Sete anos para criarmos grande Seleção
MIGUEL NUNES/ASF

Opinião Sete anos para criarmos grande Seleção

OPINIÃO07.10.202316:30

Dos 26 jogadores que Roberto Martínez acaba de selecionar, nada menos de 14 terão menos de 34 anos no Mundial de 2030! «Porque hoje é sábado», a opinião de Vítor Serpa.

É apenas um exercício de lógica, mas se considerarmos entre os jogadores que Roberto Martínez acaba de selecionar para os próximos dois jogos de apuramento para o Euro-2024, aqueles que ainda não chegaram aos 30 anos de idade e que, por isso, poderiam eventualmente estar aptos no Mundial de 2030, chegaríamos à conclusão de que estariam nessa lista nada menos de 22 dos 26 jogadores agora convocados. 

De fora ficariam apenas dois guarda-redes (José Sá e Rui Patrício), um defesa (Danilo Pereira) e um avançado (Cristiano Ronaldo). É significativo que dos 26 escolhidos por Martínez, 22 tenham menos de 30 anos. Mas se admitirmos apertar a malha e apenas referirmos jogadores que, em 2030, tivessem menos de 34 anos, mesmo assim teríamos um guarda-redes (Diogo Costa), cinco defesas (António Silva, Gonçalo Inácio, Diogo Dalot, Rúben Dias e Toti Gomes), três médios (Rúben Neves, Vitinha e João Neves) e nada menos do que cinco avançados (Pedro Neto, Diogo Jota, Gonçalo Ramos, João Félix e Rafael Leão). E destes quatro deles (António Silva, Gonçalo Inácio, João Neves e Gonçalo Ramos) terão, em 2030, menos de 30 anos. 

Portugal terá, no entanto, sete anos para produzir novos e valiosos talentos que irão acrescentar valor à Seleção. E essa é uma das melhores qualificações do futebol português, a nível mundial. Os clubes nacionais podem não tomar a devida atenção à necessidade de organizarem um campeonato mais competitivo, porque cada qual se preocupa, apenas, consigo próprio e não tem, como se sabe, uma visão global do negócio. É, aliás, por essa razão que os clubes portugueses estão sistematicamente afastados de competições menores da UEFA e nas maiores demonstram, cada vez mais, dificuldades em manterem-se competitivos com a classe média alta europeia. No entanto, os clubes nacionais têm cuidados especiais na formação. Criam estrutura profissionalizada, usam excelentes treinadores para as mais diversas fases de crescimento e moldam os jovens de maior talento, dando-lhes apuramento técnico, conhecimento tático e, não menos importante, maturidade psicológica para os mais altos níveis de competição. 

É, pois, previsível que para o Mundial de 2030, que Portugal irá organizar juntamente com Espanha e Marrocos, Portugal crie condições exemplares para ter uma Seleção capaz de lutar pelos lugares de topo. 

Não existem, como se sabe, muitos setores do país que possam dizer: «Nós também seríamos capazes de fazer o mesmo. Criar condições para estarmos entre os melhores do mundo, dentro de sete anos.» Mas o futebol, todos acreditamos, será capaz disso. Eis, pois, algo que não devemos minimizar, nem desvalorizar. É verdade que somos um país lamuriento, sempre tolerante e até piedoso para com os piores e sempre insatisfeito para com os melhores, mas até mesmo aquela faixa de eternos maledicentes do jogo e do futebol tem de admitir que se há coisa em que somos bons, os melhores entre os melhores, é, precisamente, nessa modalidade desportiva que enche estádios e provoca emoções fortes em centenas de milhões de seres humanos por esse mundo. 

Bem sei que essa é uma realidade que pode irritar uma parte da elite bem pensante do país, que gostaria que pudéssemos trocar a vocação futebolística pelas artes ou pela ciência, por exemplo. Estão desatentos. A verdade é que Portugal tem mulheres e homens de dimensão mundial em muitos setores, mas esses não fazem audiências nos telejornais e são desconsiderados por pérfida inveja. E aí, na inveja, também somos dos maiores do mundo.