O que seríamos sem ti, Diego?

OPINIÃO30.11.202002:00

Quando parei, era noite. Não sou de deixar cair lágrimas sem controlo, mas assim que o WhatsApp se insinuou entre outras notificações, deixei-me ir. ELE morreu. MORREU. O invólucro tão maltratado, mutilado e envelhecido, desdenhado enquanto encarnado por um deus sem autoestima, não aguentou mais. Foram-se as gambetas.


Maradona é há muito imortal, mas o Diego bandeira dos pobres, o Diego símbolo da luta contra o poder, o Diego tão sanguíneo quanto leal, o Diego das imperfeições e da constante luta interna, far-nos-á sempre falta. Não há Maradona sem Diego Armando, não há barrilete cósmico, o cometa dos céus, sem o cometa de papel de Menotti, o barrilete-papagaio dançante, que tanto ia para a esquerda como para a direita e que caracterizava as indecisões de El Diez.
Também sem Maradona não haveria Messi. Ou Aimar. Riquelme. Ortega. Gallardo. D’Alessandro. Tantos outros ainda, que sonhavam ser eles o Pelusa que driblava a armada inglesa nas Malvinas em pleno Azteca. Ou simplesmente noutra cancha ou no alcatrão de Buenos Aires. Na Argentina e por todo o lado Maradona inspirava legiões e nem um passou perto. O Deus que fez da pior Argentina da história a melhor seleção do mundo e de um frágil Nápoles campeão do melhor calcio que a Itália agrupou não tem par. Sem Maradona, acredito que também o bom do Morales não seria Morales e até tivesse voltado ao seu Uruguai, Valdano não seria Valdano e eu, no meio da minha mediocridade, nunca seria eu.


A esses que tanto quiseram ser Maradona talvez tenha faltado um pouco de Diego, da sua humanidade, das causas, da vontade de mudar o mundo. Das imperfeições. Foram demasiado humildes ou demasiado perfeitos. Diego far-nos-á falta sempre que nos lembrarmos de Maradona. Porque, como bem dizia Morales: Es para llorar, perdonenme...