Não fica tudo na mesma… ainda que pareça ficar
Se o Sporting ganhar os dois jogos que lhe faltam, não ganha o campeonato (isso só aconteceria caso o FC Porto não fizesse um ponto)… mas consegue uma pontuação assinalável
A S coisas do futebol são interessantes vistas com uma certa distância. Por exemplo, desde que as vitórias no campeonato passaram a valer três pontos, em 1995/1996, o Sporting ganhou três vezes. As duas primeiras, em 1999/2000 e em 2001/2002, com menos pontos do que aqueles que obteve até agora; respetivamente 77 e 75 pontos e, mesmo assim, quatro e cinco pontos à frente do segundo. Neste momento, conta já com 79 pontos e, caso vença o Portimonense e o Santa Clara nas duas derradeiras jornadas, somará 85, ou seja, a mesma pontuação com que foi campeão na época passada, com cinco pontos a mais do que o FC Porto, e nove do que o Benfica. É uma excelente pontuação? Em teoria sim, na prática ninguém se importa de ganhar um campeonato com menos pontos. Como o Benfica em 2004/2005, que fez apenas 65 pontos, com 34 jornadas e 18 clubes, como agora. É um recorde, porque mesmo nos oito anos em que a Liga teve 16 clubes e apenas 30 jornadas, o campeão só uma vez baixou dos 70 pontos (no caso o FC Porto com 69 em 2006/2007). Mas também é verdade que uma vez - uma única - o Sporting ultrapassou por um ponto os 85 da época passada e, ainda assim ficou em segundo; foi em 2015/2016, quando ficou a dois pontos do Benfica, num campeonato que merecia ganhar.
Já o FC Porto pode, este ano, bater o recorde de pontos numa Liga. Esse recorde está em 88, já conseguidos pelo Benfica na referida época de 2015/2016 e pelo próprio FC Porto, em 2017/2018. Ganhando na Luz e, depois, na receção ao Estoril, os portistas alcançam 91 pontos, facto inédito desde que a vitória vale três. Quanto ao Benfica, e mesmo ganhando os dois jogos que lhe faltam (receção ao FC Porto e deslocação a Paços de Ferreira), não pode obter mais de 77 pontos, que é apenas mais um do que o ano passado, ficando também em terceiro lugar. Recordemos que quando chegou, o então treinador do Benfica, Jorge Jesus, fez promessas (e investimentos) mirabolantes aos benfiquistas, assegurando-lhes que o Benfica não ia jogar o dobro do que tinha jogado na época anterior, mas o triplo. Essas declarações tiveram o resultado que está à vista. Pelo meio, o presidente do clube, Luís Filipe Vieira, viu-se obrigado a ceder o lugar a Rui Costa, mas a cordialidade entre os dois depressa se esfumou. Vieira não resistiu a atacar o entretanto eleito sucessor, numa demonstração de que o seu amor pelo Benfica tem muito a ver com um problema de autoestima, para não dizer de amor por si próprio, espécie de narcisismo comum em inúmeros dirigentes desportivos (não todos, felizmente).
Rúben Amorim chegou ao Sporting em março de 2020 e foi campeão em 2020/2021
CHAMPIONSE O RESTO
O Sporting conseguiu entrar diretamente na Champions que seria o segundo objetivo desportivo mais importante, depois da vitória no campeonato. É certo que entrar na liga milionária pode parecer pouco (na medida em que ser segundo é ser o primeiro entre os vencidos), mas dá muito mais frutos do que vencer a Taça da Liga ou a Supertaça (que o Sporting venceu nesta época), ou mesmo a Taça de Portugal. Não falo de prestígio, porque isso o Sporting tem em qualquer lugar que fique ou onde chegue, mas em receitas e possibilidade - como muito bem frisou Rúben Amorim - de ficar com uma equipa competitiva.
Entendo que o Sporting, ao contrário do que se passou antes de Rúben ter aparecido e a ligação entre treinador e direção passarem a ser as desejáveis, tem um projeto que o coloca, sempre (e não esporádica ou apenas teoricamente) como candidato ao título, e que visa ser gradualmente um clube médio da Europa; quando digo médio, digo ao nível do FC Porto ou de outros habitués à Liga dos Campeões, ainda que seja improvável vencê-la (mas nunca se sabe, há coisas que acontecem; veja-se onde chegou o Villarreal).
O Sporting, que continua a poder contar com a sua equipa técnica (bata-se três vezes na madeira, não vá haver surpresas) e com o esqueleto da sua equipa, tem condições para se bater até ao fim, até melhor do que esta época, pelo primeiro lugar. Os erros essenciais deste ano foram a derrota com o Santa Clara, no fim da primeira volta, nos Açores; e a derrota em casa com o SC Braga. É certo que estas coisas acontecem, mas perder em casa com o Benfica pode estar dentro dessas possibilidades, ao passo que as derrotas citadas foram, no plano dos jogos em si, erros da equipa; como pelo menos um dos empates.
Naturalmente alguns jogadores importantes vão sair - o caso de Pablo Sarabia é o mais evidente, e aquele em que não é possível fazer nada, mas haverá outros. Alguns reforços estão já a ser ultimados e outros, que chegaram esta época, estão a dar boa conta de si e a criar confiança neles próprios e nos adeptos para a época seguinte, como são os casos óbvios de Ugarte e Edwards. Nuno Santos, que jogou lindamente, tem de esfriar a cabeça, mas vem em crescendo; e a defesa, com um ou outro reforço, mantém-se muito segura. Já o caso Slimani, que resultou num falhanço de alguém (Rúben assume-se como responsável, e bem) obriga a novas pesquisas para a frente, ao passo que a hipótese da permanência de Porro me enche de alegria.
FUTEBOLICES
N A semana passada, por razões familiares, não pude escrever esta página (passei um dia num hospital, sem razões de queixa do serviço prestado). Foi uma pena! O Sporting ganhara 3-0 no Bessa, o FC Porto perdera 1-0 em Braga e o Benfica empatou 0-0 com o Famalicão, na Luz. Era o meu dia de glória, em que os Leões tinham recuperado três pontos ao FC Porto e dois ao Benfica. Algo que fez o campeonato ficar como está. Já nesta última jornada, mais penálti, menos penálti, jogo bom, jogo mau, ganharam todos os da frente: o Benfica de aflitos, por 1-0, contra um Marítimo que jogou quase meio jogo com 10; o FC Porto por 4-2, depois de um susto que viu passar de 2-0 para 2-2; e o Sporting por 4-1. Foi uma boa jornada para os sportinguistas, mas a anterior foi melhor. Resta torcer para que o Benfica, nos brios, ganhe ao FC Porto no próximo sábado, de forma a que não haja campeão (ganhando o Sporting em Portimão). Porque do segundo não saímos… a nossa única hipótese é chegar a primeiro, mas as hipóteses são menores do que um meteorito atingir o concelho de Oeiras e eu finar-me desse modo.
Entretanto, nas futebolices, li que a AdC (Autoridade da Concorrência) multou a Liga e os clubes todos, com destaque para os três grandes, pois as multas correspondem ao volume de negócios. E multou porquê? Porque os clubes concordaram em não contratar jogadores que estavam com salários atrasados durante a pandemia. Ou seja, a AdC não vendo que o futebol estava parado, sem receitas, naqueles tempos em que nem jogos à porta fechada tiveram lugar, decidiu penalizar um acordo decente. Devem ter razão legal. Moral? Vou ali já venho, como se diz…
MEMÓRIA
Faleceu com 68 anos Sérgio Abrantes Mendes que foi um candidato à presidência do Sporting em quem nunca votei. Não o fiz por entender que Abrantes Mendes não tivesse qualidades; pelo contrário, talvez as tivesse a mais. De qualquer modo, foi um consócio sério, honesto e competente; e nas grandes lutas do clube teve sempre mais razão do que falta dela (recordo a sua previsão: «Bruno de Carvalho vai levar o Sporting à ruína», o que seria verdade não fosse a intervenção de tantos sportinguistas que, como ele, não o permitiram). Era Juiz Desembargador, daqueles que não misturam funções. E só isto é o maior elogio que se pode fazer a um homem dedicado ao futebol, ao Direito e à Justiça.
BELENENSES
Venceu na Justiça tudo o que havia a ganhar para recuperar os seus pergaminhos face ao falso B-SAD. Agora, que este corpo estranho ao associativismo e ao futebol vai baixar à Liga 2, seria altura para a Liga pensar seriamente no erro que cometeu e dar ao Belenenses o seu lugar de sempre (um dos cinco clubes que venceu o campeonato).
TORREENSE
Todos nós temos vários clubes, por razões que nos dita o coração, a geografia e os azares da vida. Além Sporting e do Académico de Viseu (e Académica), tenho laços emocionais com o Torreense (de Torres Vedras, e não Torres Novas, como por vezes se vê confundido). Sou do tempo do Campo das Covas, depois Campo Manuel Marques e do Torreense na I e II Divisões. Agora que o vejo subir à Liga 2 fico contente e dou os parabéns a quem o dirige e a quem nele joga e se empenha.