Sporting - passado, presente e futuro
Frederico Varandas, presidente do Sporting, tem contribuído para o clube recuperar a identidade (Grafislab)

MERCADO DE VALORES Sporting - passado, presente e futuro

Quando uma organização perde a sua cultura ou os seus valores, fica mais frágil e tem mais dificuldades em ter sucesso de uma forma consistente e regular

Thinking Football

Na última semana tivemos o evento Thinking Football que começa a deixar a sua marca no panorama nacional. Debateram-se temas de enorme relevância, com a participação de pessoas de diferentes quadrantes e que tornaram a discussão mais rica e completa. Parece-me unânime que a Liga portuguesa tem de mudar o paradigma. O slogan deveria ser: juntos vamos mais longe. É fundamental a perceção de que todos ganharão muito mais se trabalharem em conjunto, transformando a nossa Liga num produto atrativo para os consumidores. Para que isto aconteça é importante passar das palavras aos atos. É determinante que esta consciencialização exista, quando se ganha e quando se perde. Criar um produto demora tempo, exige esforço, dedicação e exige, sobretudo, ceder uma parte do individual em função do coletivo. Em Portugal, onde a emoção e paixão andam de mãos dadas com o desporto, é imperioso termos líderes que tenham a capacidade de aguentar e não ceder à pressão do populismo, e que não pensem mais em si do que no desenvolvimento do futebol. Benfica, Sporting e FC Porto, pela dimensão que têm, deverão liderar o pelotão e dar o exemplo. Será que o conseguirão fazer?

Sporting - olhar para dentro

Esta semana, o Sporting apresentou o plano de atuação para os próximos 10 anos. Num evento em que juntou muitos funcionários do Sporting, a ideia passou por agradecer a todos os que têm contribuído para que o clube tenha tido a capacidade de dar a volta a uma fase muito turbulenta. No evento de apresentação do Future is coming, por diversas vezes, foi utilizada a expressão «vocês permitiram que isto acontecesse». Por um lado, é o reconhecimento, por outro, é uma forma de tentar valorizar e unir todos em torno de um objetivo comum. O evento consistia em apontar para o futuro, mas sem esquecer o passado. Foram realçados os muitos anos em que o clube não conseguiu ter sucesso, de uma forma consistente, e foram, ainda que de forma indireta, apontadas as causas pelas quais isto sucedeu. Um dos principais motivos foi a perda de identidade ou cultura organizacional. Neste ponto, não posso estar mais de acordo. O que se passa no relvado é o reflexo de um trabalho invisível em diferentes áreas. Quando uma organização perde a sua cultura ou os seus valores fica mais frágil e tem mais dificuldades em ter sucesso de uma forma consistente e regular. Os últimos anos, embora tenham sido difíceis, foram intensos e de grande aprendizagem. Esta administração cometeu muitos erros numa fase inicial. Dentro do relvado acertou em cheio no all in feito com Rúben Amorim. Contudo, onde efetivamente se sente a mão desta administração é no trabalho fora das quatro linhas. Um dos grandes objetivos de Frederico Varandas foi recuperar a academia, melhorando as condições de trabalho de forma a poder potenciar os jovens talentos. Outro pormenor foram as modificações efetuadas no estádio, que aproximaram a casa do leão das suas origens, fazendo com que os adeptos sentissem os efeitos da obra realizada. Em termos financeiros, o trabalho também tem vindo a ser feito. Com os pés bem assentes no chão, o equilíbrio das contas sempre foi um objetivo. Num momento em que, desportivamente, se respira confiança em Alvalade, a apresentação da visão para os próximos 10 anos vem demonstrar outra capacidade desta administração — visão.

Visão e ambição

Ajuntar ao reforço dos valores, e da forma como a administração quer que os seus adeptos se identifiquem com o clube, surgiram outras metas ambiciosas e que demonstram um aprofundamento das tendências atuais no desporto. Assim, os pilares que norteiam a próxima década são: entretenimento, life style e talento. É por aqui que o Sporting vai apostar, pretendendo melhorar a experiência dos seus adeptos (criando novas atrações no estádio), aproximá-los ainda mais do dia a dia do clube, e continuar a poder criar condições para potenciar o talento (jogadores e recursos humanos). Percebendo que ainda há muito para explorar e crescer, os dirigentes leoninos focam-se em encontrar soluções que possam potenciar as receitas. A dez anos o objetivo passa por duplicar os rendimentos operacionais fixos, de forma a poder ficar menos dependente de receitas variáveis como a Liga dos Campeões ou a venda de jogadores. Se é verdade que se trata de um objetivo muito ambicioso, também é verdade que demonstra ousadia e imaginação na definição do caminho a seguir para poder alcançar maior independência financeira.

Procura de um parceiro

Após a reestruturação financeira alcançada, o Sporting ficou com uma posição reforçada no capital da SAD. Isto permite-lhe desenvolver várias estratégias com vista a tornar o clube mais capaz. Uma das soluções apresentadas foi o desenvolvimento de conversações para a procura de um investidor/parceiro estratégico. Tendo em conta o nosso reduzido mercado interno, este poderá ser um passo muito importante e diferenciado. O ideal será encontrar não só um investidor, mas sobretudo um parceiro que possa acrescentar valor, não só financeiro, mas também noutras áreas. Visto de fora, parece-me que seria muito interessante ter um parceiro que tivesse a capacidade de projetar o Sporting noutros mercados, de forma a poder ser um auxílio na valorização da marca Sporting e, consequentemente, na geração de mais receitas. Num mundo global, as marcas têm mais concorrência, mas também têm muito mais oportunidades que devem e têm de ser exploradas.

A VALORIZAR: BRUNO LAGE

Dois jogos e duas vitórias. Sem tempo para trabalhar, teve o mérito e a perspicácia de colocar os jogadores nos sítios certos.