Serão sempre os resultados a validar o trabalho de presidente e treinador, porém todos temos de concordar que os sinais positivos que chegam do Dragão ultrapassam as projeções mais otimistas
O clássico parecia aproximar Sporting e FC Porto até que Gyokeres voltou a afastar os candidatos e a sublinhar a maior solidez que o campeão ainda revela. Os dragões apresentaram-se bem acima das expetativas, retrato também do que foi a sua atuação no mercado, tendo em conta tão frágil ponto de partida no que diz respeito à liquidez financeira.
No entanto, para que a revolução não trouxesse consequências negativas – mudou presidente, diretor desportivo, diretor do futebol e treinador; saíram peças importantes como Taremi, em final de contrato, e Pepe, por opção do clube; e outros ainda estariam naturalmente identificados para transferir, desde Evanilson a Galeno, passando por Francisco Conceição e David Carmo – foi primeiro necessário estabilizar a equipa. Aí o papel de Vítor Bruno, em estreita ligação com André Villas-Boas, tornou-se fundamental. O processo foi levantado sem reforços e até sem muitos dos pesos-pesados, o que até ajudou ao crescimento e à consolidação de Martim, Zé Pedro, Vasco Sousa, Gonçalo Borges, Iván Jaime e Namaso, ainda que, obviamente, nem todos à mesma dimensão.
Uma série de decisões incompreensíveis da direção de Rui Costa levou a um cenário muito difícil para qualquer treinador, ainda mais um que muito sofreu na Luz e que agora aceita voltar
O FC Porto chegou a Alvalade praticamente apenas com esse processo e menos massa crítica do que a habitual e aguentou-se, apesar da derrota, sobretudo se considerarmos o tempo de trabalho de Rúben Amorim e a força que o leão tem mostrado em casa. É que só depois de se vender Evanilson se começou a formar a musculatura à volta do esqueleto. Falharam-se primeiras opções, é verdade, mas numa janela tremendamente difícil, em que o futebol era apenas um dos focos da crise, conseguir tapar lacunas com Nehuén Pérez, Tiago Djaló e Francisco Moura – o lateral poderá libertar Galeno para outros terrenos e acabar de vez com o handicap que o internacional brasileiro Wendell (o que até diz mais do estado do Escrete do que do jogador) e o lesionado Zaidu não conseguiram anular – e garantir ainda Fábio Vieira e os promissores Samu (investimento considerável, pela percentagem adquirida) e Deniz Gul é obra. Um grande trabalho, conseguido ao se estabelecer um rumo, escolher bem as pessoas e todos seguirem no mesmo sentido. Algo que, curiosamente, Sérgio Conceição reclamou inúmeras vezes.
O FC Porto falha apenas o jackpot: a venda de Galeno por 50 milhões, negócio extraordinário e muito bem-vindo. No entanto, fica para dar maior corpo à ideia. Se antes o dragão já estava competitivo, não há dúvidas de que crescerá agora.