Um novo modelo para o Catar
Mais do que em que equipa vamos ter, devemos pensar no que queremos ser
Apoucos dias da convocatória de Fernando Santos para o Campeonato do Mundo não há quem não arrisque escolhas ou tente antecipar as do selecionador. Com opções disponíveis como nunca houve, podem ser feitas várias listas e todas com enorme qualidade e profundidade, mesmo depois da perda de Diogo Jota e apesar das dúvidas sobre Pepe. A minha seria inevitavelmente muito diferente da que será anunciada na próxima quinta-feira, mais do que não seja porque olhamos para o jogo de forma diferente. Acredito ainda que, sejam quais forem os escolhidos, haverá sempre críticas e discutir caso a caso parece-me redutor. Em muitos nomes, será apenas e só uma questão de gosto ou de interesse clubístico.
Mais relevante do que tal debate é, para mim, a do perfil dos jogadores para o modelo que se quer adotar no Catar. Porque se a justiça da chamada ainda poderá fazer algum sentido nas qualificações, face à distância que ainda as separa dos torneios, numa fase final é ainda mais importante acertar no modelo e nos elementos do mesmo. O que é também reforçado pelo encurtamento da preparação para um Mundial encaixado à força no meio de uma temporada.
Portugal vive num limbo. Tem cada vez mais jogadores para um modelo de ataque posicional que o aproxime das outras grandes seleções e domine os encontros, casos de Vitinha, Félix, Bernardo Silva, Otávio, Rúben Neves ou João Mário, e predominância das ideias de rigidez defensiva e transição no seu técnico, sobretudo diante dos mais fortes. A escolha deve ser feita a partir daí, e não como prémio para alguns nomes, mesmo que se deixem algumas vagas para eventual necessária variação de estilo. Mais do que a resposta à questão «que equipa vamos ter no Catar?», é fundamental pensar primeiro em «que equipa queremos ser». Já perdemos demasiado tempo.