'La celebración que nadie entendió'
Jornais espanhóis não perceberam razão da alegria (e raiva) brasileira após empate com La Roja. Mas era mais do que um particular
Lucas Paquetá bate entre o meio e o poste direito de Unai Simón, que cai para o outro lado, e empata o jogo entre Espanha e Brasil, no Bernabéu, a três golos, no último lance, na terça-feira. Imediatamente, o jogador do West Ham, abraçado a outros craques, corre para a multidão de mão na orelha, como quem diz, «fala lá agora!». Os suplentes, entretanto, atiraram-se para o cacho de jogadores para formar um cacho ainda maior em torno do epicentro Paquetá.
«Se o Brasil celebra como se fosse um Mundial, por alguma razão será», escreveu, entre o espanto e a ironia, o jornal Marca. «Vai dar que falar: a celebração que ninguém percebeu», acrescentou o diário As.
Há explicações para tanta euforia – ou raiva...
Em primeiro lugar, o jogo foi emocionante, o Brasil sofreu até mais do que se esperava, consentiu o 3-2, aos 87’, no segundo penálti discutível do jogo a favor dos anfitriões, e por isso aquele 3-3 no finzinho, como em qualquer outro jogo, a feijões ou não, saberia bem.
Além disso, os canarinhos estrearam nesta jornada dupla um novo selecionador, isto é, iniciaram o próximo ciclo, que se segue ao 2023 horribilis, com mais derrotas do que vitórias pela primeira vez em 60 anos, fim da invencibilidade caseira em jogos eliminatórios do Mundial aos pés da rival Argentina, dois treinadores em part time e um terceiro que deixou de o ser sem nunca o ter sido, Carlo Ancelotti, envolvido numa rábula da CBF só ao alcance dela. Não, o Brasil não poderia perder no batismo de Dorival.
Mas, claro, que havia também o 'efeito Vini Jr.« Nos últimos tempos, Espanha tem sido sinónimo de racismo aos olhos dos brasileiros – como se o Brasil pudesse dar lições a alguém na matéria – e uma derrota naquele território, mesmo no Bernabéu onde ele é endeusado, soaria a final infeliz.
Finalmente, sim, os particulares (ou amigáveis, embora amigáveis devam ser todos os jogos) são mesmo mais relevantes neste ponto do globo do que noutros. Veja-se a contabilidade de jogos e golos de Pelé, por exemplo, que tanta controvérsia gera entre o Brasil, que soma aberrações contra combinados ou seleções militares, e o resto do planeta.
E depois há a Europa! Fossem estes jogos com, digamos, Uruguai ou Colômbia, só para citar duas ótimas seleções da vizinhança, e ninguém se ralaria tanto com os resultados. Mas não, é perante o Velho Continente, sente-se por aqui, que a seleção brasileira tem sempre de fazer boa figura.
É por causa dessa auto imposta obrigação, aliás, que o Brasil tem mais mundiais, cinco, do que toda a gente, mas meros nove triunfos contra 15 de Argentina e Uruguai na Copa América, esse troféu, tido pelos brasileiros como de trazer por casa.
Aliás, avisem-nos que em junho começa mais uma porque por aqui ninguém ‘tá nem aí.