Martínez, Ronaldo e a Seleção do «logo se vê»

OPINIÃO11.09.202410:00

Entrámos no ciclo do Campeonato do Mundo e parece que nada mudou para o selecionador, que continua a vencer sem convencer e sem dar sinais de evolução do modelo da equipa

O comodismo incomoda-me. Talvez seja eu a estar errado e esta insatisfação permanente me persiga. Talvez me obrigue a ver coisas boas nas derrotas e outras, menos boas, nos triunfos. Ou o que eleve demais as minhas expetativas e, como tal, ache ser sempre possível fazer melhor. Se todos neste país pensassem que somos o que somos e que já fizemos mais do que devíamos, não teríamos tido há séculos a presunção de dividir o mundo em duas metades com os nossos vizinhos.

Não atribuo grande importância à Liga das Nações, porém Federação e Martínez fazem-no, por isso a crítica deve continuar exigente e construtiva. O que me incomoda nesta Seleção de país pequeno porém a transbordar de talento – que ganhou e, por isso, para muitos está tudo bem, ainda mais com mais dois golos para a causa Ronaldo –, é ter sido a mesma que se apresentou no Europeu, sobretudo no que à falta de concretização das ideias diz respeito. O ataque posicional por exemplo, arma para blocos baixos e para abrir caminho para fases mais adiantadas das competições, continua intragável e com dificuldade em controlar encontros. Viu-se com a Croácia, repetiu-se perante a… Escócia. Perdoem-me, mas bater esta Escócia em casa com tanto sofrimento e até com alguma felicidade no remate de Bruno Fernandes, não pode ser motivo de grande explosão de alegria. Deveria, pelo contrário, obrigar a autoanálise.

Há quem diga que Ronaldo está diferente. Aos 39 anos. Que está disposto a passar mais tempo no banco. Se assim for, ainda bem. Todavia, na primeira parte jogou-se como se continuasse no relvado, cruzando-se para a área! E ainda é importante sublinhar que o seu golo não pode ser dissociado do movimento de Jota, com quem finalmente coincidiu em campo, e que serviu de manobra de diversão. Contudo, já vimos este filme. Precisamente uma qualificação em velocidade de cruzeiro e uma fase final, quando a exigência aumentou, bem complicada. Da equipa e da sua maior figura. No Mundial, já que entrámos nesse ciclo sem que se tenham apercebido, terá 41 anos. Será ele o ponta de lança na América do Norte? Logo se verá. Já Bernardo terá 32, Bruno Fernandes quase. Poderão ainda jogar, claro, mas o que tem sido feito para encontrar outras soluções? Pedro Gonçalves, que jogou um par de minutos, e Trincão, Quenda, Tiago Santos e Renato Veiga foram convocados para quê? Para treinar e receber elogios? É assim mesmo que conquistam espaço e ganham rotinas? Depois logo se vê!