Restelo, 32 anos depois
Sporting volta a Belém para um jogo de Taça de Portugal, a única competição doméstica que Rúben Amorim não ganhou
V OLTA a Taça de Portugal já com os grandes e logo com um dérbi lisboeta: Clube de Futebol Os Belenenses-Sporting Clube de Portugal. O campeão nacional de visita ao verdadeiro Belenenses (distinto da B-SAD, fundada em 2018) muitos anos depois. O último confronto no Estádio do Restelo para a Taça aconteceu na tarde de 12 de abril de 1989, uma quarta-feira… há mais de 32 anos! Era a meia-final (na altura, jogo único) e o Belém, treinado por seu Marinho Peres, venceu sensacionalmente por 3-1. Vi esse jogo como jornalista de O Século (a levar com o sol nos olhos na bancada de Imprensa) e lembro-me das sucessivas explosões de alegria dos adeptos azuis com o tal «quarto de hora à Belenenses» materializado com golos de Baidek (70’), Saavedra (74’) e Mladenov (85’) em resposta ao golo inicial do leão Douglas. O treinador do Sporting era Manuel José e o lateral Fernando Mendes, hoje comentador televisivo, não gostou nada de ser expulso - pelo árbitro Vítor Correia - a um minuto do fim. O Belenenses, que já eliminara o FC Porto nos oitavos (1-0, com golo de Mladenov no prolongamento), ganharia a final do Jamor ao Benfica de Toni por 2-1, com o golo decisivo apontado por Juanico. Uma limpeza completa.
É claro que essa estupenda equipa do Belenenses nada tem a ver com a de hoje, que é mais modesta pelas razões que se sabem. O clube compete no Campeonato de Portugal (é 9.º na série E) e está a meio de um longa caminhada que o há de levar ao lugar devido. 32 anos separam [o feito de] Marinho Peres da tentativa de Nuno Oliveira, 34 anos, o jovem treinador dos azuis que tentará, na sexta-feira, enganar Rúben Amorim da mesma maneira que o treinador do Marítimo, Milton Mendes, o enganou em janeiro passado - lembre-se que o Sporting (sem alguns titulares, é certo) caiu no Funchal (0-2) nos oitavos de final da última edição. Será muito difícil ao Belenenses jogar de olhos nos olhos com o campeão, mas se há competição em Portugal que tem produzido surpresas e desfechos inesperados é a Taça. Veja-se que nos últimos dez anos metade dos vencedores foram não grandes»: Académica (2012), V. Guimarães (2013), SC Braga (2016 e 2021) e Desportivo das Aves (2018). É uma sequência inédita na história da competição. E lembre-se que há exatamente dois anos (17 de outubro de 2019) o próprio Sporting foi estrondosamente eliminado (0-2) por uma equipa do terceiro escalão, o Alverca !
Para Rúben Amorim, que representou o Belenenses entre 2000 e 2008, trata-se certamente de um dérbi aliciante. Não só pela emoção do reencontro - foi nos azuis que se fez grande jogador, a ponto de ser contratado pelo Benfica -, mas também pelo desafio que representa para ele a Taça de Portugal, única competição que lhe falta ganhar para ter o pleno de títulos nacionais como treinador. Lembre-se: em pouco mais de ano e meio, Rúben conquistou Taça da Liga (duas vezes: a 25 de janeiro de 2020 com o Braga; e a 23 de janeiro de 2021 com o SCP), campeonato (11 de maio de 2021 com o SCP) e Supertaça (1 de agosto de 2021 com o SCP). Uma afirmação meteórica e pletórica! deste jovem treinador (obviamente não isenta de erros) que, quer-me parecer, não tem tido dos media nem o espaço nem a atenção que os seus resultados amplamente justificam - sendo claro que o objetivo prioritário de Amorim não será colecionar manchetes na Imprensa nem abrir telejornais. Rúben deu a entender que o Sporting não se apresentará na máxima força no Restelo, o que pode trazer um picante suplementar ao dérbi. Pesará nas contas do treinador a importância do jogo seguinte - em Istambul, com o Besiktas, para a Champions, com o Sporting ainda a zero e muito precisado de pontuar -, mas não acredito que os leões entrem a meio gás. Uma eliminação perante adversário de terceiro escalão provocaria estragos importantes na confiança da equipa, que ainda não está a funcionar com a alma e a continuidade da época passada. Por outro lado, não custa imaginar o que Nuno Oliveira tem dito por estes dias aos jovens jogadores do Belenenses: rapaziada, ouçam bem o que vos digo, e gritem todos comigo: é pr’a ganhar!
Este é o terceiro jogo do Belém no Restelo. Nos dois anteriores venceu o Sacavenense (do nosso Tuck) por 5-1. E o Pêro Pinheiro, para a Taça, por 5-3, com um hat-trick do cabo-verdiano Clê. Voltando ao inicio. Era engraçado se o presidente Patrick Morais de Carvalho convidasse para ver o jogo os intervenientes no último Belenenses-Sporting para a Taça - o tal de há 32 anos. Deixo-os aqui. Belenenses: Jorge Martins, Teixeira, Sobrinho, José Mário, Baidek, Carlos Ribeiro, Macaé, Juanico, Chico Faria, Chiquinho Conde, Mladenov; José António e Saavedra. Sporting: Rodolfo Rodriguez, Miguel, Ricardo Rocha, Venâncio, Fernando Mendes, Oceano, Carlos Xavier, Douglas, Paulo Silas, Lima, Cascavel; Ali Hassan e Jorge Plácido.
Em 1989 o Belenenses eliminou o Sporting a caminho da conquista da Taça de Portugal
ALGARVE, 'CASA' DE RONALDO!
C OM João Palhinhaem modo polvo compressor e o valioso contingente Manchester em bom plano até ao intervalo (Cristiano, Bruno, Cancelo, Rúben e Bernardo) Portugal venceu o Luxemburgo com facilidade devido à entrada de rompante (3-0 em 17 minutos) e ao eterno instinto matador da lenda, que assinou de cabeça o seu 10.º jogo a marcar pelo menos três golos (!) pela Seleção. A segunda parte foi mais fraca e, tirando uma bicicleta fabulosa de Cristiano, o golo de Palhinha e o o 115.º do capitão, o engenheiro teve motivos para fazer, como fez, algumas caretas de desagrado.
Ronaldo chega aos 115 golos pela Seleção e aos 794 na carreira (!), números de tal maneira brutais que não vale a pena tentar entendê-los. Quem também aproveitou estes dois jogos para fazer história foi o próprio Estádio do Algarve, um dos vistosos elefantes brancos herdados do Euro-2004 (custo total de 66,3 milhões, segundo uma auditoria do Tribunal de Contas).
No final dos jogos com o Catar e o Luxemburgo, o recinto que também é casa da seleção de Gibraltar passou a ser o estádio português onde Cristiano Ronaldo marcou mais golos (16, todos com a seleção), ultrapassando Alvalade XXI, onde CR7 fez 12 golos (7 com a seleção, 4 com o Sporting, um com o Manchester United). O estádio algarvio (vai com 13 jogos e Portugal soma ali dez vitórias e três empates, nunca perdeu) também ultrapassou Alvalade XXI (12) e o Dragão (11) como palco de jogos da seleção, estando somente atrás da nova Luz (23). Ademais, foi no relvado de Cristiano que Rui Patrício se tornou ontem o primeiro guarda-redes a atingir cem jogos pela seleção, juntando-se ao clube dos magníficos (CR7, Moutinho, Figo, Pepe, Nani e Couto).