Reta final

OPINIÃO13.04.202106:05

Sejam grandes na vitória e enormes na derrota. Sejam nobres e éticos. Sejam exemplares

A Liga portuguesa vai entrar agora na sua fase mais importante, à semelhança do que acontece, aliás, nas retas finais de todas as grandes competições desportivas.
A oito jornadas do fim, há pontos por atribuir e muitas decisões ainda por definir. Com tanto em disputa, é perfeitamente normal que a lucidez, o saber estar e profissionalismo dos diferentes atores do jogo sucumbam, a espaços, a emoções mais fortes e terrenas.
Ninguém é de ferro e ninguém é santo. E o futebol, que também é entretenimento, é tudo menos uma missa. Aliás, nos dias de hoje é uma indústria poderosa, que dá emprego a muita gente e que (também) depende de resultados em campo para garantir a subsistência financeira, emocional e estrutural de milhares e milhares de famílias.
Mas é em momentos assim, de enorme expectativa e de pressão alta, que se vê o calibre de cada um. Que se vê o melhor e o pior de cada profissional. Não se espera que, em momentos assim, tão decisivos, não existam reações de desagrado, momentos de explosão momentânea ou palavras descontextualizadas. Não se esperam aplausos a toda a hora ou silêncios conformados, resignados. O que se espera é equilíbrio. Equilíbrio entre o que se sente e o que se diz. Entre o que se pensa e o que se faz.
Os principais agentes desportivos têm hoje um mediatismo inenarrável. São pessoas conhecidas em todo o lado, com visibilidade acentuada. Fora do normal. Jogadores, treinadores, diretores desportivos (e de comunicação), dirigentes e até árbitros são o prato principal de uma montra vista e admirada por milhões e milhões de pessoas. É importante que não se esqueçam disso.
Cada gesto, cada reação, cada palavra é escrutinada ao milímetro e descodificada na hora. É interpretada à medida de cada um. Não há como escapar a essa realidade.
É fundamental que quem está em campo tenha isso em conta a cada momento, sobretudo quando está lá dentro. Há sempre uma câmara, um holofote ou um microfone na sua direção. Há sempre um dedo pronto a acusar, sabotar ou potenciar um comportamento mais negativa.
Não se ponham a jeito. Não se coloquem nessa posição. Sejam, em campo, o que são como homens, pais, maridos e filhos. Evitem ser uma má referência, quando têm tudo para ser o melhor dos exemplos.
No jogo há variáveis que controlam e outras que jamais dependerão de vocês. Foquem nas que estão ao vosso alcance e reajam com elevação e educação ao revés, ao obstáculo, ao contratempo. Sejam grandes na vitória e enormes na derrota. Sejam nobres e éticos sempre. Sejam exemplares.
Um dia o futebol termina para todos e há uma legado para deixar. Não desperdicem a oportunidade de criarem hoje memórias que amanhã encherão de orgulho o coração dos vossos filhos.
No futebol, como na vida... não vale tudo.