Martínez não é o único mau da fita
É o momento de os jogadores da Seleção darem um passo em frente e serem responsabilizados. 'Hat trick' é o espaço de opinião semanal do jornalista Paulo Cunha
Portugal não jogou nadinha e pode agradecer a Diogo Costa ter saído de Copenhaga sem uma goleada no currículo na partida da primeira mão dos quartos de final da Liga das Nações diante da Dinamarca.
No final, meio atabalhoado, Roberto Martínez admitiu que o duelo do Estádio Parken assinalou a pior exibição do reinado dele, iniciado a 23 de março de 2023, há precisamente dois anos, portanto, triunfo por 4-0 sobre o Liechtenstein.
Desde o anúncio da convocatória, marcado pela gafe da «lesão crónica de Tomás Araújo», à justificação absurda sobre a ida de Gonçalo Ramos para a bancada, por ter sido a «primeira vez que foi convocado para a Liga das Nações», o treinador espanhol aplicou a ele próprio a Lei de Murphy e tudo o que lhe podia ter corrido mal correu ainda pior.
A geração de excelência que permite construir, no mínimo, duas seleções com suplentes em cada uma que se bateriam de igual para igual, está obrigada a jogar melhor, a dominar, a vencer a maioria dos adversários sem quase deixá-los respirar. Se jogamos tão poucochinho — embora hoje possamos derrotar os dinamarqueses no Estádio José Alvalade, o palco da estreia do sucessor de Fernando Santos, e seguir para as meias-finais de uma prova que conquistámos com o engenheiro do Euro-2016 em 2019 — o primeiro responsável é Roberto Martínez. Mas não é, convém sublinhar, o único.
«São talentos preguiçosos. Nem foi um jogo entretido, foi triste. Temos um conjunto de talentos preguiçosos. Portugal jogou com dez, não podemos ficar à espera de golpe de génio, Portugal fez 50 por cento de pressing semiativo e outros 50 por cento com os olhos», eis a reação de Manuel Cajuda ao desempenho da equipa das quinas, desabafo ao Record de um técnico muitíssimo experiente, senhor de mais de cinco centenas de encontros no principal escalão, palavras cruas que abrem espaço para refletir sobre a desresponsabilização dos jogadores quando os resultados não são risonhos.
Se no trajeto entre a saída do estádio e a entrada no autocarro, por acaso, estivessem portugueses à caça de autógrafos ou das selfies da praxe, estes fariam cara feia a Roberto Martínez mas derreter-se-iam perante futebolistas — exceção ao guarda-redes portista — incapazes de atacar e defender na hora e meia anterior.
Sem tempo para treinar, sem um selecionador inspirado, para usar um eufemismo, numa fase decisiva da temporada em que as exigências dos clubes condicionam o trabalho das seleções, os privilegiados pela honra de vestir a camisola nacional são obrigados a dizer presente. Exige-se que deem um passo em frente, porque o onze escolhido para defrontar a Dinamarca, por mais que se discutam as opções, devia ter mostrado outro rendimento.
Um meio-campo com Vitinha, João Neves — os motores do sensacional PSG de Luis Enrique — e Bruno Fernandes — o salvador da pátria do Manchester United, seja Ten Hag ou Ruben Amorim o homem do leme — não pode produzir tão pouco. E que dizer de Rúben Dias e Renato Veiga? Ou de Rafael Leão e Pedro Neto? E Ronaldo, naqueles 90 minutos uma sombra do que já foi? É o momento deles e restantes companheiros não se esconderem atrás de Roberto Martínez...