OPINIÃO O olímpico Otamendi
Argentino disse que a prioridade era a seleção. Um capitão, mesmo que esteja vestido com as cores do país, não pode omitir o seu clube, até porque é este que lhe paga o ordenado
Nicolás Otamendi iniciou ontem a participação nos Jogos Olímpicos, aos 36 anos. Percebo a decisão do defesa-central. Depois de já ter ganho o Mundial, a Copa América e até a Finalíssima Intercontinental com a Argentina, falta-lhe o título olímpico. Pediu autorização ao Benfica para estar nos Jogos e o clube concedeu-lha, ao contrário de Trubin, que viu ser negada a intenção de representar a Ucrânia em Paris, depois de já o ter feito no Euro 2024.
Não me choca a desigualdade de tratamento. Não sou daqueles que consideram que somos todos iguais. Há sempre uns mais iguais que outros e as decisões, muitas vezes, dependem das circunstâncias.
Recordo, por exemplo, que Neymar foi a bandeira do Brasil nos Jogos de 2016, no Rio de Janeiro. Todo o país uniu-se em torno da seleção olímpica, até para esquecer a derrota no Mundial-2014…, e o Barcelona autorizou – os clubes não estão obrigados a ceder os jogadores para os Jogos Olímpicos - então a presença do craque, mas com uma condição: não disputaria a Copa América.
E é por aqui que começa a ser estranho este caso Otamendi. Apenas nove dias da final da Copa América, o argentino já estava ontem em França a defrontar Marrocos. Mesmo salvaguardando a condição de suplente na prova que a Argentina conquistou nos Estados Unidos, o central não teve férias. Apenas tempo «para trocar de roupa» em Portugal, como o próprio disse em declarações à imprensa do seu país. Depois de uma época desgastante no Benfica, com 51 jogos, disputar a Copa América e os Jogos Olímpicos enquanto os companheiros já preparam a nova época parece-me um exagero. Especialmente para quem tem 36 anos, mesmo que não tenha um histórico de lesões.
O problema para o Benfica poderá ser desportivo, até porque se trata do capitão. Rui Costa falou certamente com Roger Schmidt e ambos concordaram com a dispensa, pelo que considero que Otamendi foi deselegante nas últimas declarações, mesmo que não tenha sido essa a intenção do argentino. «O clube compreendeu e deu-me autorização para vir, considerando a minha idade e a minha vontade. Eles sabem que a seleção é sempre uma prioridade. Sacrifiquei as minhas férias para poder estar nos Jogos Olímpicos.» Um capitão, mesmo que esteja vestido com as cores do país, não pode omitir o seu clube, até porque é este que lhe paga o ordenado.
Otamendi vai para a quinta época na Luz e sempre foi titular indiscutível. Estatuto que não deve estar a pensar em perder, pelo que deduzo que quando chegar de Paris estará convencido que vai jogar ao lado de António Silva. Tem a palavra Roger Schmidt, mas não queria estar no lugar do alemão. Gosto do futebol musculado de Morato e vejo grande potencial em Tomás Araújo, pelo que não tenho garantido que o argentino tenha guardado um lugar no onze.
O que será um problema para Schmidt, dado o estatuto do argentino. Já lhe basta ter de gerir o de Di Maria, também de 36 anos e, como já demonstrou, com alergia em ser substituído. E, sinceramente, não estou a ver dois campeões do mundo sentados no banco…