Prevenir é melhor do que remediar

OPINIÃO10.02.202206:00

A FPF deveria criar um observatório do futebol, com personalidades de reconhecida imparcialidade e saber

Em Portugal, temos de estar sempre atentos às decisões que podem contribuir para um melhor futebol. A competitividade deve garantir maiores equilíbrios, arbitragens mais competentes, menos tiques autoritários e um clima de maior rigor entre todos. Profissionais da mesma área devem defender o prestígio da profissão, para valorizar o jogo e os participantes. A FPF deveria criar um observatório do futebol, com personalidades de reconhecida imparcialidade e saber, para identificar as lacunas que prejudicam e apresentar soluções que permitam um crescimento qualitativo. Antecipar com competência é sempre construir com excelência. Temos talento a todos os níveis, mas falta-nos a capacidade de organização, a criação de planos rigorosos que permitam reduzir simulações, perdas de tempo e critérios imparciais que reduzam focos de tensão nos lances mais duvidosos, para não acrescentar suspeição e violência. O VAR nunca deve ser defraudado quando é o próprio árbitro a interromper a jogada, impedindo a análise da decisão, bastando deixar correr o lance e depois anular ou validar, com auxílio da tecnologia: afinal, para que serve? Por outro lado, quando um jogador aplaude uma decisão de arbitragem, com evidente ironia, tem de ser penalizado: o futebol exige respeito e ética e os comportamentos dos atletas são essenciais para valorizar ou desvalorizar o jogo, eliminando fanatismos doentios. A prestação dos adeptos contribui para que o futebol continue a ser uma festa mágica intemporal. Por outro lado, é urgente reduzir paragens e fingimentos ao longo do jogo, assim como os árbitros devem manter uma uniformidade de critérios que garanta equidade. Os adeptos devem aplaudir as suas equipas, sem tempo para criar conflitos, mas para apreciar o espetáculo, vibrar com as emoções e tentar ser o apoio mais eficaz ao seu clube. A transparência evita a desconfiança, por isso, divulgar publicamente (até nos estádios) os diálogos entre árbitros e VAR será um passo decisivo para maior respeito pelo futebol, não alimentando fogueiras destrutivas. Há várias formas de prestigiar o jogo. Analisemos algumas dimensões: o FC Porto, ao longo dos anos, integra jogadores oriundos de mais de 50 países, dos vários continentes, alcançou todos os títulos nacionais e internacionais (com exceção da Taça da Liga) nos últimos anos, com resultados de eleição; é a equipa com mais remates por jogo, com um plantel de muitos jovens formados no clube e no índice de intensidade de jogo mantém a liderança, com vantagem significativa. A ausência do público pela pandemia criou uma perda superior a quatro milhões de euros na bilhética, num total global superior a sete milhões. Se for concretizado o aumento divulgado pela UEFA para a solidariedade, desenvolvimento do futebol jovem e investimento em infraestruturas para clubes sem competições europeias (mais de 1500 clubes), está encontrado o rumo para superar o défice desportivo que penaliza Portugal e muitos outros países. Aguardemos!

«A prestação dos adeptos contribui para que o futebol continue a ser uma festa mágica»

PROTEGER

Em França, sucedem-se situações de violência na respetiva Liga, que podem ter repercussão alargada noutros países.
São várias as decisões de interditar estádios, porém, sem conseguirem reduzir sucessivos e violentos incidentes. Os clubes não conseguem assumir, com resultados positivos, o combate à impunidade. Falta aplicar com maior rigor a legislação para punir os responsáveis por atos de violência. O próprio governo combate essa situação e a pandemia não contribui para o sucesso necessário. Num jogo com condições para uma partida que se aguardava sem incidentes (Montpellier-Marselha), um jogador da equipa visitante foi atingido com uma garrafa lançada por adepto da equipa visitada; a partir desse momento, a violência transformou um jogo de futebol num cenário de guerra. Em França (e não só), o futebol permanece enfermo e a necessitar de eficiência. Portugal tem de estar muito atento e com planos de prevenção ajustados e pragmáticos, para evitar situações que originem confrontos violentos, que facilmente alastram em diversos países da Europa. Procuremos ser exemplares, enfrentando as questões para nunca se perder o controlo da situação. Trabalhar em conjunto com adeptos e claques organizadas é atitude inteligente que pode assegurar o crescimento e a valorização do nosso futebol, utilizando, como mediadores, grandes estrelas de cada clube: exemplos de clubismo e desportivismo. É necessário evitar que o foco se centre nos confrontos entre adeptos, evitando provocações, desordens e insultos. Respeitar cada clube é um direito de todos. As multas avultadas, resultantes das atitudes violentas e da utilização de material proibido nos estádios, com perigos vários, têm de ser repensadas para se investir verbas adequadas que sirvam o clube (apoios mais fortes nas deslocações, venda de merchandising do clube, convívios por todo o país para analisar a prestação das equipas, fomentar sugestões para valorizar o clube e reforçar distinções por comportamento a destacar, inclusive criar o Dia da Casa do clube, em cada região). Quando um jogador afirma, na Comunicação Social, que a sua atitude é difícil e provocadora, não são os outros que têm de mudar: nesse caso, a humildade não pode ser palavra oca e as suas atitudes devem ser penalizadas, justamente até que consiga modificar e manter a dignidade que a camisola do seu clube o deve obrigar; após essas afirmações inaceitáveis, árbitro e delegados, o que fazem? Precedentes desses não se podem tolerar!


PLANEAR

O futebol inglês criou um plano de proteção da saúde mental dos jogadores, com base na pesquisa, na formação e no apoio aos jogadores. A federação inglesa e a Premier League criaram um plano conjunto para promover e proteger «a saúde cerebral dos jogadores» em função dos riscos dos cabeceamentos. No passado, o tema da demência no futebol profissional passou a ser mais apoiado, a partir do falecimento do antigo jogador Nobby Stiles, diagnosticado com essa doença, para se conseguir reduzir o perigo das lesões cerebrais. O presidente da federação inglesa de futebol alertou que se trata de um universo complexo da investigação médica, que deve agregar várias áreas. Enquanto a investigação avança, as tutelas do futebol inglês vão desenvolvendo diversos projetos que permitem reduzir os riscos. Por essa razão, a Liga inglesa divulgou que o seu futebol iria limitar o número de «cabeceamentos com força nos treinos» a 10 por semana, a partir da temporada de 2021/2022, como proteção dos jogadores. No início do ano, a Premier League introduziu, como fase experimental, as substituições adicionais em caso de concussão. Exemplos para reflexão!


DESTAQUES DA JORNADA

O Vitória, em Guimarães, venceu o SC Braga com golo decisivo nos últimos minutos. O Gil Vicente, que tinha vencido na Luz, em Barcelos não conseguiu superar o novo Santa Clara de Mário Silva. O FC Porto, em Arouca, foi enorme até ao fim, mantendo percurso imbatível; só não se entende como o Arouca não tem sempre a mesma prestação que conseguiu frente aos azuis e brancos.

REMATE FINAL

— Uribe é um jogador colombiano que atua no meio-campo do FC Porto, com intensidade, controlando o jogo, fazendo a ligação defesa-ataque com eficiência. Corta as jogadas ofensivas do adversário, fecha espaços, luta pela posse, bem posicionado, faz assistências que dão golo, marca e está sempre em jogo, impedindo a progressão do adversário e transformando cada recuperação em ataque focado na organização coletiva. Corre quilómetros, sem se dar conta, tem uma leitura rápida de jogo, o que permite defender com segurança, atacar com definição, assim como rematar com força e cabecear com colocação. Sem posse de bola, não descansa até a conseguir conquistar.

— O treinador do Milan, Stefano Pioli, afirmou: «O Rafael Leão deve continuar a trabalhar com grande convicção e ambição, porque pode tornar-se uma das referências do futebol europeu. Por vezes faz-me lembrar Thierry Henry quando ele começou a jogar na esquerda e depois passou para o centro. Tem de continuar a trabalhar no duro, trabalhar também a sua cabeça para ser ainda mais ambicioso, para poder chegar ao topo do mundo.»

— A Seleção Nacional de futsal venceu dois Campeonatos Europeus seguidos, acumulando-os com o Campeonato Mundial: muitos parabéns.

— O antigo treinador italiano Arrigo Sacchi destacou como equipas que praticam o melhor futebol da Europa o Liverpool, o Manchester City e o FC Porto.