Gyokeres e a crise de golos
Gyokeres, na imagem com Bah, ficou em branco nos últimos cinco jogos

Gyokeres e a crise de golos

OPINIÃO18.04.202408:15

Em branco nos últimos cinco jogos, ainda assim o avançado do Sporting contabiliza 36 golos (e 14 assistências) em 44 jogos oficiais

Victor Gyokeres tem sido uma figura em destaque no campeonato desde que chegou. Não teve problemas de adaptação ao jogo em Portugal. O jogador conta com 36 golos e 14 assistências na totalidade das competições, estando no topo da lista de melhores marcadores da primeira liga (posição que não quererá perder, mas que pode estar em risco). Apesar disso, Gyokeres enfrenta atualmente uma crise ou seca de golos com 5 jogos sem marcar e começamos a assistir e a perceber pelo seu comportamento em campo o aumento da frustração e a inquietação do jogador.

Por trás deste fenómeno, há uma complexidade psicológica que merece ser explorada. Muitas vezes os jogadores de forma errada resumem o seu sucesso e as suas prestações desportivas aos golos. E, quando esses indicadores de sucesso tardam a aparecer a ansiedade ganha espaço e torna-se central nesta equação. Quando um jogador entra em uma fase de seca de golos, é comum que a ansiedade se instale, gerando um ciclo negativo: a pressão para marcar aumenta, seja essa pressão interna do próprio jogar ou externa como adeptos, comunicação social, equipas técnicas (não parece ser este o caso), o que aumenta a ansiedade, afetando negativamente as decisões em campo.

A relação entre ansiedade e tomada de decisão no futebol é crucial. Em situações de alta pressão a capacidade de tomar decisões de forma rápida e precisa é fundamental. Um jogador de futebol demora entre 1 a 2 segundos para deliberar sobre a sua decisão, ou escolha de ação. No entanto, a ansiedade pode comprometer esta capacidade, levando a escolhas impulsivas ou hesitação excessiva. O cérebro humano é uma máquina complexa, e a ansiedade pode afetar áreas-chave envolvidas na tomada de decisão. Por exemplo, o córtex pré-frontal, responsável pelo raciocínio e planeamento, pode ser sobrecarregado pela ansiedade, diminuindo a capacidade de avaliar de forma rápida e eficiente as diferentes informações disponíveis, podendo conduzir a escolhas de ação menos eficazes que seria o habitual no mesmo jogador. Além disso, também a amígdala, região associada à resposta ao medo e à ansiedade, pode ficar hiperativa, aumentando a propensão para reações emocionais.

Os holofotes não estão hoje menos voltados para Gyokeres, adeptos e comunicação social interrogam-se sobre o regresso do jogador aos golos, colocando pressão extra à pressão interna sentida pelo atleta. Este ciclo negativo vai quebrar tão depressa quanto o jogador conseguir driblar as suas emoções e ansiedade em campo.