OPINIÃO Força Angola... Força Moçambique...
Vou cantar «Oh Pátria Amada Vamos Vencer» e «Angola Avante» na CAN de Marrocos... África não se escolhe... é-se escolhido. Eu sou o Jorge Pessoa e Silva e esta é a crónica semanal do Livro do Desassosssego onió
Se me perguntarem qual o trabalho que mais marcou a minha carreira de jornalista, terei de dizer o Europeu de França de 2016. Daqueles serviços que não se repetem e que deixam uma marca indelével no rol das grandes memórias. Mas se me perguntaram em qual trabalho me diverti mais, talvez tenha de dizer a Taça das Nações Africanas de 2013, vulgo CAN, na África do Sul.
África não permite ser cortejada. Ela é que marca o ritmo das apresentações. Ou gosta de nós e nos pisca o olho, ou não gosta e nos marca com as suas manifestações de fúria. Não há meio termo. Ou nos ama ou nos odeia e nós nem temos tempo nem espaço para racionalizar: ou amamos ou odiamos. E eu, felizmente, fui amado.
A África do Sul foi o país que mais me surpreendeu. O melhor da Europa e o melhor de África num único território. Na bilheteira da estação de comboios, o funcionário perguntou-me como estava antes que fizesse o meu pedido. E ficou mesmo à espera da resposta. Só depois aceitou o pedido de bilhete. As pessoas são de uma enorme amabilidade, fiquei também a saber que não devia mascar pastilha elástica no comboio e que davam muita importância ao facto dos sapatos teres de estar sempre irrepreensivelmente engraxados. E que era de bom tom perguntar sobre o estado de saúde de Nélson Mandela, na altura com 94 anos e a 11 meses de morrer.
Onde claramente me diverti foi com os adeptos, de tantos países, e a paixão que envolve cada jogo da CAN. Estava mais próximo da seleção de Angola, devido à edição A BOLA-ANGOLA, mas não deixava de estar atento a tudo... Tanta cor, tanto ritmo, tanto misticismo, tantas danças, tanta tradição. Fintas celebradas como golos, histeria em volta das maiores figuras do futebol africano. Debaixo de cada pedra saltava uma grande história. Vim de alma cheia.
Lembrei esta experiência uma vez mais durante o sorteio para a fase final da CAN de 2025, em Marrocos, que teve lugar terça-feira. Boa sorte aos meus queridos Palancas Negras, estarei sempre do vosso lado, juntando a minha voz aos que, de Cabinda ao Cunene, irão gritar «Angola Avante» como «Um Só Povo Uma Só Nação». Até A CAF já considera Angola como a seleção a ter em conta em 2025 e pode ser um outsider a vencer o CAN. Parabéns ao meu amigo Pedro Gonçalves - gente cinco estrelas, acreditem - que já é o selecionador de um país africano há mais tempo em funções. De facto, ter paciência a acreditar, dele e da Federação, compensa. Boa sorte também aos meus queridos Mambas, do meu querido Chiquinho Conde, moçambicano de gema, das pessoas mais gentis que conheci no futebol. Podem contar comigo. Sou mais um dos que, do Rovuma ao Maputo, cantarão de peito aberto «Milhões de Braços, Uma Só Força / Oh Pátria Amada, Vamos vencer».
Repito. Não escolhi gostar de África, com os PALOP no meu coração. África é que me escolheu e eu, comovido, disse sim.
Parabéns A BOLA
A Bola fez 80 anos ontem. E eu estou a fazer 30 anos de A BOLA. A minha primeira e única relação que é muito mais do que laboral. Marcada, acredito, por se ter iniciado a 14 de fevereiro, dia dos Namorados. Como em qualquer relação de amor, tem momentos bons e menos bons. Mas se dura é porque vale a pena. É porque preenche.
Tenho nas costas o peso dos grandes mestres de jornalismo. O peso do papel histórico de A BOLA, que ensinou muita gente a ler, que foi janela de um Portugal em ditadura para o Mundo, à boleia das equipas portuguesas; foi janela para que a imensa diáspora portuguesa continuasse a olhar para Portugal; janela para os PALOP. Sinto o peso de um espaço de liberdade que custou a intervenção musculada da censura e do regime.
Aceito o repto de novos tempos , das novas tecnologias, dos novos desafios. Sabendo que tudo pode mudar. Menos a paixão. Parabéns A BOLA.