FC Porto, Anselmi e o Cruz Azul: um modo de fazer as coisas

OPINIÃO25.01.202509:01

Dragões esperam novo treinador sob ameaça legal dos mexicanos. A fotografia não é nítida, mas para já não parece boa

Martín Anselmi ainda não fez um único jogo pelo FC Porto e já é o tema mais controverso do momento. O nome do treinador argentino foi uma absoluta surpresa, mas não há quem falte no Dragão com conhecimento técnico para tomar a mais importante decisão na gestão desportiva de um clube português: contratar o treinador de futebol.

Em Portugal, essas decisões são demasiadas vezes coladas aos presidentes dos clubes e SAD que, devido à cultura vigente, têm de mostrar demasiadas vezes que têm conhecimento futebolístico quando, na verdade, não precisam de o ter.

Tê-lo é um bónus na gestão, mas para as decisões desportivas está, ou deveria estar, o diretor-desportivo ou o diretor de futebol. Assim, as administrações são demasias vezes julgadas pelo pontapé na bola, em vez do plano e execução estratégica a que se propuseram quando se candidataram. Está-se sempre refém de a bola entrar ou bater no poste e sair.

Talvez os presidentes se poupassem a alguns assobios, se deixassem que os diretores-desportivos fossem vistos como os responsáveis, e responsabilizados por tal, da contratação de um técnico. Mas como a cultura existente é de colher o máximo de frutos e louvores quando as coisas correm bem - sem se perceber que tal pode suceder na mesma, apenas e só apontando que a estrutura montada e a escolha de tal diretor desportivo foi certeira –  ninguém quer perder a oportunidade de aparecer bem na fotografia.

E para já, a fotografia não está muito nítida no Dragão. Já depois de Villas-Boas ter falado da negociação com o clube mexicano, o Cruz Azul afirmou que vai agir legalmente contra o FC Porto que, no meio da polémica e ainda sem haver um esclarecimento portista à posição do emblema norte-americano, parece apostar tanto no argentino que estará disposto a arriscar sofrer as consequências que dali possam vir.

Pode dizer-se que é apenas uma maneira para um fim, um modo de fazer as coisas. Haverá quem o aceite, desde que aceite também que lhe pode acontecer o mesmo, porque nesta história a imagem que está a prevalecer é a de que há também um treinador que não ligou a meios para deixar um clube e assinar por outro. Não é, à partida e, insisto, à falta de uma resposta, um bom indicador de perfil. Embora, como todos saibamos, esta leitura e sentença será genericamente aceite sabendo se a bola entra ou não. No fundo, no fundo, quando se fizer luz sobre esta história, Villas-Boas devia responsabilizar a direção do futebol e desportiva pela escolha do treinador, e, para bem ou para o mal, ser ele próprio responsabilizado pelo modo de fazer as coisas.