Renato Sanches, um caso de estudo
A condição física do médio ao serviço do Benfica impede o desenvolvimento de um potencial que podia tê-lo levado a outros patamares. Será uma maldição entre o Parque dos Príncipes e a Luz?
Em tese, os negócios do Benfica com o PSG têm sido excelentes, ou não tivessem passado pela Luz, Draxler, campeão do Mundo em 2014, Bernat, tetracampeão no Bayern e no PSG, e onde anda agora, de águia ao peito, Renato Sanches, campeão da Europa em 2016. Na prática, cada um destes jogadores, de extraordinário currículo, demandou a Luz em condições físicas abaixo do sofrível, e o contributo dado por eles à causa encarnada foi meramente residual. Por mais favoráveis ao Benfica que tenham sido as condições dos empréstimos, o clube acabou sempre no prejuízo, porque tapou, com alguém que tinha pouco para dar, o espaço onde podia evoluir quem tivesse mais para colocar dentro das quatro linhas.
Que conclusão deve ser retirada desta colagem de evidências? Que o Benfica deve abdicar de acolher jogadores emprestados? Não me parece. Que o Benfica deve ter os olhos no futuro, evitando de engordar galinhas que se destinam à canja de terceiros? Também me parece exagerado. A medida certa estará na avaliação de riscos, algo que, manifestamente, não foi cuidado. No futebol de hoje, o transvase de jogadores, seja na condição de emprestados, de cedidos com obrigação de compra, ou na base do ‘leasing’ com um preço final designado, faz parte das regras do jogo e não há clube que não recorra a estes mecanismos. O busílis está na forma como a transação é processada e, nessa matéria, uns têm revelado maiores aptidões que outros.
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Renato Sanches, e foi pelo médio encarnado, ‘made in Benfica’ após uma iniciação no Águias da Musgueira, que comecei esta dissertação, é um caso de estudo. Poderá dizer-se que saiu cedo demais e teve de enfrentar obstáculos para os quais não estava preparado. Francamente, é minha convicção que quem for por aí, irá mal.
O problema de Renato (quiçá insolúvel), não tem a ver com a dimensão do emblema que representa, ou com a latitude e longitude onde o faz, mas com insuficiências físicas que não deviam ser uma espécie de beco sem saída quando estamos a cumprir o primeiro quarto do século XXI. É uma pena que os melhores anos de Renato Sanches (que tinha tudo para ter o impacto de um novo Mário Coluna) estejam a ser desperdiçados entre hospitais e enfermarias.
Mas, friamente, Bruno Lage não pode contar com ele, mais do que os seus antecessores contaram com Draxler ou Bernat. É para ser usado, em condições especiais, e em doses homeopáticas, o que é um tremendo desperdício de talento. Porque, em 2025, Renato deveria estar no auge, a disputar com Vitinha, Bruno Fernandes e João Neves um lugar no melhor onze de Roberto Martínez. Assim, apesar de ser campeão europeu por Portugal, campeão nacional, pelo Benfica, e campeão da Alemanha e França, por Bayern e Lille, a sua carreira saberá sempre a pouco a quem gosta de futebol.
PS - Fiz a crónica do FC Porto-Benfica, razão pela qual não menciono o clássico nesta rubrica, o que seria redundante.
Não vale a pena comentar o clássico. A cabeça ainda está muito inchada e azia nunca mais passa