Opinião Seleção: o saco de pancada desta vez respondeu!
Os adeptos 'regulares' de futebol, em Portugal, gostam pouco da Seleção, salvo em momentos especiais. Mas desta vez o saco de pancada desviou-se dos socadores e atingiu-os em cheio no rosto
Ao intervalo do Portugal-Polónia, na última sexta-feira, os adeptos da Seleção (em minoria entre os adeptos regulares e em maioria no País) estavam preocupados. Os adeptos do futebol português esfregavam as mãos por debaixo da mesa, enquanto discutiam, indignados (os que estavam a ver), as más escolhas de Martínez, a má exibição e a presença de Cristiano Ronaldo no onze.
Mas porque esfregavam as mãos? Porque a Seleção Nacional — que tanto agregou em 2004 e em julho de 2016 — é o saco de pancada por excelência para os torcedores de clube, espécie absolutamente maioritária entre quem segue diariamente o futebol em Portugal. Claro que quando se é campeão da Europa isso tudo passa, ou mesmo quando se joga um Europeu em casa e se chega à final. Mas como sabemos isso passa muito depressa.
Portugal marca presença consecutiva em fases finais desde o ano 2000. Apura-se sempre (verdade que a cada apuramento as coisas se tornam menos difíceis, por força do aumento de equipas nas fases finais) e ganha bastante mais do que empata ou perde. Ainda assim, teremos de ir buscar Scolari, a 2004, ou o Fernando Santos de julho de 2016 para encontrar um Selecionador Nacional apreciado pela comunidade que alimenta o dia-a-dia do futebol português. Sim, não tenhamos ilusões: os estádios portugueses enchem-se para ver a Seleção, mas três quartos desse público só vai mesmo a jogos da Seleção, e nos restantes dias pouco liga ao fenómeno, salvo uma ou outra notícia de raspão na internet ou na TV.
De cada vez que há uma convocatória, os aficionados do dia-a-dia encontram sempre os seus defeitos nas escolhas, consoante a cor que defendem. Quando a Seleção joga, torcem mais pelos jogadores das suas cores do que propriamente pela equipa nacional. Nos dias que antecedem e sucedem os jogos da Seleção desinteram-se, até, pela leitura habitual de notícias (os números não mentem).
Após o intervalo do Portugal-Polónia, o saco de pancada mexeu-se. E de repente bateu com algum estrondo na cara de quem o soca. Portugal — com Ronaldo a manter-se na equipa, imagine-se! — meteu duas mudanças abaixo e deixou a Polónia a ver o futebol acontecer. Com caras novas na equipa, goleou com distinção e cumpriu dois objetivos de uma assentada: apuramento para os quartos de final da Liga das Nações e passagem no primeiro lugar do grupo.
E aquele triciclo/bicicleta de CR7 foi o último balanço do saco de pancada.