O tempo
Frederico Varandas está a fazer um trabalho de reabilitação do Sporting já suportado em algumas conquistas interessantes num clube que não está habituado a ganhar com muita frequência no futebol profissional. Os clubes, cada vez mais, deixaram de ser exércitos de um só homem, embora quem se senta na cadeira do poder tenha sempre a tendência para procurar a glorificação por parte dos fiéis da sua religião.
O presidente dos leões herdou o clube numa situação complicadíssima, com as contas em alvoroço, um plantel profissional que tinha sido esfrangalhado e uma massa adepta dividida não em termos contabilísticos - mais de dois terços dos sócios que se manifestaram em AG disseram que a porta da rua era a serventia da casa para o anterior líder - mas em termos de amplificação do ruído, porque os protestantes podem não ser muitos mas têm peso no estardalhaço que fazem.
Perante este cenário, era necessário comunicar com assertividade mas com ponderação e com linhas orientadoras bem definidas. As três têm sido cumpridas, num meridiano do... mais ou menos. A assertividade vai andando, as linhas orientadoras têm dias e a ponderação é como o tempo, pois quando faz sol andam as pessoas mais contentes, quando cai uma chuva há protestos, como se viu nas reações dos próximos do poder à entrevista de Sousa Cintra. Mas o maior problema de Varandas é mesmo o tempo. Não o meteorológico mas o outro, aquele que traduz uma ausência de título nacional por parte do Sporting há 17 anos, estando perto de igualar o seu maior jejum no futebol profissional (18 anos).
As explicações para tal podem ser muitas, mas um facto tem sempre a frieza dum facto e corrói as almas mais quentes, que em reação ficam ainda mais fogosas e podem perder o discernimento, o mesmo que falta a quem é dono duma agência que gere a comunicação dum clube e diz que não leu a entrevista do anterior presidente da SAD desse mesmo clube. Às vezes é só isto. Discernimento.