‘Festa’ no Porto e na Guarda

OPINIÃO01.06.202107:00

Quando a prevenção falha, a melhor lição vem sempre da punição

Tento nunca dar para o peditório do aproveitamento político que sempre acontece quando algo não corre bem. Deixo isso para quem tem talento natural para apontar o dedo à casa do vizinho do lado, como se a sua estivesse sempre bem arrumadinha. Admiro a distinta lata e hipocrisia. A sério que admiro.
No entanto, é inevitável uma referência rápida ao que aconteceu em torno da final da Champions, disputada no Porto no passado sábado. Conclusões factuais:
- Em Portugal não é permitido haver público nas bancadas em eventos desportivos, mas foi permitido haver público nas bancadas de um evento desportivo. Porquê? Em termos de controlo da pandemia (o argumento para o impedimento), qual a diferença?
- Em Portugal, qualquer aglomerado de pessoas deve obedecer (e bem) às regras sanitárias em vigor. Mas o mesmo país que o restringe permitiu, no passado fim de semana (como permitira no anterior) o ajuntamento de milhares de pessoas que claramente não obedeceram a essas regras. Porquê? Em termos de controlo da pandemia (o argumento para o impedimento), qual a diferença?
- Em Portugal, os pais dos meninos(as) que fazem desporto de formação não podem assistir aos jogos/competições dos seus filhos, apesar de lhes darem boleia para os estádios/pavilhões e esperarem por eles no carro. Seriam duas ou três dezenas, no máximo. Em Portugal, adeptos que não têm filhos na formação puderam assistir, aos milhares e ao vivo, a uma final europeia. Porquê? Em termos de controlo de pandemia (o argumento para o impedimento), qual a diferença?
Há mesmo qualquer coisa que não bate certo aqui.
Não duvido da boa vontade de quem tem que tomar decisões difíceis em momentos desafiantes. Imagino que não seja fácil. Mas alguém tem que perceber, de uma vez por todas, que a incoerência de tudo isto é gritante e chocante. É quase ridícula!
Porque é que alguns eventos, em locais fechados, podem ter público e outros eventos, ao ar livre, não podem? Porquê? Qual é o critério, qual é a razão? Qual é a lógica? A proibição de todos percebia-se. A autorização (controlada) de todos também. Isto ninguém percebe.
Estamos a tempo de emendar ou, pelo menos, tentar uniformizar, padronizar. Fazer com que todos entendam. Convém não esquecer que a saúde emocional, psicológica e financeira de pessoas (e instituições) também é importante. 

Durante um jogo a contar para o Campeonato Distrital de Seniores da AF Guarda, um jogador do ACD Vila Franca de Naves correu atrás do árbitro Cláudio Durães, acabando por agredi-lo a soco. Isso apesar da tentativa, em vão, de vários colegas e adversários em travá-lo. Há um vídeo a circular que registou todo o momento. Tenho algum receio que o regresso das competições regionais faça emergir o fantasma das agressões a agentes desportivos (também mas não só a árbitros). O jogo em causa não tinha policiamento, o que apesar de todas as justificações dadas e repetidas, não me convence. Na escala de valores, o da segurança dos intervenientes tem que ser o mais importante de todos.
Espero que o CD da AF Guarda seja célere e absolutamente exemplar na punição desportiva do agressor. Se não o fizer, estará a convidar à reincidência. A dele e a de qualquer outro herói de circunstância. Espero também que o jovem árbitro não se coíba de formalizar queixa junto das autoridades, porque no desporto não pode haver lugar a quem não respeita as decisões de quem está legitimado para as tomar.
Quando a prevenção falha, a melhor lição vem sempre da punição.
Tenho saudades do tempo em que os jogos só começavam quando havia pelo menos um agente de autoridade no estádio. Todos o viam e todos controlavam-se mais. Era dissuasora, a presença da farda.
Será assim tão inexequível?