O último a rir!

OPINIÃO22.10.202107:00

Era preciso um grande Benfica, que não está, ainda, em condições de ser assim tão grande

Epronto, estão despachados os nossos três grandes com goleadas sofridas na Liga dos Campeões, que é para ninguém se ficar a rir. A rir, por último, ficou o Bayern, depois de Liverpool (5-1 ao FC Porto) e Ajax (5-1 ao Sporting) terem varrido o país futebolístico. Agora, coube ao Benfica saborear o veneno de pesada derrota, aos pés do fantástico futebol de Munique. No fim de contas, todos goleados por adversários que, na realidade, estão muitos (e bons) degraus acima das nossas melhores equipas. O resto é conversa.
O Benfica levou, agora, 4 da melhor equipa do mundo do momento. Sim, é verdade que resistiu ainda muito tempo, mais de uma hora, até sofrer o primeiro golo (de livre direto), mas até aí o VAR já tinha anulado dois golos ao Bayern e o ferro da baliza de Vlachodimos evitado outros tantos. Mas, sim, concordemos então que o Benfica foi fazendo o que pôde para adiar o que sempre pareceu mais do que inevitável, e, sim, concordemos que a equipa da Luz até procurou, e conseguiu, aqui e ali, esticar o jogo, ameaçar a baliza do gigante e extraordinário guarda-redes do Bayern, e se as contas não me falham até pertenceu a Darwin a primeira situação de golo, com um remate a que Neuer respondeu com notável intervenção.
Concordemos, ainda, que até o talentoso Leroy Sané executar aquele livre direto a que Vlachodimos não conseguiu opor-se, dando, aliás, a ideia de não conseguir estar à altura da exigência (é a ideia que me ficou, com toda a franqueza), o Benfica lá ia dando conta dos recados, umas vezes com mais dificuldade (e alguma sorte), outras com mais competência, e a verdade é que chegou mesmo a parecer que acabaria, mesmo na eventualidade de perder, por nunca se desmoronar, ao ponto de ser goleado.
 

COM o primeiro golo dos germânicos, Jorge Jesus ainda foi à procura de alguma coisa, trocando Yaremchuk, visivelmente desgastado por tanta luta ter dado, pelo brasileiro Everton, passando o veloz Darwin para referência ofensiva, capaz de continuar a usar a sua invulgar velocidade para atacar todos os espaços possíveis ou, como tanto se diz agora, a profundidade. Com o que ninguém contava, e muito menos Jesus, era com o autogolo do infeliz Cebolinha, não conseguindo evitar intervir de cabeça para o pior sítio após o cruzamento do inacreditavelmente ágil Serge Gnabry, em campo nem há um quarto de hora e, por isso, fresquinho como uma alface.
Com esse 0-2, e logo através de um tiro no próprio pé, Jesus deu o jogo como perdido e, de imediato, poupou João Mário, Rafa e Darwin a maiores sacrifícios. Entendeu o treinador do Benfica, e talvez bem, que perder, fosse como fosse, neste caso, seria sempre perder apenas três pontos, e perdido por perdido, entendeu ser mais importante poupar gente importante para os desafios que se seguem. É um ponto de vista, absolutamente defensável, sobretudo para quem tem a responsabilidade de gerir, preparar, prever, planificar.
Talvez os adeptos sintam a coisa de um modo diferente, e talvez para eles, mais do que certo, perder por 2 não é bem a mesma coisa que perder por 4, como o Benfica acabou por perder, com mais dois golos de rajada (em apenas quatro minutos, sofreu três, note-se!) a crucificarem uma águia que chegou a fazer pairar na Luz a sensação de poder, desta vez, fazer realmente uma gracinha frente a um dos principais favoritos a vencer esta Liga dos Campeões.
 

PARA uma gracinha frente a um poderoso adversário, além da ponta de felicidade que o Benfica também teve em muitos momentos, seria provavelmente necessário ter, por exemplo, laterais com dimensão atlética superior às de André Almeida (ou Diogo Gonçalves) e Grimaldo, um João Mário e um Rafa mais inspirados, ter, pelo menos, um dos centrais que fosse mais rápido, e, ainda, não falhar, no mínimo, uma das raras ocasiões de golo de que, porventura, viesse a dispor.
Num jogo assim, frente à melhor equipa do mundo, a maioria das equipas consegue, regra geral, uma ou duas oportunidades para marcar e, portanto, tem de saber concretizar uma delas.
Confirmando porque é um dos três melhores guarda-redes do mundo, Manuel Neuer, vendo duas bolas de golo direitinhas à baliza, fez duas grandes defesas. E não precisou de fazer mais. No resto, foi Yaremchuk que não decidiu bem, foi Rafa que quase sempre escolheu o pior caminho, foi Lucas Veríssimo que não teve felicidade naquele cabeceamento que levou a bola a passar muito perto do poste direito de Neuer. Podia, pois, o Benfica ter feito um golo; como não fez, conseguir uma gracinha frente ao Bayern seria pouco menos que um milagre.
 

VAMOS a outro dos pontos essenciais da partida que levou cerca de 55 mil pessoas à Luz - a diferença de andamento das duas equipas, que é verdadeiramente impressionante, já para não falar da dinâmica, velocidade, rapidez de reação, qualidade e precisão de passe, talento individual, visão de jogo, intensidade sobre a bola, que o Bayern mostra como credenciais daquela que é, realmente, para mim, a melhor equipa europeia do momento, sendo que a melhor equipa europeia será, sempre, ou quase sempre, a melhor equipa do mundo, sabendo-se como as melhores equipas e os melhores jogadores do mundo estão na Europa e competem, regra geral, na melhor prova de sempre, que é esta impressionante Liga dos Campeões, esta época particularmente surpreendente nalguns resultados e em demasiadas goleadas, e num muito surpreendente campeão da Moldávia (o Sheriff), que se mantém, para já, na liderança de um grupo com Real Madrid e Inter.
Foi, na verdade, a melhor versão do Bayern a que surgiu na Luz, tal a qualidade, velocidade e incessante manobra ofensiva do seu jogo. Quantos passes perderam os jogadores do Bayern? Quantas foram as falhas de ligação na construção atacante? Quantas variações de jogo resultaram e que com rapidez?
O jogo da equipa de Munique é tão fluído, tão simples, tão objetivo, tão rápido, tão dinâmico, tão diversificado, são os jogadores do Bayern tão fortes nos duelos, na pressão e na visão de jogo, que para qualquer adversário é absolutamente gigantesca a tarefa de ganhar qualquer superioridade, por mais pequena que ela seja.
Com o fantástico estratega no meio-campo que é Joshua Kimmich, muito é capaz de produzir a terrível linha de quatro atacantes do Bayern (que, por vezes, é de cinco, somando um dos laterais, à vez…), com Sané, Mueller, Coman e o incontornável Lewandowski a darem verdadeiramente cabo da cabeça aos adversários, sejam eles do Benfica, do Barcelona ou do Bayer Lerverkusen. Nos 13 jogos oficiais realizados esta época, o Bayern já soma 56 golos! Só mesmo um grande Benfica, pois, não seria, igualmente, varrido pelo tornado de Munique. Só que este Benfica, na verdade, parece não estar ainda em condições de ser assim tão grande!
 

Ocampeão nacional Sporting e o vice-campeão FC Porto lá ressuscitaram nesta terceira jornada. O leão goleando fora, o dragão reinando em casa. Mas com diferenças que os resultados não traduzem com exatidão.
Ganhar fora de casa na Liga dos Campeões tem sempre de ser visto como muito bom; golear, então, é fantástico. Esse é um ponto de ordem que deve ficar claro. Teve, porém, o jogo da Turquia características absolutamente invulgares que quase deixaram a perspetiva do resultado ao sabor de uma espécie de jogo de hóquei em patins. No final de contas, vendo agora, o Besiktas-Sporting bem que podia ter terminado num 4-8, ou coisa que o valha…
Esteve, ainda assim, a clara superioridade que o leão acabou por vincar, fortemente ameaçada em vários momentos do jogo, desde logo naquele primeiro quarto de hora, por exemplo, e quer-me parecer que foi o Sporting o grande responsável pelo jogo, a dada altura do segundo tempo, ter entrado numa espiral verdadeiramente louca de espaço, descontrolo, desequilíbrio, sucessão de oportunidades numa e noutra baliza, por não ter sabido o leão controlar a bola, ou por não lhe ter Rúben Amorim dado melhores instrumentos para afinar a música, quando, sobretudo, a falta de objetividade e serenidade de Matheus Nunes e a inconsequência de Pedro Gonçalves talvez aconselhassem a entrada mais cedo de Daniel Bragança e Nuno Santos.
Pôde o leão, no fim, esfregar a barriga, saciada por quatro golos, não apenas por ter sido, desta vez, competente em muitos momentos do jogo, mas também por ter enfrentado uma equipa que de equipa pouco tem e se vale de três ou quatro jogadores com mais talento, e outros três ou quatro fisicamente muito fortes. Indiscutível, em todo o caso, a justiça da vitória do leão, que bem mereceu ainda aquela cereja verdadeiramente doce dada pelo notável golo do incansável Paulinho.
Já o FC Porto, foi tão superior ao Milan e tão próximo dos melhores Portos que têm sido servidos na Champions, que só dá mesmo é vontade de reclamar da infelicidade pelo magro 1-0 final. Mas deixo uma última nota: desta vez, talvez devessem ter ido os jogadores à conferência de imprensa final. Mereciam.
Afinal, caro Sérgio, de vez em quando, a mensagem lá passa!...

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