A BOLA NO EURO 2024 Consulado do galão apoia a Seleção
A BOLA visitou a ‘Transmontana’, primeira pastelaria portuguesa em Hamburgo; Irmãos Vítor e João vão ao estádio; Emília, a matriarca, é a mais otimista entre a família Oliveira
HAMBURGO — Não é só no bairro português — já visitado pela equipa de reportagem de A BOLA — que se nota o entusiasmo gerado pela visita da Seleção Nacional a Hamburgo. A alguns quilómetros de distância, na Transmontana, a primeira pastelaria lusa da cidade, também já se percebe o frenesim, até porque Vítor e João, os irmãos da família Oliveira — que gere o estabelecimento —, vão ao jogo.
É Vítor quem nos recebe na movimentada rua Schulterblatt, numa espécie de consulado português do galão. A pastelaria está cheia, até porque a esplanada, muito requisitada, está debaixo de chuva. «Os meus pais vieram para cá em 1981. Estiveram cá sete anos sem nós, eu e o meu irmão ficámos com os meus avós. Em 1987 recebeu os papéis alemães e abriu uma mercearia, e nós viemos para perto dos nossos pais. Dois anos depois abrimos a pastelaria, e estamos aqui há 35 anos», explica Vítor, que lamenta menor pujança na comunidade: «Na altura havia alguns restaurantes e muitos clubes de futebol portugueses. O meu pai foi presidente de vários, mas a tradição mudou muito. As pessoas antigas faleceram, e já ninguém puxa muito pela nossa cultura. Tínhamos sete a dez clubes e associações, e morreu tudo.»
A visita da Seleção é uma boa oportunidade para despertar o sentimento português. Vítor diz que o «sangue congelou» quando Diogo Costa negou o golo a Sesko no jogo com a Eslovénia, mas agora tem uma oportunidade única de receber a equipa das quinas: «Nunca mais na vida vamos ter isto. Em primeiro lugar, ser o Campeonato da Europa na Alemanha. E em segundo ter Portugal em Hamburgo. É uma coisa única, está tudo maluco com os bilhetes. Se o estádio tivesse o dobro da capacidade, estava cheio.»
As prestações da equipa de Roberto Martínez não têm convencido este português, que acredita que a presença de Cristiano Ronaldo está a condicionar os colegas. «Sou daqueles que diz que devia sair pela porta grande e que já devia ter arrumado as botas há meia dúzia de anos. Parece que quer levar Portugal às costas, tem uma super pressão. Anda tenso lá dentro e nem consegue dominar a bola, não está à vontade. Deixa-me triste porque ele não precisava nada disto», acrescenta Vítor, que considera que só um jogador francês tinha lugar na equipa das quinas: «Era o Mbappé, e era para substituir o Ronaldo. Tirando isso a seleção francesa está muito abaixo da nossa. Estamos espalhados pelos melhores clubes do mundo, mas nunca tivemos ninguém que soubesse trabalhar os nossos jogadores, e não é este treinador que sabe.»
Mais confiante está a matriarca da família, que lá cedeu à persistência e respondeu a algumas perguntas. «Acho que têm hipóteses de ganhar. Jogam bem. Todos eles. Por isso… é uma das melhores seleções do Europeu», começou por dizer. Não vai ver o jogo ao estádio, mas assume que é especial ter a Seleção no país onde vive há quatro décadas: «O Covid parou o mundo, a Seleção pára o pais. Acho muito bonito, incrível. Não estou em Portugal a ver os jogos e o ambiente, mas aqui é espetacular. Nestas alturas é que se vê mesmo o carinho que temos pelo nosso país.»