7 abril 2025, 07:00
Renato Sanches, um caso de estudo
A condição física do médio ao serviço do Benfica impede o desenvolvimento de um potencial que podia tê-lo levado a outros patamares. Será uma maldição entre o Parque dos Príncipes e a Luz?
'Tribuna livre' é um espaço de opinião em A BOLA aberto ao exterior, este da responsabilidade de Sérgio Loureiro Nuno, fisioterapeuta olímpico e professor universitário
A pior coisa que se pode fazer tanto na vida como no desporto, é desistir. Sendo a quarta lesão muscular na presente época desportiva, a pergunta que se coloca é: porquê tantas lesões? Renato Sanches foi sempre sustentado. Carregou o Benfica e Portugal às costas em 2016. Depois disso, conquistou independência financeira pessoal e familiar e conquistou mais títulos desportivos. Foi Golden Boy. Não precisa de provar mais nada. A não ser a ele próprio. Cada treino agora deve ser uma oportunidade para exercer a sua profissão com garra e mestria.
Dia-a-dia. Renato Sanches ama o futebol, todos sabemos disso. Mas mais do que isso, ama o Benfica. E, talvez por isso, esta foi a época desportiva em que teve mais lesões musculares. Queria tanto que não percebeu que ainda não estava preparado para voltar à sua melhor anterior versão.
As lesões musculares representam mais de um terço de todas as lesões definidas em função da classificação time-loss (em clubes europeus de futebol profissional de elite). Os músculos isquiotibiais, quadricípites, adutores e posteriores da perna são os mais afetados, representando cerca de 92% de todas as lesões musculares, sendo os isquiotibiais o subtipo mais comum.
Isso significa que, numa equipa com 25 jogadores, cerca de cinco a seis lesões nos isquiotibiais ocorrerão a cada época. De acordo com publicações recentes, a taxa de lesões nos isquiotibiais relacionada com o treino aumentou desde 2001 (aumento de 2,3% na taxa de lesões e aumento de 4,1% no impacto total de lesões nos isquiotibiais).
Há diversos fatores de risco para este tipo de lesão. Os não modificáveis incluem: idade, etnia e condições climatéricas. Enquanto outros são modificáveis: desequilíbrios musculares, défice de amplitudes articulares, alteração de estabilidade lombo-pélvica, lesão prévia e provavelmente a mais influenciável, metodologia de treino.
Ao compreender o mecanismo de lesão, os fatores de risco e as consequências que advêm das lesões dos isquiotibiais, é possível não só tratá-las como preveni-las. Para além da intensidade dos treinos, o calendário de jogos também contribui para a elevada incidência desta lesão. O aumento do número de jogos, associado à redução do tempo entre jogos durante a época, leva a um aumento do risco de lesão, uma vez que existe uma sobrecarga do atleta perante a intensidade do jogo.
A primeira lesão muscular oficial de Renato Sanches remonta ao período entre 7 de agosto de 2016 a 25 de agosto do mesmo ano. O jogador-prodígio das tranças em 2015/2016 desfez-se em jogos para ser figura, tanto no Benfica como na vitória de Portugal no Europeu. Certamente, também foi um fator importante para o dia de hoje. Excesso de carga na transição júnior-sénior.
Por outro lado, existe uma maior incidência de lesão no final de cada parte do jogo, devido à fadiga sentida pelos jogadores. Adicionalmente, os médios apresentam um maior risco de lesão, uma vez que é esta a posição que faz a transição defensiva para ofensiva e vice-versa, sendo necessários para a distribuição de jogo e, muitas vezes, de iniciar um lance de contra-ataque.
Um jogador de futebol profissional que se mantém lesionado durante grandes períodos na sua carreira irá experienciar alguma dificuldade em atingir o seu potencial máximo, dado que não consegue desenvolver as suas skills, quer por falta de competição, quer por falta de treino. Neste momento, mais do que regressar entre seis a oito semanas (tempo expectável neste tipo de diagnóstico clínico), é necessário reescrever uma nova versão de Renato Sanches. A margem é cada vez menor, mas é preciso que alguém acredite.
7 abril 2025, 07:00
A condição física do médio ao serviço do Benfica impede o desenvolvimento de um potencial que podia tê-lo levado a outros patamares. Será uma maldição entre o Parque dos Príncipes e a Luz?
Ao ver Renato Sanches a sair do campo cabisbaixo e com poucos gestos de apoio da sua família desportiva, senti uma enorme vergonha das pessoas que estavam ali. Renato Sanches pode ter cometido alguns erros na sua carreira (vale a pena perceber quais, pois ainda é jovem), mas ter opiniões radicais não faz sentido.
A carreira de qualquer atleta de topo é uma montanha-russa de conquistas e desilusões. Sempre me disseram que o desporto revela quem somos. E o Renato ainda vai a tempo de reescrever a segunda metade da sua carreira desportiva.