Expectativas

OPINIÃO27.08.202107:05

Sorteio da Champions, o bravíssimo Benfica de Eindhoven e a saida de Luca Waldschmidt

NÃO sei o que verdadeiramente pensam os responsáveis das três grandes equipas portuguesas que vão estar, felizmente, na fase de grupos da Liga dos Campeões. Mas na minha perspetiva de adepto lusitano e apaixonado pelo futebol como sou, julgo que é melhor para os nossos três grandes terem de defrontar os chamados «grandes tubarões» da Europa, do que medirem forças com adversários de nível teoricamente semelhante ou, até, inferior, não apenas por causa das malditas expectativas, mas, e talvez sobretudo, pela importância que costuma ter o indispensável foco.
Por muito que se afirme o contrário, creio que nunca será igual o foco de um jogador perante o Barcelona em Camp Nou ou a Atalanta em Bérgamo. E bem sabemos como tantas vezes é bem pior jogar em Bérgamo do que em Camp Nou, no sentido em que o peso da responsabilidade se faz notar mais diante de equipas como Atalanta ou Brugge ou Lille ou mesmo Malmo ou Young Boys, do que Barcelona, City, Liverpool ou Dortmund, perante os quais o nível de expectativa dos portugueses tem, forçosamente, de ser muito inferior. Entende o leitor?
Por isso, se me fiz compreender, julgo ser melhor para as equipas portuguesas competir com os mais fortes dos mais fortes. Não se deu o FC Porto bem melhor com Manchester City, Juventus ou Chelsea do que com o Krasnodar? Não costuma dar-se melhor também o Benfica com adversários mais fortes? Não foi surpreendido, há um ano, pelo PAOK, e não foi agora bem mais seguro, competitivo e focado com o PSV?
Sim, é verdade que pelo histórico (e pela fibra, pelo caráter, pela dimensão europeia que mostra, há tantos anos, na Champions) nos parecerá o FC Porto, apesar de tudo, mais capaz de discutir a passagem aos oitavos de final no grupo com Atl. Madrid, Liverpool e Milan, do que um ainda menos consolidado Benfica num grupo com Bayern (na minha opinião, uma das quatro melhores equipas europeias do momento) e Barcelona, mais o sempre complicado Dínamo de Kiev e a sempre dura deslocação à Ucrânia.
Em todo o caso, FC Porto e Benfica podem apostar não ter a chamada responsabilidade de seguir em frente, porque, a bem do sentido da realidade, não é ao FC Porto ou ao Benfica que os adeptos o podem exigir: o que sabem FC Porto e Benfica (mais o FC Porto do que o Benfica, repito) é que têm condições para surpreender a Europa. Claro que têm!
Já o Sporting, que está de volta a esta grande competição quatro anos depois (último jogo que fez na fase de grupos foi em dezembro de 2017), recordará que nas últimas três edições em que competiu (com jogos nos anos de 2014, 2016 e 2017) esteve frente a frente com equipas como Barcelona, Real Madrid, Juventus, Borussia Dortmund e nunca envergonhou os seus adeptos, pelo contrário. Nos últimos 18 jogos nesta competição, talvez os únicos maus resultados dos leões tenham sido mesmo com adversários menores, como Légia de Varsóvia (derrota na Polónia, em dezembro de 2016) ou Maribor (empate na Eslovénia, em setembro de 2014).
De resto, mesmo perdendo, brilhou nos grandes palcos. Porquê? Porque sendo a responsabilidade menor, o foco ter-se-á tornado mais intenso. É uma visão pessoal e serve para todos os três grandes.
O Sporting, em oito presenças, só por uma vez passou a fase de grupos da Liga dos Campeões. Foi em 2008/2009 e acabou com aquela negativa eliminatória com o Bayern (concluída com um agregado de 12-1). Não ter passado a fase de grupos mais nenhuma vez pode parecer um handicap para o leão, mas deve, creio, ser visto também como uma renovada motivação.
Está o leão, objetivamente, no mais equilibrado dos grupos das equipas portuguesas. Mas esse equilíbrio pode revelar-se também obstáculo maior: lá está, por causa da expectativa que se cria (e parece-me que pode criar-se já a expectativa de se ver o Sporting nos oitavos) e pela forma como os adeptos olham para Dortmund, Ajax, Besiktas como adversários ao alcance, e quando assim é eventual insucesso pode sempre, se é que me entendem, provocar maior frustração e ter, porventura, piores consequências para a própria equipa.
É bom, porém, que compreendam já os adeptos que não está, nem de perto nem de longe, o Sporting «obrigado» (com ou sem aspas) a chegar aos oitavos de final, mesmo admitindo que se baterá, certamente, em teoria, sobretudo, com Ajax e Besiktas, pelo segundo lugar do grupo. É preciso não esquecer que ainda há dois anos o Ajax foi semifinalista da competição.
Em rigor, nenhuma equipa portuguesa tem, aliás, obrigação de chegar aos oitavos. Mas devem as equipas portuguesas transformar essa ausência de responsabilidade numa maior ambição. O que vier a mais do que um lugar na Liga Europa (como o FC Porto nos tem, há anos, habituado) será fantástico para o futebol português, num tempo em que uma histórica pandemia trouxe ao futebol um cenário de crise como talvez não se visse, em muitos casos, e por outros motivos, desde os primeiros anos da década de 80.
 

COMO observadores e analistas, podemos, e devemos, naturalmente, dar o devido destaque à extraordinária passagem do Benfica à fase de grupos da Champions, sem esquecer, talvez antes de tudo, a bravura, o espírito de luta, a coragem e determinação coletiva, com que a equipa defendeu em Eindhoven a preciosa vantagem que levava da Luz. Julgo que não são necessários muitos adjetivos para qualificar o comportamento das águias no campo do PSV depois de se terem visto a jogar com 10 (Lucas Veríssimo a acusar, claramente, a inexperiência nestas andanças). Talvez tenha até sido um mal que veio por bem para a equipa, ainda não totalmente consolidada, de Jorge Jesus, que assim pôde jogar muito mais com o coração e com a união do que com a cabeça e a inspiração.
Depois do que sucedeu, se  o Benfica e Jorge Jesus não ganharam uma equipa, então não sei como vão ganhá-la. Em Eindhoven, morreram claramente todos os jogadores uns pelos outros e é isso que se pede a qualquer equipa, sobretudo quando a dimensão dessa equipa (como é o caso) não é ainda a que pode vir a ser.
Não faltaram jogadores em destaque (Otamendi, Grimaldo, Weigl, mas outros que também deixaram o coração em campo, e estou a lembrar-me de Rafa ou João Mário, por exemplo), mas ao contrário da maioria, percebendo o lado controverso da ideia, julgo que Vlachodimos fez, sim, uma boa exibição, sem precisar, porém, de fazer uma grande exibição - pessoalmente, entre algumas bolas, violentas, mas à figura, contabilizei uma ou duas intervenções realmente mais exigentes, que Vlachodimos resolveu com categoria. Creio, por fim, e os últimos são, neste caso, os primeiros, que devemos reconhecer como este PSV-Benfica foi, sobretudo, um jogo de treinador e como esse jogo de treinador foi tão bem e tão claramente ganho por Jorge Jesus!
 

POR muito que se esforce, creio que nunca será fácil ao Benfica explicar a decisão de vender o alemão Luca Waldschmidt por 12 milhões de euros. Seja qual for a raiz do problema ou o ponto de vista escolhido, a verdade é esta: como explicar a venda de um internacional alemão, de 25 anos, um ano apenas após contratá-lo, por menos três milhões de euros do que custou?
Luca Waldschmidt queria voltar ao futebol alemão? Ok! Mas se ainda por cima era também Luca Waldschimdt que queria sair, não devia o Benfica ter colocado a fasquia, no mínimo, no mesmo valor de custo, como fez com Pedrinho, ou até, há mais tempo, com o espanhol, Raúl de Tomás?
Waldschmidt foi contratado há um ano; é internacional alemão; tem 25 anos; não estava propriamente posto de parte na Luz, e além de jogar com frequência, mostrou sempre ser o chamado jogador com golo. Insisto: por que foi então vendido mais barato do que custou?
É naturalmente mais compreensível sucederem-se negócios destes com jogadores que circunstancialmente interessam menos aos clubes. Se o Benfica vier eventualmente a fazê-lo com Gabriel, ninguém deixará de o entender.
Mas Luca Waldschmidt, que se saiba, era um valor acrescentado no plantel encarnado. Não se sentia bem? Estava inadaptado? Queria, por isso, deixar a Luz?
Pois bem, tudo isso é compreensível desde que à Luz dos interesses do Benfica e não parece que os interesses do Benfica tenham sido bem defendidos neste negócio, a não ser que as dificuldades (e imediatas exigências) financeiras tenham empurrado a SAD para um negócio que não queria fazer, ou, no mínimo, que não quereria ter feito como fez. É estranho, mas possível.
Se assim foi, é uma pena. Não apenas porque Luca Waldschmidt confirmou na Luz, apesar de todos os insucessos, ser um jogador realmente diferenciado, mas também porque, apesar da pandemia, qualquer internacional alemão, ainda por cima com 25 anos como tem Waldschmidt, valerá sempre mais do que o Wolfsburgo acaba, agora, de pagar pelo internacional alemão que veio buscar ao Benfica.
Veremos se a águia não se vai arrepender do que fez!

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