VAR: a culpa é de O.J. Simpson
À primeira coisinha, todos perguntam por ele. Onde estava o VAR? Pois bem, está na infância.
O VAR. Essa coisa que, não me canso de repetir, é ótima para o resultado e péssima para o jogo. O maior mal necessário do futebol. É o maior ponto de discussão no campeonato português, argumento para algumas más exibições e piores resultados; troca de acusações quando a energia falha e se tem de usar um telemóvel – tudo previsto em protocolo como já se esclareceu – ou porque simplesmente um dia se falou nisto e no outro dia não.
Em Portugal, até já se viu quem defendesse o direito ao golo ilegal, simplesmente porque «o VAR não podia intervir», mesmo que a verdade tivesse ficado à vista de todos. Também já sucedeu o contrário, quando se marcou um golo ilegal e se apontou o dedo porque não se falou noutros momentos. Em suma, parece que ninguém gosta dele, o odeia mesmo, mas à primeira coisinha perguntam por ele. Onde estava o VAR?
Pois bem, a resposta a esta pergunta é simples: no futebol, está na sua infância.
O VAR existe no futebol profissional há pouco mais de meia dúzia de anos, em Portugal a tempo inteiro desde 2017/18, mas existe no mundo desde a década de 70.
Um dia, como diz a história, o responsável pela arbitragem na NFL -futebol americano – quis perceber o que se perdia para rever uma jogada em replay. Art McNally equipou-se com um cronómetro e uma câmara e assistiu ao Dallas Cowboys-Buffalo Bills. Entre outras coisas, viu uma jogada de O.J. Simpson, esse mesmo, que teria de ser revertida caso houvesse intervenção do «instant replay». Pormenor, estava-se em 1976. A primeira vez que O.J. Simpson escapou impune, apesar das provas, portanto.
A evolução da videoarbitragem deu-se a partir dali. Espalhou-se para outras modalidades, até que o maior jogo do mundo a aceitou 40 anos depois. Ao contrário que acontece noutras coisas, no que toca ao VAR, Portugal esteve sempre na frente. E por lá continua – sim, é um elogio a algo no futebol nacional.
A permissão da FIFA para se revelar o racional por trás das decisões dos árbitros é apenas e só o passo lógico - dado há muito tempo no futebol americano - e só não se percebe a demora do International Board em assumir uma prática que tem sido reconhecida como boa em todas as modalidades em que existe.
Os árbitros de futebol receberam o primeiro sistema de intercomunicação áudio em 2007/08 e desde essa altura que a medida devia ter sido aplicada. Por esse tempo, lembro-me de ter perguntado a um deles, numa ação de formação, se eventualmente daria para ligar à aparelhagem do estádio. «Afirmativo.» Então porque não explicam as decisões? A resposta foi simples: «Com estes adeptos? Isso seria ainda pior.»
Não percebi o receio na altura - talvez os árbitros não soubessem falar - como nunca percebi a demora na medida agora aplicada. Pelo menos, assim, todos conseguimos entender um pouco melhor porque é que OJ Simpson poderia ter escapado na mesma, apesar de todas as provas.