Um Guardiola para sempre

OPINIÃO22.12.202105:30

Daqui a dez, vinte anos veremos ideias de Pep em muitas outras equipas do mundo

O futebol é tremendamente aleatório. Pensem na quantidade de variáveis que advêm de equipas com 11 jogadores, mais o estado do tempo e do relvado, estádios cheios ou vazios, pequenas lesões quase impercetíveis ou outras em unidades nucleares, alterações de estados de espírito dentro e fora de campo, pressão autoimposta ou introduzida pelo ambiente ou pelo adversário, e falhas individuais ou coletivas raras. Um técnico tem sempre pela frente um trabalho de Hércules, já que está obrigado a eliminar o máximo de aleatoriedade má, em nome do equilíbrio, e ao mesmo tempo manter a boa, aquela reserva que lhe permitirá desencaixar (se nada mais resultar) do trabalho do rival, sobretudo numa era em que aqueles que conseguem desequilibrar são cada vez menos.
Há treinadores e treinadores. Pep Guardiola, por exemplo. O espanhol ficará na história pelo contributo das suas ideias para a evolução do jogo, embora ainda não tenha conseguido apagar aquela imagem de génio a coçar a cabeça em frente da equação incompleta na ardósia, sem a solução provavelmente anotada em algum caderninho esquecido em Barcelona. Daqui a dez, vinte anos, veremos ideias de Pep noutras equipas, da mesma forma que não existiria o Milan de Sacchi sem o pressing inventado por Maslov nos anos 70 no D. Kiev ou a Laranja Mecânica, o grande Barça do próprio Guardiola ou a super-Espanha de 2008 a 2012 sem a Wunderteam austríaca ou a Aranycsapat húngara. Ou ainda o catenaccio de Nelio Rocco e Helenio Herrera sem o verrou do austríaco Karl Rappan na seleção suíça. E por aí fora.
Ser treinador não é para todos e nem sempre os trabalhos mais complexos são os que levam ao sucesso. Por vezes, o caminho mais rápido para a vitória é mesmo uma linha reta, porém não podemos nunca esquecer o quadro completo.