O fenómeno Mikel Arteta
O Liverpool de Klopp arrasta-se pelo 9.º lugar e o City de Guardiola está a 8 pontos do líder, treinado por quem teve a corda na garganta
Ofutebol não é, como já sabia, uma área da sociedade que apenas uma minoria de experts, sejam treinadores, analistas, jornalistas ou adeptos, domina. Pode um treinador perceber de física quântica, conhecer, em pormenor, o que é preciso para levantar um foguetão da Terra e levá-lo, em segurança, até à Lua ou mesmo até Plutão, que isso não basta para perceber o que correu mal num jogo de futebol ou numa temporada e, muito menos, as nuances de forma que uma equipa vai tendo ao longo dos quase dez meses que duram, em média, as épocas de competição.
VEJAMOS dois casos: Jurgen Klopp e Pep Guardiola. O alemão do Liverpool e o espanhol do Manchester City são, reconhecidamente, dois dos melhores treinadores da atualidade. Klopp foi campeão da Europa há menos de quatro anos e campeão de Inglaterra há apenas três. Um craque do treino, portanto. Guardiola venceu quatro das últimas cinco edições da Premier League. Outro craque, obviamente. No entanto, em 2022/2023, Liverpool e Manchester City estão imensamente longe da liderança do principal campeonato mundial de futebol. Os reds estão num impensável 9.º lugar (!) a nada menos de 19 pontos do líder Arsenal com apenas 18 jornadas decorridas. Os citizens, numa campanha menos dramática, estão no 2.º lugar, mas a oito pontos (!) dos gunners de Mikel Arteta. O Liverpool sofreu quatro derrotas nos últimos oito jogos das Premier League! O Manchester City venceu apenas em duas das últimas cinco jornadas da prova! Deixaram Klopp e Guardiola de ser grandíssimos treinadores? Claro que não. Deixaram os plantéis das duas equipas de serem enormíssimos plantéis? Evidentemente que não. Perceberão ambos, com exatidão, o que se passa nas suas equipas? Acredito que não. Se soubessem e porque têm, basicamente, os mesmos jogadores das últimas temporadas, teriam corrigido o que vai mal em ambos os reinos. Mas não o conseguem fazer. É aqui que o futebol, não sendo física quântica, mas algo ainda mais encantador e sempre rodeado do espetáculo do imprevisto, é inexplicável.
PORQUÊ? Pela mesma razão que, há menos de dois anos, antes de receber, em fevereiro de 2021, o Benfica para a Liga Europa, Mikel Arteta, treinador do Arsenal, tinha a cabeça a prémio. Não se sabia quando seria demitido dos gunners. Mas sabia-se que seria. Ou, antes, os experts, sejam treinadores, analistas, jornalistas ou adeptos, achavam que Arteta seria demitido. Mas não foi. Eliminou o Benfica, aguentou-se no balanço de há dois anos, passou do 8.º lugar na Premier League para o 5.º e agora, menos de dois anos depois de ter estado com a corda na garganta e apenas à espera de que o garrote se fechasse, lidera, isoladíssimo, a Liga inglesa. Quem explica? Eu não me atrevo. Quantos grandes jogadores tem o Arsenal? Muitos. Quase todos. Mas não tem, ao contrário de Liverpool (Allisson, Van Dijk, Salah, Firmino) e Manchester City (Ederson, Gundogan, De Bruyne, Bernardo, Foden, Haaland, Álvarez e Mahrez) nenhum jogador de top mundial (talvez Gabriel Jesus). E lidera, isoladíssimo, a Premier League com um treinador que, há dois anos, esteve a milímetros de ser demitido. Quem explica?