Nada de novo na frente do campeonato

OPINIÃO11.05.202206:55

Se não fossem dois centímetros, se o Santa Clara não nos tivesse vencido nos Açores, se o FC Porto não tem sido beneficiado no jogo contra nós; se, se… no fim do campeonato faz-se justiça

D EIXEM-SE começar pela vitória do Sporting em Portimão. Jogo aparentemente desinteressante, pois nem uma nem a outra equipa dependiam do resultado para o que fosse. Jogaram pela honra de vencer, pelo jogo. E desse modo ambas foram vencedoras pela entrega em campo. O Portimonense virou um resultado de 0-1 (golo de Tabata) para 2-1 (aos 25 e 30 minutos, com golos de Carlinhos e Welinton) e o Sporting voltou a virar o resultado (71 e 76 minutos, ambos golos de Sarabia, que tinha entrado aos 56 minutos). Ou seja, cada equipa marcou dois golos em cinco minutos, mas a vitória sorriu ao Sporting, com justiça, pois foi dominador. A equipa de Alvalade mostra assim que não desiste, mesmo quando entra em campo já sabendo que o FC Porto se sagrara campeão na Luz… e isto é futebol. 

A margem de seis pontos de vantagem já quase dera por finda a esperança do Sporting (mas enquanto há vida…); a derrota do Benfica em casa foi fatal. Seis pontos com um jogo para jogar não é matematicamente possível nem no País das Maravilhas, onde acontecem coisas estranhas. Mas se querem um culpado para o Sporting não ter ganho o campeonato, não arranjo melhor do que o Benfica: ao perder em casa com os portistas e ao vencer em Alvalade conseguiu nada (senão estar a 11 pontos do Sporting e 17 do FC Porto), salvo entregar a taça a Sérgio Conceição e aos seus jogadores e ainda ao senhor Pinto da Costa, que pensa que se torna mais respeitável por a sua equipa vencer - o que todos sabemos que não tem de ser assim, mas deixemo-lo em paz.

O FC Porto venceu na Luz e não se pode dizer que não tenha sido com humildade. Sempre à espreita do erro encarnado, fez do guarda-redes benfiquista o melhor jogador da equipa de Lisboa e aproveitou mesmo, depois de um canto a favor do Benfica, um contra-ataque rápido e letal, já nos descontos (90+4’) através do improvável Zaidu. Esse golo não deu o campeonato ao FC Porto, uma vez que um empate lhe servia; o que deu a vitória ao FC Porto foi um fora de jogo milimétrico do melhor marcador do campeonato, Darwin Núñez (com seis golos de avanço, penso que já não perde o título). Acaso esses dois centímetros não fossem contabilizados, o que é dizer, acaso não houvesse VAR, o FC Porto teria adiado para sábado que vem a decisão, entrando no Estádio do Dragão perante um Estoril que, sem nada a perder, podia ser uma dor de cabeça. Assim, tem mais condições para ser um bombo da festa.
 

Pablo Sarabia bisou em Portimão e vai deixar saudades em Alvalade


DOIS CENTÍMETROS

M UITOS benfiquistas (e até muitos sportinguistas) têm tentado explicar que aqueles dois centímetros do fora de jogo de Darwin são uma questão de perspetiva. É verdade. Um frame atrás ou à frente faz toda a diferença. Agora imaginem antes de haver VAR… Ou o árbitro assistente não via qualquer fora de jogo, ou, pelo contrário, assinalava-o. Pode afirmar-se que seria honesto fazer qualquer das coisas, uma vez que humanamente, com passes de quase 30 metros, como foi o caso, não se pode ter um olho na bola e outro no jogador. 

No entanto, como já explicaram alguns árbitros, há aqui uma questão a ter em conta: Darwin vinha de uma posição claramente de fora de jogo. Naturalmente, quando a bola é lançada por Otamendi, acaso ele estivesse atrás do defesa do FC Porto Mbemba, o lance seria válido; mas vindo ele do lado contrário e recebendo a bola dois centímetros à frente, mesmo que recuemos nos frames, o resultado seria Darwin estar ainda mais fora de jogo do que aquele par de centímetros. Isto mesmo foi explicado por Duarte Gomes e por Pedro Henriques (pelo menos), e penso que - independentemente de todas as considerações - o golo foi bem anulado.

Agora, isso não significa que não possa haver erros na utilização do VAR. Claro que existirão; mas o que acabou foi a escandaleira que existia - não no caso deste golo, que como já escrevi poderia ser validado ou invalidado por um árbitro de campo sem qualquer má-fé - em muitos outros que seriam assinalados de forma errada e não assinalados, por vezes, até, de forma escandalosa.

O certo, do meu ponto de vista - e distanciando-me dos interesses do meu clube -, é que o FC Porto foi a equipa mais competente e consistente; o Sporting foi um pouco menos do que no ano transato, embora ainda tenha vencido dois troféus menores; o Benfica continuou a sua travessia do deserto, sem ganhar nada e a ficar em terceiro - agora mais longe dos da frente (para comparar, no ano passado ficou nove pontos atrás do Sporting e a quatro do segundo, o FC Porto).

Ora esta constatação nada tem a ver com os famosos dois centímetros; ainda que o golo fosse validado, o Benfica, caso vencesse o FC Porto, encolheria a distância do primeiro para 11 pontos, e do segundo, o Sporting, para oito; ainda assim, pior do que na época passada.

A verdade é que o Benfica teve o dobro das derrotas do que o Sporting e seis vezes mais do que o FC Porto. Também empatou, ainda, mais uma vez (cinco) do que os seus competidores, e sofreu mais golos do que qualquer um deles. Isto sendo a equipa que mais dinheiro gastou em reforços e prometendo jogar o triplo daquilo que jogou no ano passado. É difícil esquecer frases infelizes como esta de Jorge Jesus (verdadeiro obreiro desta débâcle, porque Veríssimo não fez pior do que ele); ou como a da benfiquista Leonor Pinhão que considerava, na época passada, o Sporting fora dos três grandes, substituindo-o pelo SC Braga… logo no ano em que o Sporting foi o maior dos três. Enfim… menos prosápia, mais humildade e mais fair play, algo que talvez Rui Costa esteja a imprimir no seu clube e que no Sporting já há uns anos foi conseguido. 


SUBIDAS E DESCIDAS 

DAS três equipas que podem descer à Liga 2 ou disputar o play-off de manutenção, confesso que tenho predileções e embirrações. O Belenenses SAD, que do meu ponto de vista nem devia ter herdado o património histórico e de resultados desse grande clube que é o ‘Os Belenenses’, acho muito bem que caia para a Liga 2 e depois para a III e por aí abaixo até aquela SAD, que não sei do que vive, perceber que não há futebol sem adeptos; tem também de perceber que os adeptos do CF ‘Os Belenenses’ ficaram com a equipa genuína, há anos a fazer o caminho das pedras. Agora que o Tribunal da Relação lhes deu razão, é altura de a Liga ponderar quem tem o direito de estar no futebol profissional.

As duas restantes são equipas de que gosto. 

O Moreirense (além de um excelente restaurante mesmo ao lado) tem como técnico Sá Pinto, cuja emotividade sempre admirei. Mesmo quando a usou de forma menos correta (a estalada dada ao então treinador da Seleção Nacional, Artur Jorge). 

O Tondela tem toda a minha infância; as minhas origens estão no distrito de Viseu e aquele é o único clube que representa a antiga Beira Alta. Além do mais, conseguiu o feito de ir à final da Taça. Mais do que isso, passei em Tondela inúmeras férias, quando as férias eram grandes e o mês de setembro era passado numa quinta, à beira do rio Dinha e de um moinho de água que ali havia. Fazia-se vinho, havia avelãs, maçãs e peras… Tondela não era nada do que é hoje; muito mais pequena, quase sem indústria e com um clube de futebol que nem sei em que divisão jogaria e que só chegou à I Liga há sete anos.

Confesso, pois, que torço por que seja o Tondela a disputar o play-off, mesmo sacrificando Sá Pinto. O problema é que aqueles que sobem são ossos duros de roer. Rio Ave, Casa Pia e Chaves não são equipas fáceis. Duas delas estão mais do que habituadas à I Liga; o Casa Pia tem vindo a surpreender já há alguns anos, sem esquecer que foi lá que Rúben Amorim deu os primeiros passos como treinador. Aliás, o jogo Rio Ave-Chaves, às 11 da manhã de domingo, deverá ser o jogo mais empolgante das duas ligas, podendo decidir quem fica em primeiro, segundo e terceiro. O Casa Pia jogará em Matosinhos, com o Leixões (à mesma hora e mesmo dia) e poderá subir, mesmo perdendo, caso o Chaves perca com  o Rio Ave.

No que diz respeito à I Liga, Tondela  e Moreirense jogam em casa, recebendo, respetivamente, o Boavista e o Vizela; o Belenenses SAD, que só por milagre não será despromovido, vai a Arouca, que se salvou de ter de disputar o play-off, justamente pelo facto de o SAD ter perdido em casa, segunda-feira, com o Famalicão.


JOGAR FORA 

‘ADIÓS’, SARABIA

Foi bom enquanto durou. Ficaremos amigos, tu e o Sporting e todos os sportinguistas. É pena ganhares tanto e nós em Portugal sermos, na generalidade, pelintras. Que o futuro te reserve o que mereces - e é muito pelo que aqui deixaste. 


MORITA E ST. JUSTE  

Passei a acreditar em todas as contratações do Sporting. Espero que as atuais confirmem esta minha regra, que não vem de sempre, apenas desde que Rúben lá chegou. 


CONCEIÇÃO 

Parabéns, dados com todo o rigor e fair play, a Sérgio Conceição e aos seus jogadores.