Diogo Brehm, o ‘marketeer’ que  põe portugueses e alemães a rir
Diogo Brehm assistiu ao Portugal-Chéquia, em Leipzig (Foto: Miguel Nunes)

A BOLA NO EURO Diogo Brehm, o ‘marketeer’ que põe portugueses e alemães a rir

SELEÇÃO20.06.202406:35

Português de ascendência germânica tem mais de um milhão de seguidores nas redes; brinca com as diferenças culturais dos dois países; futebol ajuda a expandir a imagem lusa mas ainda lhe dizem ‘buenos dias’

Tem 30 anos, trabalha no departamento de marketing de uma fabricante alemã de pneus em Koblenz, mas tornou-se conhecido no Instagram e no Tik Tok, em cujas redes acumula mais de um milhão de seguidores, pelos conteúdos humorísticos onde as diferenças entre portugueses e germânicos estão muito presentes.

«Isto começou no início da pandemia. Ou da pandomia, como o Jorge Jesus», conta Diogo Brehm em conversa com A BOLA. O registo emerge logo nas primeiras conversas. «Eu sempre gostei de entreter pessoas. Na altura eu trabalhava em suporte de IT e também dava treinos, era PT [personal trainer]. Mas depois encontrei uma parte minha que eu não sabia que tinha, que era a de fazer as pessoas rir.»

O lado caricatural está sempre presente nos vídeos que produz, carregando nos hábitos e nas especificidades das duas culturas. Ele próprio considera-se um mix. «Tenho as coisas boas dos alemães e dos portugueses. Quais? A pontualidade dos germânicos e a empatia lusa, além do gosto pela culinária».

«A questão do tempo para os alemães é mesmo muito importante, eles dizem sempre que tempo é dinheiro e se tiverem de esperar dez minutos por alguém para lá da hora marcada é tempo em que não estão a produzir ou fazer outra coisa importante. Aqui, os semáforos passam do vermelho para o laranja antes de ir para o verde. Se no laranja não estiveres logo a arrancar eles começam a apitar porque não querem perder tempo», explica.

Quanto à questão da empatia, é algo que se esforça em mudar quem está à sua volta. «Já sabes porque vim para a Alemanha, não é?», brinca. «Nota-se que há um esforço, pelo menos nas gerações mais novas, de mudar um pouco essa imagem do alemão mais fechado, menos empático, mas os mais velhos continuam iguais», aponta, recorrendo aos trejeitos linguísticos germânicos.

Um dos trunfos humorísticos de Diogo Brehm é a entoação das palavras em alemão, carregando na fonética. Até os termos mais doces soam a uma longa trovoada. Nascido em Portugal, mas com família germânica do lado da mãe e educado no colégio alemão em Lisboa, domina a língua como um nativo. Qual é a palavra mais chata de pronunciar, questionámos: «Rindfleischetikettierungsaufgabenübertragungsgesetz». Disse-o a uma velocidade como quem pede uma bica. Para nos certificarmos, pedimos que o repetisse, o que fez de pronto. «O que significa não sei bem, mas acho que tem a ver com certificação de carne de vaca», detalha, entre sorrisos. 

Sporting e o pastel de nata

A paixão pelo futebol e pelo Sporting vem de criança. «Tive muita pena de não estar em Lisboa nos festejos do título», lamenta o também futebolista amador obrigado a abandonar a carreira recentemente devido a uma lesão. Sobra mais tempo para a criação de conteúdo e para comer a iguaria da moda para os turistas que visitam a capital. «O meu amor por pastéis de nada é muito visível nos vídeos, não é?»

Mas há mesmo quem coma pastéis de nada com faca e garfo? «90 por cento do que está nos meus vídeos é fruto de experiências reais. Uma vez assisti a uma pessoa que estava a tentar comer o recheio com uma palhinha. Não filmei porque senão dava demasiado nas vistas.»

Diogo encontra-se agora noutra fase. Cria menos vídeos, mas aposta mais na qualidade. Já tem patrocinadores e sabe que neste meio a criatividade é fundamental, além de uma graça natural que transmite nas primeiras interações. É este o segredo para fazer rir portugueses, alemães e uma audiência ainda mais global pela utilização do inglês em muitos vídeos. E sim, os alemães também se riem.

«Muitas das vezes uso o alemão que é agressivo, que é o tipo resmungão. Mas as pessoas que me seguem sabem que os alemães não são todos assim», diz, revelando a regra que mais o irrita no país onde vive há ano e meio depois de uma longa estadia na Austrália: «Não poder fazer barulho a partir das 10 da noite, senão chamam a polícia. Ou no domingo não haver supermercados. Já fiquei sem leite ou ovos por causa disso.»

«Dizem-me que Pepe e Ronaldo estão velhos»

Di-lo com alguma mágoa: se não fosse Cristiano Ronaldo e o futebol os germânicos ainda saberiam menos sobre Portugal. «Pensariam que seríamos uma província de Espanha». Sente-o no dia a dia: «Quando alguém me conhece pergunta se sou turco ou albanês, mas quando digo que sou português muitos respondem-me ‘buenos dias’. Um quarto das pessoas, para não dizer mesmo metade, não têm conhecimento aprofundado sobre Portugal.»

É algo que custará a mudar. Mas pelo menos durante o Campeonato da Europa a identidade torna-se mais latente. Para boa parte dos alemães que Diogo conhece, a Seleção não está entre as favoritas: «Dizem que Pepe e Ronaldo estão velhos e que por isso nada vamos ganhar.»

Ele não concorda, continuando a colocar o capitão num pedestal. Entre Portugal e Alemanha, espera obviamente que vençam os lusos, apesar da relação afetiva aos germânicos. E se não forem as cores vermelha e verde, ficaria satisfeito pela vitória da equipa da casa? «Também gostava que perdessem. Estão demasiado convencidos de que vão ganhar e seria giro ver a cara com que ficam.» E não é uma piada.