O polígrafo

OPINIÃO09.11.201803:00

Hoje quero falar sobre o polígrafo, também conhecido por detector de mentiras. Para quem não saiba, trata-se de um aparelho que grava e mede registos de diversas variáveis psicossomáticas, gravações essas tendentes a apurar da existência de mentiras durante a produção de um relato. Embora um tal meio de obtenção de provas não seja admitido na ordem jurídica portuguesa, o mesmo é acolhido, todavia, por outras legislações - não obstante o risco que uma tal tecnologia comporta - embora como mero instrumento auxiliar da actividade jurisdicional. Gostaria de confessar que para a escolha da temática de hoje contribuiu, em larga medida, a realização, em Lisboa, da Web Summit, no decurso da qual foi apresentado, precisamente com o mesmo título (Polígrafo), um projecto jornalístico de fact checking visando a detecção de mentiras ou, se preferirem, de inverdades, produzidas nos mais variados domínios do espaço público (jornais, televisões, blogosferas, redes sociais, etc).

No mundo de hoje, com requintes comunicacionais nunca anteriormente pensados, vemo-nos confrontados, a toda a hora e a todo o instante, com uma profusão de notícias e eventos, muitos dos quais não têm qualquer base de verdade, destinando-se, fundamentalmente, nuns casos, a desinformar, noutros a suscitar as maiores interrogações sobre acontecimentos de indiscutível veracidade. Se, no campo político, tais procedimentos são o pão nosso de cada dia, o mundo do desporto não lhe fica atrás, existindo, em ambos os casos, com reiteração e persistência, um inequívoco aproveitamento da fraca memória dos povos. Se no caso do polígrafo/aparelho a sua implementação se me afigura de difícil concretização já no que concerne ao Polígrafo/jornal, o projecto que o mesmo encerra vai contribuir, estou certo, para desmascarar muita da verdade da mentira que por aí prolifera. Naturalmente que as pessoas e as sociedades não deixarão de evidenciar o mesmo leque de virtudes e defeitos que sempre patentearam. Porém, o recurso às novas tecnologias, in casu, permitirá um melhor rastreio das mentiras, meias verdades e inverdades produzidas com o consequente desmascaramento dos autores dessas fake news. No campo desportivo, será deveras interessante comprovar que, afinal, o dirigente A, B ou C, em tempos, havia já tentado crucificar o treinador ou influenciar pessoas e organizações ou que determinados comentadores desportivos, a propósito de uma mesma realidade, haviam produzido opiniões completamente distintas. Os exemplos não faltarão. É caso para dizer que, mesmo sem eléctrodos no corpo, os «poligrafados» que se cuidem.

PS: Arsenal 0 Sporting 0. Valeu o resultado.