Guardiola e o seu antídoto

OPINIÃO31.05.202107:05

O City, mais do que um clube, é uma ideia de império, e Guardiola não é um mero técnico

G UARDIOLA é história. Não merece, pela disponibilidade inesgotável em tentar melhorar o jogo, aqui e ali com pedaços de inspiração patenteados, que reduzam a sua influência aos milhões gastos. Quando se procuram altos níveis de perfeição, são necessários jogadores mais rápidos, mais técnicos, mais eficazes, mais inteligentes. Enfim, mais completos e mais caros. São 940 milhões em contratações em Inglaterra (1,5 mil milhões na carreira), 188 milhões/época para só agora chegar à final da Champions. E perdê-la.
O Manchester City, mais do que um clube, é uma ideia de império, e Guardiola não é um mero técnico. Qualquer revolução precisa de tempo e num deserto árido como este era, as raízes demoram a pegar. Mesmo com tantos milhões como fertilizante e a conivência do fair-play financeiro da UEFA.
O espanhol não joga sozinho. Tuchel, tão ou mais perfecionista, pegou numa equipa feita por outros e moldou-a tanto à sua imagem que agora parece toda saída da sua cabeça. O tuchelball não é mais do que uma versão do juego de posición do amigo, capaz de empurrar o adversário em posse, mas também de atirar-se às suas costas com uma ferocidade e verticalidade transplantada do futebol alemão (Werner, Havertz e Pulisic). Tuchel tinha desde sempre os ingredientes para o antídoto de Guardiola. A mestria fez o resto.
No entanto, não se deixem enganar. Não ganhou o pobrezinho. Nos cinco anos de Guardiola, os três treinadores dos blues (Conte, Sarri e Lampard) investiram apenas menos €47 milhões, €178,7/época, e talvez porque tenham estado proibidos de contratar em dois mercados. Ganhou sim aquele que tem a visão mais global. Enquanto o Pep se defende mantendo a bola, Tuchel sabe perfeitamente onde tem de estar sem esta, recuperá-la e o que fazer logo depois.