Varandas e a discriminação
Frederico Varandas

Varandas e a discriminação

OPINIÃO23.09.202309:22

A descentralização do voto eletrónico é uma medida séria, democrática e inclusiva

Frederico Varandas pretende alargar a todo o universo sportinguista, neste mundo cada vez mais digital onde vivemos, a possibilidade de participação na vida do clube, através do voto eletrónico descentralizado, e para tal pediu que fosse convocada uma Assembleia Geral, já que é necessária uma alteração estatutária para que o projeto possa ter pernas para andar. Esta iniciativa do presidente do Sporting, quanto muito, peca por tardia, porque não faz sentido que um clube de expressão nacional como é o Sporting, que começou verdadeiramente a expandir-se por Portugal na bicicleta de Alfredo Trindade, no início dos anos 30 do século passado, concentre o poder decisório, de forma esmagadora, no núcleo de sócios que vive na Grande Lisboa. Os sócios, todos, são o Sporting, e havendo ferramentas que o permitam, não devem ser discriminados em função da geografia. Há muito que não faz sentido que clubes - e não só o Sporting - que têm dezenas ou centenas de milhares de sócios espalhados pelo Mundo tomem decisões, muitas vezes estruturantes, com base em reuniões onde não se junta um número representativo e significativo de votantes.

Grandes clubes mundiais, que não enveredaram pela venda a privados - Barcelona e Real Madrid são os exemplos mais flagrantes -, criaram modelos de assembleias delegadas, que aumentam exponencialmente a legitimidade das decisões tomadas.

Não me parece que haja qualquer argumento razoável que possa contrariar o desejo de aproximar ainda mais clube e sócios, assumido por Frederico Varandas. Mas a Assembleia Geral onde esta transformação estatutária será discutida também nos dará uma perspetiva que pode fornecer-nos pistas preciosas quanto ao que eventualmente acontecerá quando vier a colocar-se a questão da venda de capital da SAD, algo inevitável para todos os clubes, num horizonte não muito longínquo. O que prevalecerá no núcleo duro dos habituais frequentadores das Assembleias Gerais dos leões? Vencerá o conservadorismo, normalmente baseado nos sócios com mais votos, ou haverá uma visão mais moderna, que perceba os tempos em que vivemos, e tenha a perceção de que é impossível parar o vento com as mãos?

A Varandas, saúda-se a coragem e a lucidez. O resto, aguarda-se com elevada expetativa.