O jogador incapaz de marcar golos normais
Qualificação do Mundial-2022
Lido na primeira página da edição de A BOLA da última terça-feira: «Podia ter sido pior.» Esta aferição referia-se, como não será difícil desde já adivinhar, ao sorteio para a fase de grupos de qualificação do Mundial-2022. Ao agora exposto acresce ainda que tal título deste jornal era acompanhado de uma avaliação garantística do seleccionador nacional, o qual procurou serenar os receios infundidos pelas presentes apostas do destino. Assim, muito sabiamente, alvitrou ele: «Se queremos ser candidatos temos de passar esta fase.» Bom, se quem o diz é quem é, então é porque é mesmo assim. Vamos, portanto, ter de dar o nosso melhor para conseguir o apuramento frente às potências que calharam em sorte no Grupo A, ou seja, nada mais nada menos do que as famigeradas e perigosas selecções da Sérvia, da Irlanda, do Luxemburgo e do Azerbaijão. Enfim, como de forma modelarmente lapidar diz o meu amigo Ricardo Alváro, «Vão-se Catar!»
Posto isto, permitam-me sugerir, mesmo que ex post, a troca daquele angustiante título pelo do célebre (e genial) filme protagonizado por Jack Nicholson, distinguido em 1998 com o Óscar: Melhor é impossível. Já agora, mais recomendo outra fita dele com o similar rótulo de imperdível: Voando sobre um ninho de cucos (cuja interpretação lhe valeu, em 1976, o seu primeiro Óscar para melhor actor).
George Russell
A temporada 2020 de Fórmula 1 concluiu-se este domingo com a realização do GP de Abu Dhabi. Ainda se desconhece se Lewis Hamilton, heptacampeão do mundo, poderá correr, pois testou positivo. Não parece provável que tal suceda, pelo que o seu carro deverá ser pilotado por um rapaz chamado George Russell que nunca venceu qualquer Grande Prémio. Até correr este.
Dragões Olímpicos
E a segunda equipa mais portuguesa da Europa, o Olympiakos, só suplantada neste particular pelo Wolverhampton, voltou a perder com a segunda equipa do campeão português. De frisar que neste último desafio antes da disputa dos oitavos de final da Liga dos Campeões, o FC Porto ousou apresentar-se em campo com apenas três titulares (Mbemba, Zaidu e Otávio), acolitados por quatro vencedores da Youth League (Diogo Costa, Diogo Leite, Romário Baró e João Mário) e quatro reforços (Nanu, Crujic, Toni Martínez e Filipe Anderson). Quando foi anunciado o onze inicial dos dragões confesso que temi pelo pior. Mas o nível de desempenho, tanto individual como colectivo, foi absurdamente elevado. Em qualquer caso, devem ficar registadas algumas notações pro memoria futura. A nível individual assinale-se assim, em síntese, que: Mbemba impôs-se de forma inabalável e irreversível, sendo o verdadeiro chefe das manobras defensivas; Diogo Leite deu, finalmente, prova de valor para poder vir a conseguir um lugar; Zaidu corre mesmo para atingir o plano mais alto; Otávio e Sérgio Oliveira são, nos dias que correm, os dois chefes de sala; Marko Crujic não tem tido o destaque que merece, mas a verdade é que a equipa ficou desbalanceada depois da saída de Danilo, não havendo no plantel outro jogador capaz da dupla função de terceiro central e primeiro pivot atacante, sendo que o sérvio conduz, com apurada técnica, a bola para a frente e não para os lados; Marega, Taremi, Evanilson e Toni Martínez compõem um leque muito variado que exibe atributos distintos, o que permite ao técnico optar por combinações múltiplas;
Jesus Corona é um jogador dotado de rara técnica e enorme versatilidade táctica, mas o melhor dragão é Luis Díaz, senhor de uma técnica assombrosa e de uma imaginação delirante, ao melhor estilo daqueles filósofos que procuram soluções para problemas que não existem. Só tem um ponto contra: todos os seus tentos são maravilhosos, sendo (im)perfeitamente incapaz de marcar golos normais.
Quanto ao plano colectivo, o mais grave ocorre naquilo que há semanas chamei de bipolaridade. É, de facto, muito difícil de aceitar, ou até de entender, que a mesma equipa que se mostra capaz de cometer o recorde de 5 jogos consecutivos sem sofrer golos na Champions seja a mesma que, internamente, se mostre como a mais permeável em décadas. Ainda tremo só de me lembrar que foi a barra da baliza portista a evitar, no último minuto de jogo, o quarto (!) golo do Tondela em pleno Estádio do Dragão…