E que tal sexo por objetivos?
Rafa Mir foi o mais recente caso a abalar o futebol espanhol, ao ser acusado de agressão sexual
Foto: IMAGO

OPINIÃO E que tal sexo por objetivos?

Em Espanha já se discute o contrato de «consentimento sexual» e as cláusulas sobre violação 'acidental'. E eu entro na discussão, num texto a atirar para o científico mas que falhou por manifesta falta de pontaria. Sou o Jorge Pessoa e Silva e esta é a crónica semanal do Livro do Desassossego...

A denúncia foi feita por Miguel Galan, presidente da Escola Espanhola para a Educação de Treinadores: diversos jogadores de futebol estão a recorrer a contratos de consentimento sexual para evitarem processos judiciais. O documento, de três páginas, exige que as partes se identifiquem e detalha ao pormenor as práticas sexuais que são permitidas e aceites pelos parceiros. A dar brado está a secção apelidada de violação acidental, considerando-se um «mero acidente» a «atividade sexual na qual possa acontecer um movimento rápido ou de julgamento prejudicado, onde passa ocorrer penetração em orifício não disponível por uma das partes do contrato». Não sei se as narinas ou os ouvidos entram na equação, mas desde já abro as hostilidades, já que, neste tipo de debates, mais do que a crítica ou o silêncio é a gargalhada a melhor arma.

O que me surpreende neste caso não é a parvoíce do homem (se por algum motivo extraordinário este texto for escolhido para integrar algum manual de português, desde já aviso os alunos que usei dois eufemismos: «parvoíce» e… «homem»). Em matéria de sexo, muitos homens ainda não chegaram a Homo Sapiens. O que me choca mesmo é haver mulheres que assinam, pedras preciosas que aceitam ser pechisbeque nas mãos de quem não distingue um diamante de um calhau. E também me surpreende que haja quem tenha de preencher um formulário, discutir todos os pormenores do ato sexual, ler as chamadas letras pequeninas do contrato, assinar e, depois desta canseira, ainda tenha vontade… E seria útil contratar um advogado para estar no quarto a aferir da correta aplicação das cláusulas.

E já que é para o disparate – insisto no eufemismo – por que não um contrato sexual por objetivos? Sempre se premiava o desempenho. E se a parceira já for comprometida, seria de bom tom discutir um contrato de empréstimo. Com ou sem opção de compra... Ou pagar a cláusula de rescisão…

Se fosse mulher, só assinava com a seguinte cláusula: «Considera-se um mero acidente a atividade sexual na qual pode acontecer um movimento rápido de uma mão que se cola com violência numa das faces do primeiro outorgante, ficando o autor do gesto isento do pagamento dos implantes dentários que forem necessários colocar».

Aos homens que têm tanto medo de errar no «orifício» - citei o contrato - mais uma aula de português: na cama, a palavra «não», por absurdo que possa parecer, quer dizer… NÃO. E aconselho uma experiência radical, que pode até custar a entender, mas vale a pena tentar: não é obrigatório ir para a cama com alguém que acabámos de conhecer; convidar para um jantar, conversar, ser cortês, oferecer presentes e deixar a relação acontecer naturalmente é muito mais seguro e recompensador. Último conselho: é de macho assumir-se as consequências dos atos; é de Homem evitar que isso aconteça.

Conservador? Sou, sim. Não no sentido de ser retrógrado ou avesso à mudança. Um conservador, no verdadeiro sentido, é alguém que conserva práticas ou valores que provaram dar resultado ao longo dos tempos. O respeito pelo outro e por si próprio está no topo. E para isso não é preciso contrato.