Futebol à flor da relva

OPINIÃO03.10.202206:30

A culpa é da paragem para os jogos das seleções, da construção dos plantéis ou das opções dos treinadores? Ninguém o saberá

AS paragens para os jogos das diversas seleções são, como se sabe, um tiro no escuro: ninguém sabe muito bem o que acontece a seguir. O ideal, para os clubes, era não haver paragens, pois quem está a ganhar, quer continuar a fazê-lo; quem acabou de perder, quer retificar o mais depressa possível os resultados negativos. Olhemos para o Benfica. Vinha de importante triunfo na Liga dos Campeões (2-1 em casa da Juventus) e da mais volumosa vitória na Liga (5-0 ao Marítimo). Parecia navegar em águas bem tranquilas e de repente, no terreno do V. Guimarães, perdeu (merecidamente) os primeiros pontos da época, dizendo adeus ao possível recorde de vitórias a abrir uma época. Na sequência dos dois pontos perdidos, surgem, insolitamente, os primeiros sinais, embora tímidos, de que o plantel pode não ter sido tão bem construído como até agora se pensava. Ou que Roger Schmidt, afinal, sofre dos mesmos males de todos os treinadores e todos os profissionais de qualquer área: também erra.

PARECE, de facto, insólito que um plantel com quatro avançados de área (Gonçalo Ramos, Musa, Rodrigo Pinho e Henrique Araújo, embora este castigado) e com outros dois dispensados (Seferovic e Yaremchuk) tenha terminado o jogo com um defesa-central, que apenas dois minutos vestira a camisola das águias, a ponta de lança: John Brooks e os seus 193 centímetros de altura. Mais insólito é porque, ao contrário do Sporting e da opção de Rúben Amorim por Coates quando a racionalidade começa a transformar-se em desespero, o Benfica tem praticado, esta época, um futebol à flor da relva, como antigamente se escrevia e dizia. Claro que, mesmo sendo contranatura, os encarnados até poderiam vir a vencer em Guimarães, nos últimos minutinhos, com um golo de cabeça do internacional norte-americano. E aí, claro, a jogada de Roger Schmidt teria sido genial. Porém, se olharmos para FC Porto (Taremi, Evanilson e Toni Martínez), por exemplo, vemos três avançados puros  convocados para o jogo com SC Braga. Será o plantel encarnado que, afinal, tem pontos menos fortes ou Roger Schmidt que optou mal? Ninguém poderá dar, para já, resposta consistente. Até porque, vistas as coisas ao contrário, se o Benfica tem empatado em Guimarães, terminando o jogo com Musa e Gonçalo Ramos no onze, por exemplo, estaríamos agora, eventualmente, a criticar o alemão por não ter acabado os 90 minutos com Brooks a ponta de lança. É assim o futebol e a vida dos treinadores. Elogie-se, no entanto, a forma como Roger Schmidt comentou a primeira perda de pontos: sem arranjar bodes expiatórios fora da sua equipa.

JÁ FC Porto e Sporting aproveitaram a paragem no campeonato para regressar aos triunfos. Os dragões vinham de um empate (1-1) no terreno do Estoril e agora, através de exibição consistente e virtuosa, quase passaram o SC Braga a ferro: 4-1. E voltam a estar bem por dentro da luta pelo campeonato. Os leões, acabadinhos de perder no Bessa (1-2), receberam o Gil Vicente e, jogando bem, ganharam facilmente. Cortaram apenas dois pontos na diferença para o líder Benfica, mas receberam algum oxigénio para os 26 jogos que ainda faltam.

INDIVIDUALMENTE, para lá do óbvio (espantosa exibição do vimaranense Bamba, bem como do portista Taremi e do sportinguista Morita), é justo referir que António Silva começa cada vez mais a não ser um tiro no escuro. Claro que nove jogos na equipa principal significam ainda  pouco (Ferro é disso bom exemplo), mas a mês e meio do Mundial do Catar é justo dizer-se que, mantendo este rendimento, a interessantíssima surpresa chamada António Silva pode ser candidato a entrar nos 26.