Michael Jackson, corda ao pescoço e o convite a Ten Hag: tudo o que disse Vítor Bruno

Técnico do FC Porto na antevisão ao desafio com o Manchester United

Vítor Bruno projetou, esta quarta-feira, na sala de imprensa do Estádio do Dragão, o jogo entre FC Porto e Manchester United, agendado para amanhã, relativo à 2.ª jornada da Liga Europa.

- Que lições tira dos últimos dois encontros para preparar o duelo com o Manchester United?

«Cada jogo tem a sua especificidade. É difícil colar um jogo com outro, porque são adversários diferentes, que nos oferecem diferentes problemas. Temos de andar muito em cima do que é nosso. Percebermos que na Noruega cometemos determinado tipo de erros que não podíamos cometer, corrigimos muita coisa no jogo com o Arouca. Uma delas foi a questão das transições defensivas e a equipa esteve exímia. Agora, em relação ao Manchester United, trabalhámos o que aconteceu com o Arouca, analisámos e procuramos amanhã andar em cima da perfeição. Sabemos que é difícil. Agora, estes jogos de nível europeu, de alto nível de complexidade, obrigam-nos a roçar praticamente a perfeição. São jogos em que muitos vezes resolvemos um problema e logo a seguir aparece outro, porque é tudo muito mais intenso e exigente. Não só do ponto de vista físico, mas da capacidade de tomar boas decisões. Será um jogo de alto nível de exigência.»

- Como avalia o momento do Manchester United, que não vence há três encontros?

«Ouvi muito gente dizer que vinham com a corda ao pescoço. Se há alguém que está com a corda ao pescoço somos nós, porque estamos atrás do Manchester United no objetivo de chegar à qualificação. Temos uma oportunidade de, pelo menos, reentrar nos lugares de play-off e depois seguir o nosso caminho.»

- Será um erro olhar para o momento do Manchester United e pensar que pode ser mais acessível?

«Isso seria muito pouco inteligente da nossa parte. É fácil descodificar a equipa do Manchester United e perceber quem está do lado de lá. Individualmente, tem jogadores de nível mundial, todos eles internacionais pelos seus países. Quem quiser contar uma história diferente, está a contar uma narrativa que não corresponde à verdade. A partir desse momento, é fazer a análise do Manchester, perceber, coletivamente, que pontos fortes tem, que tipo de ameaças nos vão oferecer, onde é que podemos encontrar algumas debilidades que qualquer clube do mundo tem. Agora, se puxarmos um pouco a cassete atrás, vemos que no início de época esteve a dois/três minutos de bater aquele que para muita gente é a melhor equipa do mundo, que é o Manchester City, na Supertaça. Aí era um ‘super’ Manchester United. Isto não se perde de um momento para o outro. No contexto mais recente, com o Tottenham, reduzidos a dez, não explica o que é a realidade do jogo. Ou melhor, o jogo entra por um caminho que não é o mais verdadeiro e não representa o que é a real valia do Manchester. Temos de estar muito alerta amanhã, com um alto sentido de responsabilidade, muito sentido de missão para atacar um jogo que será difícil, mas que queremos muito ganhar.»

- Como é que reage às frases inscritas nas paredes perto do Dragão que pediam a sua saída e o regresso de Sérgio Conceição?

«Não me apetece dizer nada, não comando o que se passa na cabeça das outras pessoas. Houve mais paredes destinadas a mim do que ao presidente. Olhando para o presidente, pelo caráter competitivo com que encara tudo, para mim pode ser mau porque pode ficar eventualmente melindrado por sentir que estou à frente dele nesse capítulo. Depois, é andar para frente. Isto é para quem tem andamento. Só conheço uma pessoa de sucesso que deu passos para trás… o Michael Jackson. Posso não ser um grande treinador, mas sou melhor do que cantor ou dançarino. Olhar em frente e fazer o FC Porto ganhar, no final do ano fazer contas. A partir daí é o que é. Há entregas da Glovo que aparecem de forma mais célere ainda do aquilo que aconteceu aqui.»

- Tendo em conta a valia do Manchester United, um empate seria um mal menor neste jogo?

«Nesta casa não há empates. Só se joga para ganhar. É uma questão fundamental. É sempre para frente, com um grande vício de vitória. O United está em 13º lugar, mas no final veremos onde vai terminar. São equipas difíceis, com jogadores de alto nível. Podem não estar passando pelo melhor momento, mas vão causar problemas. Temos de atacar o jogo com a personalidade certa. Nesta casa, só se pode pensar em ganhar.»

- Qual a importância de ter a melhor equipa em campo nos jogos-chave?

«Todos os jogos são chave no FC Porto.»

- Como recorda o duelo do FC Porto com o Manchester United e como olha para a evolução da sua carreira até ao momento, desde essa altura?

«Em 2004 estava no meu último ano de faculdade e jogava futebol… Isso já perspetivava que poderia enveredar por este tipo de carreira, até pelo que tinha em casa, o meu pai. Pelo que fui acompanhando, andar pela mão, cheira, ver balneários… Em 2009 foi a primeira experiência em Portugal como adjunto na Naval. Não sabia o que seria o meu futuro, estaria ligada ao treino, com certeza que sim. Sinto-me muito feliz de estar aqui, mas mais feliz é vê-los a trabalhar. Sempre com compromisso, a vontade diária de trabalhar, ter esse tipo de vício, permanentemente ávidos de querer mais e mais.»

- Na Noruega a falta de agressividade foi uma das razões para a derrota. Identificou as razões para tal ter sucedido e isso será a chave do sucesso amanhã?

«Após o jogo da Noruega vimos no balneário o número de faltas cometidas, que é um indicador fortíssimo. É sempre um sinal muito forte, tudo o que for duelos, tudo o que for ganho estaremos sempre mais fortes de vencer o jogo, seja contra quem for. Quando assim é estaremos sempre mais perto de vencer.»

- É a melhor altura para defrontar o Manchester United?

«Pelo contrário. O United neste momento está em posição de ‘playoff’, somos nós que temos de dar ao chinelo, somos nós que temos de andar. Não dar nada como garantido e estaremos sempre alerta amanhã, com a vontade de levar a jogo o que é nosso, sem adulterar o que somos.»

- Como foi preparar o jogo cabeça de cartaz desta fase para o FC Porto?

«Não houve nenhum cuidado. Fizemos o que fazemos sempre. Analisamos o jogo do Arouca, tentamos fazer o ‘transfer’ em alguns momentos do jogo. Não alteramos o que fazemos para outros, com Rio Ave, Gil…. Olhamos para eles de forma detalhada…»

- Ten Hag está sob grande escrutínio nesta fase. Como analisa o momento do treinador?

«Eu também. Não o conheci ainda, mas gostava muito de o conhecer. Se ele quiser, amanhã, o meu balneário está aberto. Momento difícil de Ten Hag? Se perceber aqui as notícias em Portugal, após uma derrota está praticamente morto.»

- Bruno Fernandes tem sido alvo de algumas críticas recentemente. O que pensa dele como jogador?

«É um internacional, é sempre um jogador de qualidade. Ele foi jogador do Sporting, então tenho a certeza que irá querer ter um grande desempenho amanhã. A forma como foi expulso no último jogo, penso que não foi razoável. Ele é jogador muito, muito bom, teremos de tentar controlá-lo, não o deixar jogar da forma que gosta e estar sempre preparados para tentar limitar o seu estilo de jogo. Não podemos dar-lhe espaço.»