‘Reality show’!

OPINIÃO17.06.202206:30

A propósito da alegada pancadaria entre Otamendi e Seferovic no balneário da Luz

NÃO é, evidentemente, difícil compreender a preocupação dos benfiquistas pela facilidade com que surgem na praça pública notícias sobre o clube que deviam, em circunstâncias normais, ser privadas, muito em particular acontecimentos vividos, tudo indica, no sagrado balneário da equipa.
Na verdade, sempre se ouviu dizer no futebol que aquilo que se vive no balneário fica no balneário, do mesmo modo que na maioria dos casos, grande maioria mesmo, o que os jogadores dizem uns aos outros no campo de jogo fica no campo de jogo, a não ser os mais especiais casos de insultos racistas, que passaram a ser denunciados, e bem, apenas nos últimos 15 ou 20 anos.
Depois do que se diz ter acontecido com Pizzi no balneário do Estádio do Dragão após o FC Porto-Benfica da Taça, em dezembro, ou com Grimaldo, nas vésperas do último jogo do campeonato, deve ter sido mais um choque para os benfiquistas terem ficado a saber que Otamendi e Seferovic se terão agredido mesmo fisicamente após o Benfica-FC Porto, da Luz, que consagrou os portistas, em maio, como novos campeões nacionais.

Para os benfiquistas, seguramente que pior do que a agressão é toda a gente ter ficado a saber que se agrediram. Conflitos em balneários desportivos não faltarão ao longo dos longos meses de cada época. Ninguém pode imaginar que 25 ou 30 homens, todos altamente competitivos, se deem sempre maravilhosamente ao longo dos 10 meses que dura um campeonato. Impossível. Mas, por outro lado, toda a gente imaginará cada balneário como um inviolável e sagrado espaço dos jogadores. É o normal. Grave é saber-se, assim, o que lá se passa. Pelo que se tem visto nos últimos anos, tenho, porém, a teoria de que mais tarde ou mais cedo isso deverá, parcialmente, mudar, sobretudo no futebol do mais alto nível e nas chamadas mais mediáticas competições.

Por um lado, para satisfazer a curiosidade, o apelo e a paixão dos fãs, por outro para aumentar a exigência de atletas que ganham verdadeiras fortunas e precisarão de se habituar à ideia de que tudo, na sua vida estritamente profissional, deve fazer parte do espetáculo.
Talvez por isso, já se viu, nas redes sociais, um vídeo com Cristiano Ronaldo a entrar, furioso, no balneário, então da Juventus, a gritar e a gesticular com os companheiros e a discutir com o colombiano Cuadrado, ou, no balneário do Tottenham, o coreano Son e o guarda-redes Lloris quase andarem à pancada, ou, noutro plano, palestras de Guardiola antes ou no intervalo de jogos, apimentando a ideia de que o futebol, mais tarde ou mais cedo, será também um reality show.
Vou gostar que cheguem esses dias? Não sei, sinceramente. Mas, a mim, parecem-me inevitáveis…  

JÁ passou um mês desde que alguns jogadores profissionais do FC Porto resolveram mostrar-se publicamente a cantar ofensas ao Benfica, entre eles dois jogadores que ainda agora estiveram ao serviço da seleção de Fernando Santos, e ainda não ouvi qualquer reação de um único responsável do futebol português (Liga e Federação), e muito menos do FC Porto.
Para toda esta gente, parece, pois, um caso sem qualquer importância, e ainda que tenhamos de esperar pelo inquérito aberto por queixa do Benfica, está legitimada a ofensa por parte de profissionais do futebol exatamente pelas entidades que o deviam regular também no combate à falta de ética.
Não foi a primeira vez que jogadores do FC Porto ofenderam o rival. Volto a recordar: em anteriores celebrações de títulos, outros jogadores fizeram o mesmo. Não foi a primeira vez e, por este andar, não será a última.

Já nem falo dos responsáveis do FC Porto (com toda a franqueza, também não esperava outra coisa…), nem dos próprios jogadores, certamente educados para não pedirem desculpa, mas um mês não foi suficiente para que Liga ou Federação tivessem uma palavra, uma posição, uma reação. Deviam, em última análise, importar-se com tudo o que diz respeito à imagem do futebol profissional em Portugal.
Se o querem vender melhor, comecem por cuidar melhor dele. Não se trata do comportamento de adeptos; trata-se da disciplina e ética de profissionais. Parece-lhes pouco?!

APESAR de estrela, mais bem pago jogador do mundo, para muitos (onde me incluo) melhor futebolista da atualidade, não ficou bem ao jovem Mbappé vir desdenhar do futebol sul-americano e das facilidades das qualificações sul-americanas para seleções como as do Brasil e Argentina, e escusava, em resposta, de ouvir o que ouviu da boca de jogadores como os argentinos Lautaro Martínez ou Emiliano Martínez (avançado do Inter de Milão e guarda-redes titular da seleção que defende o Aston Villa) ou do brasileiro Fabinho, do Liverpool. Para os três, jogar na América do Sul pode ser diferente, mas não é nada fácil, e não mais fácil do que na Europa.  
«Jogar com a Bolívia, na incrível altitude de La Paz (3700 metros acima do nível do mar!!!...), no Equador com 30 graus, na Colômbia, quase sem poder respirar… Eles, na Europa, jogam em relvados perfeitos, até regados sempre que há conveniência. Não sabem o que é jogar na América do Sul.»
E, na verdade, parece-me que Dibu Martínez (como é tratado Emiliano) tem toda a razão, apesar de ser praticamente impossível suceder com Brasil e Argentina na qualificação sul-americana para o Mundial o que acaba, na qualificação europeia, de suceder com uma seleção campeã do mundo como a Itália, que estará ausente do próximo Campeonato do Mundo.

A verdade, porém, é que também na Europa as qualificações - com muito mais seleções do que na América do Sul - acabam por favorecer habitualmente as melhores equipas e é raro não estar na fase final do Mundial uma seleção de primeira linha como a Itália.
O que Mbappé quis, ainda, dar a entender é que as competições na América do Sul são mais fracas do que na Europa. Permito-me discordar, sabendo, naturalmente, que é na Europa que está o melhor futebol, mas sobretudo o mais rico, o mais luxuoso, o mais requintado, e também o mais organizado, fiscalizado, cuidado e escrutinado. Mas nem por isso o mais difícil. Como sublinhou Dibu Martínez, nem me atrevo a imaginar o que será jogar a 3700 metros de altitude ou no calor sufocante de Equador ou da Colômbia…

Aliás, ainda esta semana, Abel Ferreira, o bem-sucedido treinador português do Palmeiras, se atirou aos críticos do futebol brasileiro, afirmando que os europeus (como ele) só ganham noção da competitividade e dificuldade do campeonato brasileiro quando trabalham nele. Sim, jogar de três em três dias, fazer viagens de 4 e 5 horas de avião para fazer uma partida do campeonato, ora com 30 graus à sombra, ora com temperatura negativa, ora com humidade brutal, ora com ar seco e pouco respirável, é uma realidade que as ligas do futebol europeu não conhecem.
Algum outro campeonato, no mundo, tem duas ou três históricas equipas campeãs a jogar na segunda divisão? No Brasil, de momento, estão na Série B clubes como Vasco da Gama, Cruzeiro e Grêmio, e vale a pena lembrar que ainda há dois ou três anos, por exemplo, a equipa do Grêmio era considerada uma das melhores de toda a América do Sul.

Um menino como Mbappé, estrela maior do futebol atual, campeão do mundo aos 19 anos e seis meses, e a quem só falta oferecerem a Torre Eiffel, devia ter tido a humildade de, no mínimo, perceber que pela boca morre quase sempre o peixe. E se as grandes seleções europeias são, sempre, as mais bem preparadas, como diz Mbappé, como explicar o fracasso da sua França nesta Liga das Nações ou as humilhações por que acabam de passar Inglaterra ou Itália? O futebol pode ser (e é, certamente) diferente em todo o lado. Mas não deve ser olhado como mais ou menos difícil. Deve, sim, ser olhado sempre como apaixonante!

DEPOIS da despedida de Marcelo, do Real Madrid, é agora a vez de Daniel Alves, outra lenda brasileira, se despedir pela segunda vez do Barcelona, de onde já tinha saído, em lágrimas, há seis anos.
Marcelo deixa Madrid como o jogador mais titulado de sempre do Real - 25 títulos, aos 34 anos. Cinco Ligas dos Campeões, 4 Mundiais de Clubes, 3 Supertaças Europeias, 6 Ligas espanholas, 2 Taças do Rei e 5 Supertaças de Espanha.

Dani Alves é, recordo, o jogador com mais títulos oficiais na história do futebol, nada menos do que 41, e diz último adeus à Catalunha com 39 anos e 23 títulos  só no Barcelona - 3 Ligas dos Campeões, 3 Mundiais de clubes, 6 Ligas espanholas, 3 Supertaças Europeias, 4 Taças do Rei e 4 Supertaças de Espanha.
Marcelo lateral-esquerdo, Dani Alves quase sempre lateral direito. Mas não estaremos a falar de dois dos melhores jogadores deste século? A propósito de laterais, também ouço por aí que o nosso João Cancelo, do City, e o inglês Alexander-Arnold, do Liverpool, são hoje os dois melhores laterais do mundo. São? Não serão, simplesmente, dois dos melhores jogadores do mundo da atualidade?!
Para mim, são. Em absoluto!