Queda para o teatro

OPINIÃO05.04.202207:00

Sejamos claros: esse tipo de erros acontecem porque os árbitros decidem a medo

PONTO prévio: os futebolistas merecem respeito. O seu talento, empenho e profissionalismo são (quase sempre) inatacáveis. Eles são as estrelas maiores do espetáculo, a sua força motora. O que está em causa na crónica de hoje não é, nunca será, tudo aquilo que acrescentam de bom. O que está em causa é a recorrente tendência que alguns têm para enganar árbitros, colegas de equipa, treinadores e até os próprios adeptos.
Vamos ser claros e tratar este assunto com a frontalidade que deve ser tratado: o jogador que insiste em fazer batota sistemática durante o jogo, é batoteiro. Ponto final, parágrafo. E os batoteiros, todos os batoteiros, deviam ser impedidos de participar no jogo até que mudassem a postura. Até que percebessem que ganhar bem não é sinónimo de ganhar a todo o custo, fazendo tábua rasa da ética subjacente à sua profissão. De cada vez que um jogador escolhe inventar um expediente para desvirtuar a realidade competitiva, está a violar a essência do seu trabalho e a beliscar a sua integridade profissional.
Acredito que nenhum deles terá bem noção da falha moral em que incorre de cada vez que opta por mergulhar para a piscina. Nenhum deles terá bem noção do dano que causa à verdade desportiva de cada vez que finge ser agredido ou que provoca um contacto, só para poder cair inanimado na área adversária.
Essas chico-espertices, cada vez mais em voga, acontecem por várias razões: a  primeira é que a luta pela sobrevivência obriga ao salve-se quem puder. Vale tudo para ganhar, até enganar. A segunda advém das próprias leis de jogo, demasiado brandas com este tipo de artistas. Se a sanção fosse pesada, acabavam logo as brincadeiras. Por último, importa reconhecer que algumas decisões dos árbitros legitimam estas palhaçadas: ou matam tudo o que mexe, apitando excessivamente, ou permitem canela até ao pescoço, deixando jogar para lá dos limites. Depois ainda há o VAR, que às vezes não se mete quando devia e noutras vezes mete-se onde não devia.
Mais uma vez, sejamos claros: esse tipo de erros acontecem porque os árbitros decidem a medo. Hoje em dia, dirigir jogos de FC Porto, SL Benfica e Sporting CP é um filme de terror, porque o day after pode ser catastrófico para a sua imagem e carreira. É esse receio subconsciente que afeta a sua segurança e serenidade, dimensionando os erros para um patamar inaceitável. Se a arbitragem protegesse e defendesse melhor os seus principais agentes, eles errariam menos.
Já os três clubes grandes aproveitam toda esta confusão para defender o que lhes dá mais jeito, a cada momento: o toque ou a queda aparatosa podem ser faltosos ou ridículos, depende do que lhes servir melhor. É como é e é claramente assim.
E andamos nisto. Penáltis tecnológicos, desmaios nas áreas, contorcionismo no relvado e pedra para cima do árbitro. Dedo para aqui, dedo para ali, fim de época, hibernação, gira o disco e toca o mesmo.
Temos ou não temos o futebol que merecemos?