FIFA-UEFA: confronto de gigantes!
«O futebol jogado tem de ser sempre o mais importante e com regras uniformes, em todo o planeta
Gianni Infantino defende a realização de Campeonatos da Europa bienais. A FIFA pretende impor os Mundiais bienais e assim forçar a UEFA a fazer o mesmo. Haverá gato escondido com rabo de fora? O presidente da FIFA continua com a irreverência e originalidade habitual. Por vezes esquece-se da essência do futebol. Mundiais bienais a tentarem pressionar organização de Europeus bienais. Os campeonatos nacionais serão disputados quando houver tempo livre?
Considerar que Mundiais bienais defendem os clubes e as ligas nacionais, só por ficção. Procurar obter lucros é natural, esperar milagres contínuos é realidade virtual. A FIFA tem o apoio de 165 federações para construir um sonho (que se pode transformar em pesadelo) cuja previsão é de 180 mil milhões de euros como eventual solução para aproximar os grandes dos pequenos em todo o planeta. Ainda falta a discussão e aprovação dessas alterações, às quais se pretendem juntar soluções para evitar sobrecarga competitiva dos jogadores e ainda a pertinente questão de maior aproveitamento do tempo útil de jogo. O modelo inglês de criar grupos de avaliação do desempenho dos árbitros, com equipas que integram ex-árbitros, ex-jogadores e ex-treinadores que analisam todos os jogos da Premier League e para os quais podem apresentar correções (cartões indevidamente mostrados são anulados posteriormente), para além de apoio técnico e científico aos árbitros, é decisão inteligente. Não basta aumentar salários de árbitros profissionais e utilização de tecnologia: é importante formar árbitros com forte personalidade, imparcialidade e capacidade de decisão, com excelente condição física e comportamental. O próximo congresso da FIFA terá agenda decisiva (a ser votada em março de 2022). Lutas de poder contraditórias não permitem uma análise rigorosa para alterações indispensáveis. Colocar em terrenos opostos FIFA, UEFA e outras Confederações revela a incapacidade de entender o futebol, para além do enorme negócio que se sobrepõe ao jogo. O futebol jogado tem de ser sempre o mais importante e com regras uniformes, em todo o planeta. O futebol e os seus ídolos imortais vão permanecer no tempo. Os que preferem criar tantas alterações serão justamente esquecidos, como já foram os antecessores.
Entretanto, o presidente da FIFA mudou-se (com a família) para Doha, no Catar, onde vai decorrer o próximo e polémico Mundial, continuando a pagar impostos na Suíça. À comunicação social terá justificado a mudança de residência como necessidade para a organização desse Mundial de futebol, por considerar que se trata de projeto excecional, com importância decisiva, quer para o futebol, quer para a FIFA e o país organizador. Infantino considera que «os maiores esforços valem a pena para um Mundial que ficará na história da região e da própria FIFA», para o bem e para o mal. Porém, só depois de 18 de dezembro de 2022, no encerramento da competição (com início a 21 de novembro), se poderá comparar o sonho com a realidade. A interrupção das competições nacionais e internacionais da Europa (a adaptação aos horários), e não só, vai criar um paradigma que somente no final poderá analisar as inevitáveis consequências: sucesso ou retrocesso? Os preços dos bilhetes desse Mundial do Catar aprofundam a elitização económica, atingindo valores máximos (46% mais elevados do que o anterior Mundial), transformando o jogo numa grande contradição: mas o futebol será sempre um espaço de criatividade e de liberdade como destino. Depois de alterações que pretendiam controlar o próprio jogo, ele surpreenderá pela ousadia, pelo talento impossível de limitar e pelos ajustes que as competições vão sofrer e que vão deixar marcas para uma profunda reflexão e responsabilização.
Gianni Infantino, presidente da FIFA, quer Mundiais de dois em dois anos
THE BEST/FIFA: A OUTRA VERSÃO
A gala televisiva mundial enferma de erro conceptual: o futebol é jogo de equipa, nunca individual. Por mais talentosos que sejam os craques mediáticos, sem a colaboração dos companheiros de clube nunca atingiriam níveis tão elevados nas suas funções. Os títulos são coletivos e as distinções individuais, por isso são os colegas os melhores juízes que sabem valorizar quem merece o destaque pela entrega, competência e solidariedade, para lutar pelo triunfo da sua equipa. Há carregadores de piano que criam condições para conquistar títulos e que permitem destaques que são construídos pela sua ação, algumas vezes sem se entender a sua dimensão. No FC Porto é essa a mística que não distingue mas assimila todos a darem sempre o máximo. No último jogo no Jamor, após a substituição de Luis Díaz, que se sentou no banco após ser substituído, Toni Martínez, que não entrou em jogo desta vez, colocou-lhe o casaco pelos ombros, sem ele notar, para não arrefecer e para o apoiar pela grande penalidade não conseguida. Quem reparou nesse pormenor conhece o valor de uma equipa, uma liderança, um modelo, que é muito mais importante do que os troféus que o senhor Infantino e outros semelhantes tentam transformar em palcos que os coloquem no centro do mundo, confundindo-se com o título da gala, mas esquecendo outros valores que desconhecem. Martínez, mesmo não jogando nessa partida, foi um dos melhores no estádio ao conservar o espírito da equipa.
DESTAQUESDA JORNADA
O Braga, num jogo muito disputado, surpreendeu vencendo em Alvalade o Sporting. O Vizela foi triunfar a Tondela, mantendo a sua coerência competitiva. O Santa Clara arrancou vitória em casa do Moreirense, subindo posições na classificação. O Vitória de Guimarães triunfou com naturalidade sobre o Estoril. O FC Porto venceu o Famalicão e adiantou-se na tabela classificativa. Gil Vicente a assegurar lugar europeu.
VIVEMOS EM DEMOCRACIA
A Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) dá a impressão de uma entidade com vocação judicial, para levar para o universo da justiça qualquer crítica menos favorável ou opinião de erros de arbitragem como se fosse um ataque à justiça e aos árbitros. Em qualquer país democrático as críticas, inclusivamente aos governos, são expressão de liberdade que, se ultrapassarem regras essenciais, poderão merecer sanção judicial. Transformar a APAF numa entidade de caça à divergência é algo parecido com fundamentalismo exacerbado. E se o Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol ou a Associação Nacional de Treinadores de Futebol também começarem a pedir suspensões dos árbitros que tenham prejudicado qualquer um desses intervenientes no futebol, o caos torna-se irreversível. Manter o equilíbrio emocional, defender quem for injustamente prejudicado, mas sem pressões inaceitáveis e constantes como se estivéssemos em guerra aberta no futebol. Todos têm a sua missão a cumprir e se houver a transparência e colaboração tranquila poderemos avançar para um futebol mais prestigiado e com maior qualidade. Árbitros não são donos da verdade absoluta, nem podem ser agentes de pressão contra quem tem opinião diferente. Vivemos em democracia!
REMATE FINAL
Fábio Vieira em discurso direto: «Comecei a jogar futebol no Argoncilhe, com cinco anos, aos sete fui fazer um torneio pelo Feirense, o ‘Mundialito’ no Algarve e depois é que se começou a complicar um bocadinho. Dei nas vistas nesse torneio e dois clubes de Portugal contactaram o meu pai para saber a disponibilidade. A verdade é que ia para um deles, até chegar o FC Porto. Não tive a mínima dúvida de que teria de ser o FC Porto, porque era o clube de que gostava desde pequenino. Lembro-me que o meu pai estava para receber a chamada de um dirigente de um clube, a perguntar se já tinha decidido - queria apressar as coisas. Colocou o telemóvel em cima do frigorífico para eu não poder mexer nele. Disse-me que, caso o telemóvel tocasse, para não atender, porque seria importante. Quando ele foi guardar o carro o telemóvel tocou e decidi atender. Era o dirigente desse clube a dizer: «Então Fábio, já decidiste se queres vir para cá?» Lembro-me que a minha resposta foi: ‘Não, não. Já vou para o FC Porto.’ Desliguei o telemóvel e ficou resolvido ali.» Jovem atleta do FC Porto, eleito o Melhor do Europeu Sub-21 de 2021, Fábio Vieira, jogador de elevada capacidade, formado no Dragão, possuidor de remate forte e muito colocado, marca golos e faz passes longos que rasgam defesas adversárias e criam espaços para finalizar. Que nunca se relaxe e se aplique sempre ao máximo.