vai ser porque os avós também sentem falta dos netos, eram os primeiros netos, têm sempre muitas mais saudades e isso vai nos ajudar também a ter um bocadinho de tempo para nós.

Qual é o mais parecido contigo, a Maria ou o Afonso?
O Afonso mais... A Maria tem mais coisas da Liliana e eu vejo porque ela olha para a mãe como um exemplo e eu vejo isso porque quer sempre maquilhar-se, quer sempre estar bem, gosta muito de vestidos. É mais ela e o Afonso é mais ao meu lado.

Participas dessas brincadeiras de menina?
Já participei, tenho de participar, não é? Já me pintam as unhas, fazem 30 por uma linha, mas é bom entrar nessas brincadeiras com eles para criarmos memórias e eles ficam felizes.

 E o Afonso já tem algum potencial? Gosta de jogar a bola com o pai ou nem é por isso? Gosta muito de jogar à bola. Nunca forcei nada porque no início ele treinava no Alaniaspor e às vezes não queria? Mas agora deve ser por causa da escola também e ele ganhou ainda mais gosto. Ele jogava numa academia do Galatasaray e gostava e agora está a começar aqui em Portugal também.

E camisolas guardas muitas?
Troco mais camisolas com amigos, mas tenho algumas importantes que vou guardar com mais carinho. Quais? Da estreia na Champions, uma do Ronaldo no Real Madrid, uma do Dani Alves, podem pensar que é polémico, mas tenho uma dele. Tenho do Lucho, do Quaresma, do Bruno Alves, uma do Rangers. Do Simão Sabrosa quando jogava no At. Madrid. Do Walcott quando joguei contra o Arsenal, depois tenho outras mas de amigos chegados. Acho que o Afonso vai adorar, porque ele gosta muito de camisolas e vai perguntar com quem troquei e porque é que troquei.

Se tivesses a oportunidade de voltar a jogar um jogo, qual é que escolhias?
Se calhar a minha estreia como sénior, acho que vai ficar marcada para sempre, porque foi um Benfica-FC Porto. Entrei para o lugar do Raul Meireles aos 80 minutos no Benfica, empatámos 1-1.

Lembras-te de qual é que foi o jogo que me disseste em 2016?
No Real, contra o Real Madrid. Tem esse, há um Ranger-Celtic que também vai ficar sempre marcado. Jogar num estádio como o do Real Madrid, acho que todos os jogadores gostariam de experimentar isso. Tive essa oportunidade, o resultado é melhor não dizer.