Vamos mudar o ‘chip’?
Há figuras feias que homens bons não podem fazer, por lhes retirar credibilidade e classe
A Supertaça Cândido de Oliveira está à porta e, na semana seguinte, começa a maior das competições nacionais: a Liga. Entretanto, há muito que árbitros e jogadores se preparam para esse momento. Há muito que treinam afincadamente, colocando o seu profissionalismo, disponibilidade e competência ao serviço quase exclusivo da camisola que vestem. Os objetivos de ambos são até muito parecidos: todos querem alcançar bons resultados, através de boas exibições. Todos querem acertar muito e errar pouco. Todos querem vencer e fazer bem. É natural, é legítimo e é o que esperamos deles.
A acompanhar bem de perto o empenho de todos eles estarão os elementos dos bancos técnicos. Os árbitros não têm a sorte de terem os seus treinadores ali perto, a apoiá-los e instrui-los, mas os jogadores têm. Têm pessoas qualificadas, que estão regulamentarmente autorizadas a exercer a sua profissão bem perto do local onde tudo acontece. A forma como exercem essa liderança tem influência direta no comportamento e performance dos seus atletas. Eles são os timoneiros. São quem manda, quem põe e dispõe. Cada gesto e palavra são interpretados como uma ordem. Como um plano de ação.
Os treinadores (e adjuntos, diretores desportivos/delegados ao jogo, fisioterapeutas, médicos, roupeiros, suplentes e demais elementos ali presentes) são pessoas capazes, que carregam sobre si uma grande responsabilidade: a de cumprir bem o seu trabalho, adotando uma conduta eticamente irrepreensível. Os elementos oficiais dos bancos não são sócios pagantes, adeptos ou membros de claques. São responsáveis com vínculo contratual. São profissionais pagos. São parte visível de tudo o que acontece nas quatro linhas. Têm a obrigação de se lembrar disso quando perdem e vencem. Quando gostam e não gostam. Quando concordam ou discordam. Tudo o que fazem, falam ou gesticulam é visto por todos os que estão em campo e pelos muitos milhões que estão em casa.
Quem está no jogo há muito tempo sabe que algumas condutas - teatralidade pontual, esbracejar exuberante ou postura mais férrea - são modus operandi com barba branca, que visam apenas produzir resultados (ganhos) imediatos. É a tal pressão momentânea de que tantos dizem: «Faz parte.» Certo. Mas tudo o que acontece daí para cima é ridículo. Desculpem, mas é mesmo ridículo.
Há figuras feias que homens bons não podem fazer, por lhes retirar credibilidade, classe e educação. Há linhas que gente séria, competente e respeitadora não pode ultrapassar. Pensem nisso antes que a bola comece a rolar. Por muito que se queira fazer do espetáculo um circo, só se ganha quando a bola entra. Não quando se grita muito ou se salta mais alto. Vocês são muito, muito mais do que isso. Boa época a todos.
PS - Senhores árbitros, cartão vermelho na mão. A má educação reiterada torna-vos cúmplices, não pedagogos.