O murro no saco!...

OPINIÃO19.03.202205:55

Se não dermos ‘KO’ à falta de carácter, será a falta de caráctera dar o ‘knockout’ à sociedade. Já o vi mais longe!...

POR razões de ordem profissional, foi no dia 26 de Fevereiro de 2022 que escrevi pela última vez neste espaço, dando assim umas férias de três semanas aos meus estimados leitores. São quase seis anos e meio de colaboração e, com este, 312 artigos, para aqueles que têm a paciência e generosidade de me ler  (e de me ouvir, embora agora menos), pelo que foram seguramente umas boas férias. Para mim não foram férias de espécie nenhuma, porque não faço sacrifício, antes gosto muito de escrever, e cada vez mais, porque o comentário escrito é sempre mais ponderado e fundamentado. Por outro lado, felizmente este interregno foi por razões profissionais, pois, há cerca de dois anos, também tive que interromper os meus escritos neste jornal: em 29 de Março de 2020, porque, na véspera, foi detectado que estava apanhado pelo Covid-19. Está a fazer dois anos e apesar de todas as restrições de que temos sido alvo, parece que foi há tão pouco tempo. Regressei então com um artigo intitulado «Nascer e ... renascer!...», no dia 25 de Abril. Que melhor dia para nascer de novo para a vida e poder escrever no dia de aniversário do renascimento da liberdade, no dia em que se comemora o renascimento do direito de pensar e escrever livremente. Nesse artigo agradeci o artigo que o meu Amigo Fernando Seara havia escrito para saudar o meu restabelecimento, agora afastado motu proprio destas páginas por força do cargo que exerce. Não escrever em determinados momentos também é exercício da liberdade de expressão e pensamento - a consciência dos homens livres!
Na semana seguinte, no dia do trabalhador, escrevi um artigo que foi muito comentado, sobretudo pelo seu título: Antes confinado do que finado!...
Dois anos passados ainda se não sabe se foi o homem que pôs o vírus a circular, sabendo-se apenas que a pandemia não terminou, nem sei sequer se vai terminar tão cedo, porque o homem ainda não a controlou, nem sei se está interessado em controlar: foi, é e será uma desgraça para muitos, mas sempre, como vem sendo habitual, um grande negócio para alguns. E vocês sabem do que estou a falar, como diria o Octávio Machado. Dois anos passados, os finados são de uma guerra que é culpa do homem, e não apenas de um determinado homem que dá pelo nome de Vladimir (tal como Lenin) Putin, por ser filho do Putin e da ... Shelomova. A mulher, sim, é Putina! E, para mudar de assunto, direi apenas que esta guerra, como outras, é fruto da hipocrisia e do cinismo dos políticos dos vários países que bajularam ontem os que criticam agora. É esta, de resto, a sociedade nacional e internacional em que vivemos, onde a tecnologia avança no sentido inverso ao do carácter que falta no comportamento dos políticos e dirigentes. Vivemos num mundo e numa sociedade virtual onde o anonimato é rei e a difamação, a injúria e a calúnia circulam sem o mais pequeno respeito pela honra e dignidade alheias! Infelizmente, são realidades, a fome e a pobreza, a destruição dos valores da família e do respeito pelo próximo, a propagação do ódio, o analfabetismo mental (e não só), a honestidade intelectual e material, e, no fim disto tudo (ou no principio), a falta de um líder que possa mudar o rumo da história.
Quanto mais vamos vendo e observando a sociedade e o mundo que gira à nossa volta, sejam os conceitos, os processos ou as actividades, vamos tendo cada vez mais a sensação de que está tudo, como diz o povo, virado do avesso, tantas são as incertezas, as contradições, as nuvens que pairam no ar que ensombram o pensamento e magoam os sentimentos. Onde havia ideias e ideais agora há negócios, onde via limpeza e transparência alastra a porcaria e a suspeita, onde havia personalidade temos agora um servilismo confrangedor. E tudo isto se vai espalhando pela sociedade, da economia às finanças, da justiça à saúde, da autoridade à comunicação social, da educação ao desporto, e, particularmente, ao futebol - palavra que ainda hoje não tinha escrito ou sequer pronunciado.
 Peço desculpa do desabafo, mas tenho estado entalado com estas coisas e apercebi-me agora como é que o Rúben Amorim resolve este stress, apresentando-se sempre como estando bem com a vida, coisa que não está ao alcance de todos! Acho que vou seguir o seu método. Em vez de escrever sobre os meus desencantos e incómodos, o melhor é ir a uma academia dar uns murros num saco: o saco não sofre e a nós sabe-nos bem. Não me canso de ver o vídeo e perante aquela saraivada de murros e socos vou dizendo para mim mesmo, em voz baixa, mas, por vezes, com um tom mais elevado e entusiasmado: um jab para os cínicos e outro para os hipócritas; outro jab ainda para os idiotas e um cruzado para os arrogantes; uns tantos directos aos corruptos, vigaristas e similares; vários ganchos para falsos e mentirosos; diversos uppercut para os causadores da fome, da pobreza e da guerra.
Mas, no meio de tanto murro e soco, pena é que não haja alguém que dê um murro na mesa para acabar com a falta de palavra que tudo compromete, com o egoísmo e a cinismo que tudo despreza, com a mentira que envenena as relações entre as pessoas e as instituições, nas quais se inclui o Estado, contra ausência de ideias e ideais, em resumo, contra a falta de carácter - o grande mal da sociedade em que vivemos, que se reflecte no pensamento, no trabalho e nas decisões. Sem carácter não há regimes, sistemas, instituições, seja em que área for, que possam triunfar.
Se não dermos KO à falta de carácter, será a falta de carácter a dar o knockout à sociedade. Já o vi mais longe!...
Tenho conversado muitas vezes com o travesseiro na horizontal, porque dizem que é bom conselheiro na vida real. Mas numa época em que tudo, ou quase tudo, é virtual, acho que vou comprar, para ter em casa, um saco (tipo travesseiro) para pôr na vertical e, em vez de com ele me aconselhar, vou com socos desabafar.
Mais uma vez fico grato a Rúben Amorim. Nesta sociedade virtual, para a comentar e desabafar, o melhor mesmo são uns murros no saco!...
 

«Fico grato a Rúben Amorim. Nesta sociedade virtual, para a comentar e desabafar, o melhor mesmo são uns murros no saco!... 


JOSÉ MANUEL CONSTANTINO 

NESTE caso as mãos bem abertas servem para aplaudir, de pé, com vigor e satisfação, a reeleição de José Manuel Constantino para presidente do Comité Olímpico Português.
Conheço-o há bastantes anos e sempre nutri por ele grande consideração e admiração, por ser um grande pensador do desporto e o expor com grande simplicidade e eloquência, duas características do seu discurso fácil e directo.
Na segunda década deste século tive oportunidade de manter com ele uma excelente relação durante os meus mandatos como presidente do Special Olympics de Portugal, apoiando na medida do possível esta organização virada para o desporto dos deficientes intelectuais. Sempre me apoiou e à instituição que representei e, por isso, à admiração e consideração juntei a estima e a gratidão.
Que Deus lhe dê vida e saúde para continuar o seu trabalho a bem do desporto português. Não há, infelizmente, muitos dirigentes a pensar e debater o desporto. O desporto português bem precisava de mais Josés Manueis Constantinos, para pensar melhor e fazer menos ruído!...