IFAB e encosto de cabeça
Jogadores estão sujeitos pressão, a contacto físico constante e a cansaço intenso, mas sabem disso
1O International Board (IFAB) publicou aquilo a que chama livro simplificado das leis de jogo. A ideia é muito feliz porque dá um passo rumo ao adepto e a todos aqueles que gostam de futebol mas que nem sempre entendem as suas premissas legais. A verdade é que a linguagem utilizada nos atuais manuais de regras pode ser demasiado técnica, não permitindo um entendimento acessível a todos. Não é suposto ser assim numa indústria como esta.
Há muito que se percebeu que as diferentes estruturas da arbitragem devem seguir este caminho, o da modernização na forma de comunicar. Há muito que se percebeu que devem ser mais proativas e didáticas, caminhando na direção de adeptos e agentes desportivos.
Hoje em dia não faltam meios (até próprios), ideias e pessoas capazes de tentar desmontar mitos que existem há décadas. Não faltam formas leves, originais e pedagógicas de passar ensinamentos e mostrar transparência de processos. O argumento de que nada acalmará o ambiente quando o ambiente está a ferver não pode nunca anular a tentativa de se chegar às pessoas, pelo menos às que conseguem ver para lá da espuma de um qualquer penálti duvidoso. Não pode haver dúvidas na dúvida entre fazer alguma coisa ou não fazer nada.
Quanto à iniciativa do IFAB - em formato online e, por enquanto, apenas disponível em inglês - é o exemplo perfeito de que com originalidade consegue fazer-se muito: as tradicionais dezassete leis de jogo foram substituídas por várias categorias e, dentro dessas, é possível selecionar o que se procura saber (questões relativas à marcação de penáltis, à aplicação da vantagem, ao número de substituições, à bola na mão, etc., etc.). Está lá tudo, com linguagem simples, grafismo claro e até respostas fáceis às dúvidas mais recorrentes. Mais palavras para quê?
2No V. Guimarães-P. Ferreira da última jornada, voltámos a ver uma imagem que, não sendo nova, não pode ganhar força no futebol português: a de um jogador emocionalmente alterado encostar a sua cabeça à do árbitro, de forma manifestamente ameaçadora. Sabemos que estes gestos são quase sempre instintivos, reativos e não definem o quilate humano e profissional do atleta, mas é fundamental que não esqueçamos que há centenas de milhares de jovens a ver jogos de futebol em Portugal. Muitos destes jogadores são as suas referências, os seus campeões, aqueles que querem ser quando forem grandes. Não lhes podemos passar exemplos como este, porque quando o fazemos estamos a dizer-lhes que não faz mal desrespeitar os árbitros e até cairmos em cima deles quando não concordamos com as suas decisões. Não queremos que estes meninos e meninas repliquem este tipo de gestos nos seus jogos ou nas suas escolas. Os profissionais da bola estão sujeitos a tremenda pressão, a contacto físico constante e a cansaço intenso, mas sabem disso. É fundamental que aprendam a gerir emoções nesse contexto difícil, mesmo que se sintam prejudicados, mesmo que tenham legitimidade na crítica técnica. É a tal linha proibida que Matheus Reis também ultrapassou no clássico com o FC Porto, não podendo nem devendo. É preciso calma, cabeça fria, serenidade e respeito. Sobretudo respeito. Esta é uma aprendizagem para todos. Para mim também, todos os dias.