Fortaleza Alvalade a fechar

OPINIÃO29.12.202105:55

Única equipa em todas as frentes, o Sporting despede-se de 2021 em casa, onde não perde em provas domésticas há 38 jogos e quase dois anos (!)

Ocampeão recebe o Portimonense em ambiente de festa. Último jogo de um ano fantástico para o clube, não só no futebol - um ror de conquistas notáveis em várias modalidades, inclusive europeias -, expectativa de uma grande casa (apesar dos números alarmantes da pandemia) com milhares de adeptos desejosos de verem a equipa fechar o ano com mais uma vitória - a acontecer, será a 16.ª consecutiva em competições domésticas (!) e a 42.ª em 2021, mais um recorde para a conta de Rúben Amorim, indiscutivelmente a figura desportiva do ano. A possibilidade de o Sporting terminar o ano isolado na liderança do campeonato (basta que o Benfica amanhã pontue no Dragão) também está em cima da mesa. Mas para isso é preciso vencer o Portimonense e a equipa de Paulo Sérgio não vai propriamente a Alvalade para abrilhantar a noite dos leões. O onze algarvio atravessa um bom momento - só registou uma derrota nos últimos sete jogos (com o FC Porto, como é hábito) - e pode fazer a vida negra ao campeão se este demorar a entrar no jogo.
A possível enchente em Alvalade lembra outro formidável registo corrente do Sporting, que conseguiu transformar aquele recinto na fortaleza futebolística mais inacessível do País. Os leões não perdem ali em competições domésticas há 38 jogos (32 vitórias e seis empates) e quase dois anos (!), um feito que costumávamos associar ao Dragão ou à Luz. O Benfica foi a última equipa a vencer em Alvalade, em janeiro de 2020. Rúben Amorim é o grande responsável por esta sequência (35 dos 38 jogos invictos aconteceram com ele no banco), embora seja também ele o treinador que encaixou as duas derrotas europeias (1-4 com o Linz; 1-5 com o Ajax) que impedem que a série esteja em 40 jogos. Se falar do Sporting hoje é falar de Adán, Coates, Pote, Sarabia, Palhinha, Matheus Nunes, Paulinho, Porro, Gonçalo Inácio, Nuno Santos, etc, etc, veja-se a diferença relativamente ao onze leonino que sofreu a última derrota caseira (0-2), imposta pelas águias de Bruno Lage na noite de 17 janeiro de 2020. Alinhou assim esse Sporting, orientado por Jorge Silas: Maximiano; Rystovski, Illori, Mathieu e Acuña; Doumbia, Wendel e Bruno Fernandes; Rafael Camacho, Bolasie e Luiz Phellyphe. Menos de dois anos volvidos, não resta nenhum dos onze titulares e, dos suplentes, só Luís Neto permance em Alvalade. Alguém disse revolução?   
Amorim é o senhor setenta e cinco por cento (45 vitórias e apenas três derrotas em 60 jogos de campeonato - percentagem de êxito: 75%; 60 vitórias e oito derrotas em 80 jogos oficiais com o Sporting - percentagem de êxito: 75%), mas Paulo Sérgio, que venceu Jesus na Luz (1-0) não quer saber dessa impressionante estatística para nada. Como quinze treinadores antes dele, Paulo Sérgio só está focado numa coisa: ser o primeiro nesta época a vencer o campeão. Será hoje?...
É essa a magia inigualável do futebol: se calhar é mesmo hoje!
Ou não!
 

Leão tem festejado muito em casa 


BENFICA: PROIBIDO PERDER 

DEPOIS do arraso futebolístico sofrido na Taça de Portugal e do rocambolesco psicodrama que originou a saída de Jesus, o Benfica arrisca um final de ano sombrio se o FC Porto voltar a confirmar a superioridade de que deu mostras nesse jogo - mesmo quando esteve reduzido a dez. Para não voltar a  ser atropelado, Nélson Veríssimo sabe que o Benfica tem de mostrar outra agressividade e outro espírito de luta. Caso contrário, vai sofrer muito. As contas são simples. Perdendo, o Benfica fica a sete pontos do rival nortenho e, se o Sporting ganhar hoje (o resultado mais provável), a sete do rival lisboeta. Seria o cabo dos trabalhos num campeonato tão desequilibrado como o nosso recuperar uma diferença destas não para um, mas para os dois rivais, ainda por cima estando ambos tão fortes. É do mais elementar bom senso não dar nada por garantido neste tipo de jogos; mas, mesmo esquecendo o amasso da Taça e a alarmante diferença de atitude, dinâmica e intensidade entre os dois (que já se tinha visto no dérbi da Luz com o Sporting), é evidente que o cenário não se apresenta auspicioso para Veríssimo. 
Primeiro, porque a equipa do FCP, mesmo sem Evanilson, parece  de facto mais forte, mais competitiva, mais intensa e melhor organizada que a do Benfica. Depois, porque os encarnados têm baixas importantes - Otamendi, Grimaldo e Darwin - e ninguém pode garantir que os substitutos (Morato?, Lazaro ou Gil Dias?, Yaremchuk ou Seferovic?) saberão estar à altura numa noite onde a própria candidatura benfiquista ao título está em jogo. Mas é bom que ninguém no Benfica aproveite as ausências para reforçar o discurso auto desculpabilizante do último ano e meio. Todos se lembram das baixas com que o Sporting foi à Luz e de que forma Rúben Amorim soube ultrapassá-las. Os adeptos do Benfica estão saturados de justificações e desculpas.
Não esqueço, por outro lado, que as melhores e mais surpreendentes atuações do Benfica nos clássicos mais recentes aconteceram no Estádio do Dragão (na Luz por norma tem sido uma desgraça…). Lembro o espetacular e justo triunfo de Bruno Lage (2-1) que projetou o Benfica para o título de 2019, e o próprio empate (1-1, lisonjeiro para Sérgio) que Jesus conseguiu na época passada com três centrais e uma inesperada jogatana - inesperada para quem vinha a render tão pouco. Confesso: mesmo contando com o efeito eventualmente positivo da chicotada (uma espécie de toque a reunir), tenho alguma dificuldade em imaginar um Benfica assim tão transfigurado relativamente ao jogo da Taça. Mas é um facto que Veríssimo, sem qualquer culpa na situação, tem de mudar qualquer coisa - já! -, sob pena de o cenário ficar muito carregado para ele próprio. Perder é proibido. 
Para Jorge Jesus, termina um período para esquecer. Lembrança positiva, só o apuramento para os oitavos de final da Champions. O que nasce PAOK dificilmente se endireita.
Nota final para Rui Costa, que se revelou indeciso e ausente neste primeiro grande teste à liderança. Tolerou uma novela inaceitável para a imagem do clube (foi com o seu aval que Jesus reuniu com o Fla!) e não se lhe ouviu uma declaração enérgica em todo este lamentável processo. A conferência de Imprensa final com Jesus a seu lado foi penosa para ambos e até o sound byte «não era este o desfecho que ambicionávamos» foi absolutamente infeliz: essa era frase muleta de Rui Vitória quando o Benfica perdia…