Parabéns, senhores árbitros
'Claque' dos árbitros no Áustria-França. Foto: IMAGO

Parabéns, senhores árbitros

OPINIÃO25.06.202407:30

Euro está a correr bem aos árbitros e quem beneficia é o futebol. Que assim continue

A Escócia terminou a participação no Euro 2024 com duas derrotas e um empate e, como manda a tradição, o selecionador aproveitou a última conferência de imprensa para se queixar do árbitro. O lance na área húngara em causa envolveu Stuart Armstrong e Willi Orban e é daqueles vídeos que podemos ver muitas vezes e ir mudando de opinião: por vezes parece penálti claro, por derrube do escocês, noutras parece que este deixou a perna à espera do contacto e que até puxa o adversário para se embrulharem um no outro.

Nestes casos, aquilo que o Comité de Arbitragem da UEFA determinou para este Campeonato da Europa é que o VAR só deve recomendar ao árbitro principal a revisão do lance se a falta for clara e evidente - o que me parece uma evolução muito positiva, para que a tecnologia deixe de continuar a estar associada à subjetividade. Ora, por muito que custe aos escoceses (e até a mim, que acompanhei com agrado a festa destes adeptos desde dia 14 de junho), o VAR fez bem o seu trabalho.

E esta tem sido, aliás, a tónica durante o Euro 2024. Os jogos têm sido interessantes, muitos intensos e, com a chegada da hora das decisões, sempre emocionantes. E, para isso, também têm contribuído os árbitros. São bons e, assim, não receiam as suas decisões (são mais respeitados pelos atletas por isso), não param o jogo em demasia, distribuem cartões com moderação (mas sendo implacáveis quando está em causa a integridade física dos jogadores, como na entrada duríssima de Porteous sobre Gundogan no jogo inaugural), não precisam de se impor com discussões (só o capitão tem autorização para falar com o árbitro, os restantes correm o risco de ver um cartão) e têm a ajuda da tecnologia para tornar a partida mais justa, mas sem paragens excessivas de tempo que tiram ritmo e interesse e sem decisões subjetivas que só aumentam a desconfiança - e os respetivos queixumes.

Por isso, parabéns aos árbitros e às recomendações que melhoraram o espetáculo e que têm assegurado que o Europeu continue a ser incrível de acompanhar, com três jogos durante o dia ou dois ecrãs em simultâneo para ver como acaba cada grupo (vamos ter saudades!). Que Artur Soares Dias e a restante comitiva portuguesa da arbitragem possam estar entre os melhores nestes momentos também é motivo de orgulho, ainda que eu não seja nada dada a nacionalismos.

Mas claro que tudo isto só é válido até Portugal ter uma razão de queixa. Não façamos de conta que de repente estamos todos muito evoluídos desportivamente. O Euro 2024 pode não ter rivalidades e azia ou gozo com o colega de trabalho no dia seguinte, mas isto só é tudo muito bonito enquanto se ganha e não há chatices. No fundo, percebemos bem Steve Clarke: quando precisamos mesmo de um penálti para nos salvarmos, é natural que todos os duelos na área adversária pareçam falta. Não é subjetivo, é humano. Como os árbitros, já agora.