O que o Benfica tem e o FC Porto não
Rui Costa e André Villas-Boas, presidentes de Benfica e FC Porto, respetivamente (Fotos: SL Benfica e GRAFISLAB)

O que o Benfica tem e o FC Porto não

OPINIÃO20.08.202407:30

Rui Costa decidiu manter o treinador e dar-lhe novas armas para tentar regressar ao sucesso da primeira época de Schmidt na Luz. Villas-Boas arrancou o ano zero do Dragão e a pressão não é a mesma

Quando Rui Costa deu uma entrevista, no final da última época, tinha como principal missão defender a decisão de manter Roger Schmidt. E foi claro: a culpa do insucesso de 2023/24 foi mais dos erros de construção do plantel do que do treinador e não mudaria este, para não começar do zero. Depois, na assembleia-geral, teve um sinal muito evidente de que a paciência dos benfiquistas não tinha estabilizado só com as palavras do presidente.

Com o arranque da nova época, o Benfica tem mostrado, de facto, que não começou do zero. Ao primeiro desaire em Famalicão e até aos 70 minutos do jogo com o Casa Pia, os adeptos responderam exatamente como no ano passado: com assobios, desconfiança e o foco quase sempre em Schmidt.

Claro que os resultados daqui para a frente irão ditar como esta relação se desenvolve, mas não ajuda que o treinador continue a dizer que toda a gente ficou contente depois da vitória. Sim, os adeptos gostam de ganhar mais do que tudo e os jogadores precisam de vitórias para ir crescendo num ambiente mais favorável. Mas a continuidade tem este preço: fazer esquecer a época passada, os erros, as teimosias, as declarações falhadas e o futebol tristonho de um plantel com algumas falhas mas qualidade e investimento que justificam outros voos não vai acontecer com exibições duvidosas.

Schmidt continua a entrar para cada jogo ou conferência de imprensa como se não percebesse isto. A pressão que paira sobre a Luz não é a de um clube que entendeu e ultrapassou uma época falhada, mas antes a de uma massa adepta disposta a cobrar isso a cada momento, mesmo quando ganha. Rui Costa optou por não começar do zero, mas a confiança na decisão de manter o treinador continua em negativos.

Já no Dragão o cenário é bem diferente. Villas-Boas assumiu uma nova era e ainda que não deixe de cobrar «um novo ciclo de vitórias», a pressão esvaziou-se. O mercado ditou algumas saídas e não se questiona a saída de Evanilson mesmo sem outro avançado do mesmo nível à vista, porque é preciso dinheiro. A defesa tremeu em 25 minutos contra o Sporting na Supertaça, mas além de Pepe saiu mais um central (Fábio Cardoso) e, se Nehuén Pérez for demasiado caro, haverá ouro da casa (Gabriel Brás) que aguente. Vítor Bruno tem deixado habituais titulares de fora e os adeptos aplaudem a união do grupo, embora ver Pepê no banco de um plantel destes não faça sentido por muito mais tempo. A equipa ganha mas tem problemas, só que a má gestão anterior ainda justifica tudo.

A diferença é que o FC Porto começou mesmo do zero. Novo presidente, novo treinador, nova forma de se relacionar com os adeptos, que estão com toda a paciência do mundo. Os jogadores têm aproveitado: somam vitórias, o que naquele clube não é novidade, mas parecem mais felizes, mais soltos. Com menos pressão, lá está. O adiantar da época e os resultados dirão até quando isto vai durar, mas o ano zero dos azuis e brancos lá vai correndo bem.

É muito cedo para fazer comparações, mas as bancadas já são uma boa sondagem do que se espera de Benfica e FC Porto. Para já, a pressão está toda do lado de Schmidt e Rui Costa. Vítor Bruno e Villas-Boas agradecem.