O caminho da videoarbitragem
Urge novas medidas: criação de duplas árbitro/VAR, divulgação da comunicação...
HÁ não muito tempo, a Premier League lançou um inquérito a todos os seus jogadores, treinadores e dirigentes, a propósito da videoarbitragem. A ideia era recolher a sua opinião sobre a introdução da ferramenta nos jogos da liga inglesa. No fundo, a organização queria ouvir sugestões dos seus stakeholders, nomeadamente no que diz respeito à evolução da atual linha do fora de jogo (tão censurada em Terras de Sua Majestade) e à possibilidade do árbitro passar a analisar, em campo, lances subjetivos.
Mais recentemente, uma sondagem da BBC (com amostra muito significativa de inquiridos) revelou que a maioria das pessoas está globalmente insatisfeita com o uso da tecnologia no futebol. Há ali uma espécie de frustração entre a ilusão criada inicialmente e a expectativa gorada a posteriori. É como se a bota não tivesse batido com a perdigota.
Como se percebe, em termos de perceção pública, o que acontece lá fora não é em nada diferente do que se vê cá dentro: há, de um modo geral, o reconhecimento que a máquina tem qualidade e potencial (tantos foram os erros já evitados), como também há a noção de que ela pode e deve continuar a evoluir no sentido de melhorar o processo de decisão, acrescentando maior verdade ao jogo e mais justiça ao espetáculo.
A verdade é que, desde a sua implementação oficial, o Protocolo VAR nunca mais foi alterado, apesar da sua aplicação prática variar em razão geográfica: por exemplo, há ligas em que os árbitros raramente consultam as imagens junto ao relvado (há outras em que o fazem amiúde), tal como há ligas em que as decisões do videoárbitro são anunciadas publicamente nos ecrãs gigantes dos estádios (há outras em que isso nunca aconteceu).
Num mundo supostamente igual, estas pequenas diferenças não ajudam a tornar a ferramenta mais uniforme e credível. Pelo contrário, contribuem para acentuar diferenças.
Convém também não esquecer que a tecnologia assenta na dicotomia homem/máquina e só funciona plenamente se ambos estiverem bem afinados e preparados. Se ambos cumprirem bem a sua função.
O videoárbitro nunca será a solução para todos os problemas da arbitragem, mas já contribuiu e pode continuar a contribuir no sentido de anular erros graves e evidentes que se veem mais vezes do que se esperava e desejava.
Para isso, é importante que continue a haver exigência, competência, treino, coragem e especialização de quem opera a máquina (VAR e AVAR); sensibilidade para a função e para o jogo de quem os acompanha em sala (técnico de imagem); e qualidade tecnológica de topo, porque só assim estão criadas condições para que quem está lá dentro, a decidir sob pressão, possa fazê-lo com maior eficácia e acerto.
Pelo meio, urge avançar com novas medidas, porque nestas coisas parar é morrer: alterações pontuais no protocolo, criação de duplas de trabalho (árbitro/VAR), criação de um quadro especialistas, divulgação do processo de comunicação, esclarecimento público de situações atípicas, formação constante em sala e em campo, etc, etc...