Para lá do Sacchi

O que o FC Porto no «melhor futebol da Europa tem a ver com Taribo (e Amorim)

HOUVE quem se embasbacasse, eu não: percebi bem o que é que Arrigo Sacchi quis dizer ao afirmar que os treinadores (para serem muito bons…) «têm de acreditar no que fazem e no seu próprio jogo» - e que, por isso, é que, para si, a realidade é a que é:
— O Liverpool e o Manchester City mas também o FC Porto são as equipas que estão a exprimir o melhor futebol da Europa…
e, percebendo bem o que é que Sacchi queria dizer - saltou-me à ideia Marcello Lippi, o Lippi a revelá-lo: que, treinador do Inter, por várias vezes, apanhara Taribo West, a suplicar-lhe:
— Mister, Deus acabou de um dizer, outra vez que tem de me por a jogar mais…
e Lippi, sem se desmanchar, retorquia-lhe (mais ou menos divertido):
— É estranho porque a mim, Deus não me disse nada disso…
Ou então que, em certo treino, vendo Lippi a atirar-lhe em brado:
— Taribo pressiona no ataque!
West lhe chutava, descomprometido, o bramido para canto - e Lippi, irritado por lhe repetir a ordem em vão, lançava-lhe a pergunta (a descabelar-se):
— Taribo não me ouves? Porque não pressionaste?!
e, desconcertante (ou não) era o clamor que West lhe atirava (sem variar):
— Ouvi mister… Só que Deus diz-me para eu não pressionar e, para mim, sagrada só há uma palavra: a de Deus!
Por que me lembrei do Lippi (e do West) ao ler o Sacchi? Por que acho que se este FC Porto é o que é, só o é porque dentro do campo (em treino ou jogo) há uma palavra sagrada no seu evangelho: Conceição. A palavra que, ao Sérgio, salta à ação, da sua cabeça e do seu coração, do seu espírito e da sua argúcia (e de mais...) - e, por isso, jogador que lhe apareça no vestígio ou na tentação de Taribo (e não apenas na questão do pressionar...) tem destino certo: o seu inferno. E se essa é, afinal, a razão do paraíso onde se vê o FC Porto - onde vê Conceição, também se pode ver  Amorim (e Abel...).