Já ouvíamos quem realmente joga
A aceitação do erro sempre foi para mim cultural
A arbitragem diz-me pouco. Raramente sei o nome de quem apita e esse nunca faz tocar nenhum sino na minha cabeça quando a questão é determinar se é bom ou mau, ou a sua escolha acertada para o nível de exigência. É verdade que, com o recente vazio geracional e a necessidade de queimar etapas, o desconhecimento tornou-se maior, mas confesso ter investido pouco tempo da minha carreira no tema. A aceitação do erro sempre foi para mim cultural e desinteressante a sua discussão, mesmo num país que o debate até à náusea. Tenho, contudo, de valorizar o impacto que tem na evolução do jogo.
Aprendi a adorar futebol nos maus estádios, com pelados e cal viva ou ralos relvados, camisolas enlameadas, heróis, anti-heróis e vilões, golos-fantasma e tremendas injustiças. Muitos dizem que hoje não existiria a Mão de Deus e acham-no bem, como se não tivesse sido pequeno preço a pagar pelo Golo do Século pouco depois. O futebol tornou-se lendário e desporto-rei em praticamente todo o lado. Uma das imagens da minha vida é a celebração de Tardelli na final de 1982, memória que hoje não teria se na altura houvesse um anticlímax VAR. O futebol não é perfeito, mas sempre foi mágico, também pelas suas imperfeições. Se o mudarmos muito, estragamos. Simple as that.
Percebo as queixas dos jogadores no decisivo golo francês, mesmo que a regra seja clara. Talvez seja altura de ouvir quem joga. Eric García não tem como saber se Mbappé está ou não fora de jogo, e a resposta não pode ser «azar». Ouço que a arbitragem caminha para que todas as mãos na área sejam falta e, quando torço o nariz, perguntam-me se quero só zeros-zeros ou muitos golos? Meus amigos, prefiro um bom 0-0 que um 5-5 idiota. Já me bastam os erros naturais dos jogadores, não os penalizem pelos que não cometem.