O tamanho

OPINIÃO13.07.202206:30

Os declarações de Enzo Fernández dizem mais sobre a incapacidade de olharmos para nós do que de alguma falta de respeito

Aconfissão de Enzo Fernández de que o Benfica é a porta de entrada para a Europa recuperou velha e gasta discussão, motivada por diferentes agendas, ignorância, ilusão ou simplesmente outro qualquer motivo que sirva para não aceitar a realidade. Poder-se-á argumentar que será sempre mais sensível alguém maquilhar o óbvio para não ferir adeptos mais sensíveis ou alimentar adversários mais coléricos. Mas não podemos ser os primeiros a querer que os jogadores falem mais para depois cobrar a honestidade deles, independentemente de cada declaração poder ser submetida a escrutínio. Aquilo que disse o médio argentino, admitindo que o Benfica pode ser passagem para clube maior, diz mais sobre a incapacidade de olharmos para nós próprios do que da manifestação de confiança do jovem ou de alguma falta de respeito que lhe queiram atribuir.

O Benfica é o maior clube português, em número de sócios e adeptos, aquele que tem a capacidade de produzir mais receitas, é força com um sem número de atletas, olímpicos ou de pesca desportiva, craques do relvado ou simples campistas, masculinos e femininos, com uma ação social extraordinária (e incrivelmente pouco comunicada) através da Fundação. Isto sem menosprezo de outros clubes. E o motor de tudo é o futebol. Com Luís Filipe Vieira, o Benfica cresceu nas infraestruturas e em número de troféus e deu um salto quântico na profissionalização. O Seixal, menina dos olhos do antigo presidente, e, seguramente, dos benfiquistas, é um Benfica dentro do Benfica, uma espécie de multinacional de produção de talento indispensável à consolidação do modelo financeiro que proporcionou o desenvolvimento desportivo no relvado, nos pavilhões, nas pistas ou nas piscinas, mas tão assética nas contas, números e análises que parece capaz de acabar com toda a matéria viva. O negócio, neste caminho de desenvolvimento, prevaleceu sobre o sentimento, com as consequências negativas que se conhecem de situações pouco transparentes. E com consequências também na própria cultura do que é o Benfica, no relvado e na identidade.

Terá chegado o momento, com Rui Costa, de se refletir sobre o clube. O Benfica, como é, tendo passado rico em história e memórias e presente suficientemente forte para alimentar as expectativas animadoras, parece desproporcional até ao próprio país. Precisará de tanto para ser maior? Não. Continuará a ser grande, mas não é do mesmo campeonato de Real Madrid, Barcelona, Man. City, Man. United, PSG, Milan, Inter ou Juventus, quando se fala na contratação de jogadores. Só valorizando aquilo que faz dele único (discussão para outros dias) poderá oferecer uma diferente capacidade de atração. Não é questão de tamanho. É de Benfica.