Opinião Sete anos para criarmos grande Seleção
Dos 26 jogadores que Roberto Martínez acaba de selecionar, nada menos de 14 terão menos de 34 anos no Mundial de 2030! «Porque hoje é sábado», a opinião de Vítor Serpa.
É apenas um exercício de lógica, mas se considerarmos entre os jogadores que Roberto Martínez acaba de selecionar para os próximos dois jogos de apuramento para o Euro-2024, aqueles que ainda não chegaram aos 30 anos de idade e que, por isso, poderiam eventualmente estar aptos no Mundial de 2030, chegaríamos à conclusão de que estariam nessa lista nada menos de 22 dos 26 jogadores agora convocados.
De fora ficariam apenas dois guarda-redes (José Sá e Rui Patrício), um defesa (Danilo Pereira) e um avançado (Cristiano Ronaldo). É significativo que dos 26 escolhidos por Martínez, 22 tenham menos de 30 anos. Mas se admitirmos apertar a malha e apenas referirmos jogadores que, em 2030, tivessem menos de 34 anos, mesmo assim teríamos um guarda-redes (Diogo Costa), cinco defesas (António Silva, Gonçalo Inácio, Diogo Dalot, Rúben Dias e Toti Gomes), três médios (Rúben Neves, Vitinha e João Neves) e nada menos do que cinco avançados (Pedro Neto, Diogo Jota, Gonçalo Ramos, João Félix e Rafael Leão). E destes quatro deles (António Silva, Gonçalo Inácio, João Neves e Gonçalo Ramos) terão, em 2030, menos de 30 anos.
Portugal terá, no entanto, sete anos para produzir novos e valiosos talentos que irão acrescentar valor à Seleção. E essa é uma das melhores qualificações do futebol português, a nível mundial. Os clubes nacionais podem não tomar a devida atenção à necessidade de organizarem um campeonato mais competitivo, porque cada qual se preocupa, apenas, consigo próprio e não tem, como se sabe, uma visão global do negócio. É, aliás, por essa razão que os clubes portugueses estão sistematicamente afastados de competições menores da UEFA e nas maiores demonstram, cada vez mais, dificuldades em manterem-se competitivos com a classe média alta europeia. No entanto, os clubes nacionais têm cuidados especiais na formação. Criam estrutura profissionalizada, usam excelentes treinadores para as mais diversas fases de crescimento e moldam os jovens de maior talento, dando-lhes apuramento técnico, conhecimento tático e, não menos importante, maturidade psicológica para os mais altos níveis de competição.
É, pois, previsível que para o Mundial de 2030, que Portugal irá organizar juntamente com Espanha e Marrocos, Portugal crie condições exemplares para ter uma Seleção capaz de lutar pelos lugares de topo.
Não existem, como se sabe, muitos setores do país que possam dizer: «Nós também seríamos capazes de fazer o mesmo. Criar condições para estarmos entre os melhores do mundo, dentro de sete anos.» Mas o futebol, todos acreditamos, será capaz disso. Eis, pois, algo que não devemos minimizar, nem desvalorizar. É verdade que somos um país lamuriento, sempre tolerante e até piedoso para com os piores e sempre insatisfeito para com os melhores, mas até mesmo aquela faixa de eternos maledicentes do jogo e do futebol tem de admitir que se há coisa em que somos bons, os melhores entre os melhores, é, precisamente, nessa modalidade desportiva que enche estádios e provoca emoções fortes em centenas de milhões de seres humanos por esse mundo.
Bem sei que essa é uma realidade que pode irritar uma parte da elite bem pensante do país, que gostaria que pudéssemos trocar a vocação futebolística pelas artes ou pela ciência, por exemplo. Estão desatentos. A verdade é que Portugal tem mulheres e homens de dimensão mundial em muitos setores, mas esses não fazem audiências nos telejornais e são desconsiderados por pérfida inveja. E aí, na inveja, também somos dos maiores do mundo.